As primeiras divergências

José Alvalade era um entusiasta do movimento olímpico que no início do século XX dava os seus primeiros passos e assim no final do Verão de 1911 concedeu uma entrevista ao jornal "Os Sports Ilustrados", onde informava que o seu avô tinha adquirido um vastíssimo terreno ao lado do que já possuía, onde planeava construir um campo de futebol com as dimensões máximas, rodeado por uma pista de corridas, um velódromo e bancadas de pedra, isto para além de estar projetada uma nova sede e de se prever o alargamento das instalações com uma pista para hipismo, um stand de tiro e um golf, um projeto de tal envergadura que a imprensa da época afirmava que essa obra dotaria o Sporting Clube de Portugal de condições só comparáveis às dos grandes estádios europeus.

A obra avançou ao mesmo tempo que iam entrando mais sócios no Clube, o que também significou o aparecimento novas correntes de opinião, sendo que uma delas liderada por Queirós dos Santos, considerava excessiva a influência de José Alvalade na vida do Sporting.

As divergências acentuaram-se quando no final de 1912 José Alvalade ordenou o desmantelamento de uma estrutura de madeira da tribuna do Sítio das Mouras, para usar nas obras do novo estádio. Foi o pretexto que faltava para o ataque ao poder e pouco tempo depois tomaram posse novos corpos gerentes do Sporting, que pela primeira vez não contavam com o fundador do Clube e onde Queirós dos Santos aparecia como vice presidente da Direção.


Sem José Alvalade o Sporting seguiu em frente e Queirós dos Santos chegou à Presidência em 1914, tendo sido ele que convenceu Mário Pistacchini, um bem sucedido homem de negócios, a financiar a construção de novas instalações desportivas para o Clube, num terreno situado no Campo Grande, onde também passou a funcionar a Sede. Projetadas pelo arquiteto António Couto, foram inauguradas a 1 de Abril de 1917, tendo ficado popularmente conhecidas como a Estância de Madeira e em termos de clubes continuavam a ser as melhores do País. Custaram cerca de 53 contos, quantia que alguns anos mais tarde o Sporting pagou integralmente a Mário Pistacchini.

Em 1940 este espaço foi cedido ao Benfica, por sugestão do Ministro Duarte Pacheco Pereira, quando aquele clube ficou sem o campo das Amoreiras, mas mais tarde retornou ao poder do Sporting, na sequência de um acordo dos dois clubes com a Câmara de Lisboa, consumado em Novembro de 1968.


A construção do Stadium de Lisboa essa continuou em bom ritmo e em Junho de 1914 José Alvalade afirmava numa entrevista concedida ao jornal "O Sport Lisboa":

O Stadium é unicamente meu. As discordâncias do meio desportivo trazem-me desgostoso.

E de facto segundo uma revelação feita pelo historiador  Luís Costa Dias no seu livro "História do Sporting Clube de Portugal", José Alvalade terá mesmo escrito um rascunho a demitir-se de sócio do Clube que fundara, mas tudo indica que não levou até ao fim essas intenções. O que é certo é que ele criou uma empresa para explorar o "Stadium", ao qual prometeu dedicar toda a sua energia e capitais, afastando-se do Sporting, mesmo que em 1918 tenha voltado a integrar uma Direção, naquilo que provavelmente terá sido uma tentativa de conciliação das partes desavindas.  

Quanto ao Stadium de Lisboa, foi oficialmente inaugurado em 20 de Dezembro de 1914 e só 30 anos depois surgiu em Portugal um recinto desportivo de idêntica grandeza, quando o Estado Novo inaugurou o Estádio Nacional. Mais tarde, em 1937, dada a degradação do seu campo, o Sporting alugou em condições vantajosas o que na altura já era conhecido como Estádio do Lumiar, que foi a sua casa até à construção do novo Estádio José Alvalade e foi lá que o Clube viveu os gloriosos anos dos Cinco Violinos e que conquistou o primeiro tetra-campeonato da história do futebol português, numa altura em que o recinto já tinha o nome do seu construtor, que em 1947 foi atribuído por deliberação estatutária ao principal campo desportivo do Sporting Clube de Portugal.



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