Uma entrevista oportuna


Todos sabemos que Frederico Varandas algumas dificuldades em termos de comunicação, talvez por isso não apreça muitas vezes a falar em público, mas com o futebol leonino a atravessar uma fase menos boa, impunha-se que o Presidente desse a cara e ele escolheu o momento certo para o fazer, mostrando alguma evolução no seu discurso, naquela que na minha opinião foi a sua melhor intervenção desde que assumiu a liderança do Sporting em 2018.

Frederico Varandas  começou por fugir bem à questão Cristiano Ronaldo, em nome dos superiores interesses da Seleção Nacional e pelo respeito que um dos melhores jogadores de sempre da história do futebol mundial merece da parte do Sporting, mas deixou claro que até agora esse nunca foi um assunto discutido em Alcochete, como de resto Rúben Amorim  já o tinha referido mais de que uma vez, esvaziando assim questão do veto do treinador o jogador. No entanto, ao evitar comentar o assunto neste momento, Frederico Varandas  não fechou completamente a porta do tão desejado regresso de Cristiano Ronaldo a casa, o que deve ter preocupado muita gente

Na questão do treinador, parece que já foi ultrapassado um certo mau estar que transpareceu de algumas declarações de Rúben Amorim,  que chegou a falar de um novo ciclo, mas que recentemente já mudou o seu discurso ao referir-se ao planeamento da próxima época como sendo uma parte do mesmo. Assim, ficou bem claro que a Direção está satisfeita com o seu treinador, de tal forma que a renovação estará em cima da mesa e acredito que possa acontecer, embora me pareça que por vontade de Rúben Amorim,  isso só se irá concretizar no final desta temporada. Esperemos que sim, porque era muito bom sinal para todos os que gostam efetivamente do Sporting. 

No caso Matheus Nunes, Frederico Varandas  bem poderia ter referido que Rúben Amorim sabia que o Sporting tinha aceite a proposta do Wolverhampton e que a transferência só não se concretizou mais cedo porque o jogador inicialmente não quis ir, mas preferiu poupar o treinador, aceitando como natural o seu desapontamento pela saída de um elemento importante na equipa, o que se compreende principalmente pelo momento em que aconteceu.

Quanto aos resultados, Frederico Varandas defendeu-se com as lesões, que são um facto, tal como é uma realidade que a critica especializada no geral analisa os jogos consoante os resultados, que nem sempre correspondem ao que se vê no campo, mas como são eles que contam, quando se perde está tudo mal, quando se ganha é uma maravilha. Felizmente esta Direção não vai nesse balão, pelo que não se prevê que vá deitar tudo a perder só porque esta época está a correr mal. Antes pelo contrário, há que aproveitar o caminho que foi feito, sem prejuízo da necessidade que há de corrigir os erros que foram cometidos.

Uma questão que causa sempre uma certa comichão a alguns sportinguistas, é a obrigação de ganhar num Clube grande como o Sporting, exigência que Frederico Varandas considera que não lhe pode ser feita, porque os nossos rivais ainda estão muito à frente do Sporting em termos estruturais e concorrem com orçamentos superiores, o que também é uma realidade. Só faltou dizer que apesar de tudo isto as nossas equipas tem sempre a obrigação de lutar pelas vitórias e de encarar os jogos com essa ambição.

Muito bem esteve Frederico Varandas ao referir-se à convocatória para o Mundial do Qatar, dando o exemplo indesmentível de João Mário, para demonstrar a forma como os jogadores do Sporting sempre foram desconsiderados pelos diversos selecionadores, em favor dos do Benfica.

Igualmente acertivas foram as referências à arbitragem, que realmente está muito melhor do que no tempo de Vítor Pereira, mas também é verdade que se hoje se navega em águas calmas nessa matéria, é apenas porque o Benfica vai na frente.

Sobre Pinto da Costa compreensivelmente Frederico Varandas não quis acrescentar nada, pois trata-se de uma caso que está em tribunal.

Quanto às modalidades também se falou pouco, tendo no entanto Frederico Varandas referido que a aposta na formação vai continuar a ser o caminho, um trajeto que no entanto não está no mesmo ponto em todas as secções, sendo que em algumas o caminho a percorrer ainda vai ser longo e por isso mesmo penoso, a não ser que haja algum investimento pelo meio.

Desnecessário pareceu-me o ataque a Mustafá. Não merece a pena, embora no que diz respeito às claques eu esteja inteiramente de acordo com o caminho seguido por esta Direção. Se for para apoiarem o Sporting são bem-vindos, se é para se servirem do Sporting, a mama acabou e ainda bem.

No fim Frederico Varandas puxou dos galões e desfilou os principais feitos da sua gerência: 

Requalificámos a Academia por completo, requalificámos o Estádio, estamos a mudar a zona corporate, os escritórios da SAD, criámos a primeira megastore, fizemos uma nova Loja Verde online. Tudo isto em investimentos estruturais que não dão golos, mas fazem o Sporting CP crescer. Para além dos sucessos desportivos que tivemos, crescemos 15% em Sócios no último ano, tivemos o recorde de receita de quotização, de número de Sócios com quotas em dia, de receita de merchandising e de resultado operacional sem transações de jogadores, garantimos e reforçámos a maioria do capital da SAD com a compra das VMOC e tivemos as três maiores vendas da história do Sporting CP - e sete das dez maiores. Ainda não conseguimos corrigir o gap estrutural de 15 anos para os nossos rivais, mas encurtámos muito a distância

Pena que a questão das contas não tenha sido aprofundada, e para além disso faltou evidenciar que 2021 foi o melhor ano desportivo da vida do Sporting Clube de Portugal, que realmente hoje está muito melhor do que estava em 2018. Esperemos que seja mesmo possível chegar a 2026 numa posição ainda mais favorável, isto pese embora continuem a haver grupos organizados de adeptos que tudo farão para prejudicar o Clube de que dizem gostar, motivados por um ódio resultante dessa estranha paixão por um líder de pés de barro, que ainda anda por aí. Um assunto que também não foi abordado, mas que infelizmente ainda faz parte da vida deste Clube e irá continuar a fazer, principalmente sempre que os resultados desportivos não forem os melhores. 

No geral foi pois uma intervenção positiva de Frederico Varandasque dentro das suas limitações oratórias, conseguiu passar a mensagem e acima de tudo transmitir uma imagem de tranquilidade e confiança para o futuro. 

Comentários