Conhecer o passado é sempre importante para construir o futuro e de acordo com o que ontem foi anunciado, para o Sporting, o futuro vem aí.
A apresentação de André Bernardo fez-me lembrar de situações que o Sporting já passou e nem vou falar da construção do Estádio José Alvalade na década de 50 do século passado, que descambou numa crise financeira, resultante em grande parte da dívida na altura contraída, pois nesse tempo nem era nascido e não conheço todos os contornos da situação.
Vou pois referir-me apenas a dois episódios que vivenciei: Eu ainda era uma criança quando João Rocha chegou ao Sporting com a aura de salvador do Clube. O projeto dele passava pela Sociedade de Construções e Planeamento, uma sociedade de quotas que visava um empreendimento imobiliário a construir nos terrenos do Sporting, que supostamente iria resolver o problema duma exploração da atividade desportiva do Clube cronicamente deficitária.
Veio o 25 de Abril e o projeto foi por água abaixo. Rocha ainda conseguiu construir alguma coisa, mas quando saiu deixou o Sporting pior do que estava quando entrou. Nessa altura eu já tinha 22 anos, e tal como a esmagadora maioria dos Sportinguistas, sempre olhara para João Rocha como o nosso Presidente, o homem que lutava pelo Clube, embora perdesse mais vezes do que aquelas que ganhava e não era só dentro do campo.
Nunca ninguém vai saber o que teria acontecido se João Rocha tivesse podido concretizar aquele projeto que entusiasmou os Sportinguistas, ao ponto de terem acreditado tantos anos nele.
Quase 9 anos depois, em 1995, os Sportinguistas voltaram a receber com entusiasmo outro projeto, que tinha algumas coisas em comum com o anterior, nomeadamente o nome de José Roquete, e que passava pela construção de um estádio que se ia pagar a si próprio e ser uma fonte de receitas para a atividade desportiva do Clube, graças aos empreendimentos construídos à sua volta, que também comtemplavam a famosa Cidade Desportiva, que depois se transformou na Academia e a constituição de uma SAD. A ideia era boa e a obra foi feita e está aí, mas deixou uma dívida monstruosa porque assentava em alguns pressupostos errados e porque a sua execução foi delegada em quem não esteve à altura de tamanho desafio.
Tudo isto para dizer que apesar de ter gostado muito daquilo que ouvi e vi ontem, sei que todo aquele investimento implica mais endividamento, com riscos acrescidos pelo facto do sucesso do projeto estar muito dependente da bola continuar a entrar na baliza.
Também sei que sempre que o Sporting levanta a cabeça, as forças do além entram em pânico e movimentam-se traiçoeiramente. É só esperar que o fogo se apague para que o perdão da dívida volte a ser o assunto da atualidade. Isto sem esquecer os grupinhos com agenda própria que sempre existiram no Sporting. Não tarda nada estão a queixar-se que este Sporting é só para as elites. Querem comer lagosta e pagar o preço do prato do dia.
No entanto, apesar de todas estas cautelas, não posso deixar de estar satisfeito pelo facto do Clube estar condições de avançar com toda esta ambição rumo ao futuro, algo que era impensável há seis anos atrás, quando todos vaticinavam que tão cedo o Sporting não poderia competir com os seus dois grandes rivais e mesmo com Braga não seria fácil.
Nessa altura José Maria Ricciardi chegou a afirmar que a Direção eleita era formada por gente inexperiente e incapaz de resolver a difícil situação financeira do Grupo Sporting. Pois parece que os rapazes não só o conseguiram, como até vão reparar alguns disparates patrocinados pelo referido banqueiro, como a venda de património.
As notícias são boas, até porque o principal mérito de Frederico Varandas ao longo destes seis anos tem sido o de escolher pessoas competentes para os lugares chave da organização, de tal forma que ele arrisca-se a ficar na história como o Presidente que recolocou o Sporting numa posição de liderança no desporto português, depois de há mais de 60 anos termos sido ultrapassados pelo Benfica e 20 anos depois pelo FC Porto.
Espero portanto que eles sejam capazes de concretizar o plano estratégico que ontem anunciaram, que passa por grandes investimentos no estádio, para melhorar a experiência do adepto no dia de jogo, o que também significa que será mais caro ir à bola, pela recompra da Alvalaxia, o que também vai obrigar a arranjar uma solução para dinamizar aquele espaço, mas que permitirá ter finalmente um museu com porta aberta para o público, pela ambiciosa meta de dobrar receitas, só possível se acompanhada de sucesso desportivo e pela entrada de um investidor de referência que esteja alinhado com a estratégia delineada, embora com uma posição minoritária, o que não é fácil de arranjar, principalmente se esse dinheiro vier, como se exige, de origens impolutas. Tudo isto sem nunca abdicar da nossa matriz identitária e diferenciada.
Assim seja, para que os netos que eu espero vir a ter, possam viver um Sporting melhor do que aquele que eu vivo intensamente e muitas vezes com algum sofrimento, há tantos anos.
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