Os negócios da crise

Dando seguimento a uma boa prática implementada pela administração anterior, o Sporting tornou públicos os valores envolvidos nos últimos negócios da SAD, desde os do final do consulado de Bruno de Carvalho, até aos que foram feitos já na gerência de Sousa Cintra.

Começando pelos primeiros eu diria que 6,5 milhões € por Raphinha foi um negócio arriscado mas que até está a correr bem, enquanto 4,5 milhões € por um lateral direito como Bruno Gaspar me parece claramente excessivo.

Já 2 milhões € por um guarda redes credenciado como Emiliano Viviano, parece-me ser um valor aceitável. O problema é que tudo leva a crer que estamos perante um mau profissional. O italiano chegou com excesso de peso, depois lesionou-se quando era para ser titular e estranhamente nunca mais apareceu nos convocados, portanto alguma coisa se passa com este jogador que parece estar conformado com a sua situação, pois o clima é bom e o ordenado ainda é melhor. Ou seja, deitámos 2 milhões ao lixo e continuamos sem guarda-redes, pese embora a boa resposta de Romain Salin.

Completamente inexplicável é a contratação de um tal de Carlos Jatobá por 100 mil €, mais uma comissão para a empresa Futglobo no valor de 1,5 milhões €, dependentes da performance desportiva do atleta. Eu gostava era de saber quais os objectivos subjacentes a essa comissão, o mesmo se podendo dizer em relação à clausula de compra obrigatória João Queirós, também sujeita ao cumprimento de objectivos. São estes contratos que descredibilizam que tanto defendeu a transparência.

Passando para a gestão de Sousa Cintra, direi que Nani a custo zero foi um excelente negócio, enquanto os 4,5 milhões € dados por Abdoulay Diaby são uma incógnita dependente da prestação desportiva do jogador, mas confesso que não tenho grandes expectativas em relação a este avançado. Para além disso o que me parece claramente exagerado é a comissão que ultrapassa os 20% do valor deste negócio.

O mesmo se poderá dizer em relação ao pagamento de 3 milhões pelo empréstimo de Nemanja Gudelj, embora este valor possa ser explicado se for para o pagamento dos ordenados do médio sérvio, ou se vier a ser considerado numa futura compra do passe deste jogador, que me parece ser uma boa aquisição.

Finalmente a contratação de Renan parece-me estar dentro de valores perfeitamente aceitáveis, sem grandes riscos e até com a possibilidade de se vir a tornar num bom negócio.

Quanto a vendas, atendendo ao que escrevi atrás sobre Bruno Gaspar, tenho de considerar que 8 milhões € mais 1 por Cristiano Piccini foi um grande negócio, mesmo descontando as comissões.

Sobre William Carvalho já escrevi aqui. Foi o negócio possível quando a SAD precisava urgentemente de liquidez, mas aposto que se a proposta pelo "judas martins" tem chegado mais cedo este acordo não se tinha concretizado e aplaudo a firmeza de Sousa Cintra em relação aos outros casos.

Agora diz-se que Frederico Varandas poderá conseguir 50 milhões dos assaltantes de Madrid e de Wolverhampton, o que seriam realmente valores aceitáveis e importantes para o Clube, mas quando eu oiço que o comissionista mor está a intermediar estes negócios, fico logo de pé atrás. É que estes valores só serão bons se forem na integra para o Sporting, agora se for para pagar comissões sobre outros negócios como é o caso do de Adrien Silva, nem pensar, até porque o Mendes nunca reclamou esse valor em lado nenhum, pelo menos de forma pública, portanto está-se mesmo a ver que ele não terá razões para isso, mas se as tem que siga para tribunal.

Por falar em tribunal, penso que é fundamental que alguns dos casos das rescisões vão até ao fim, sendo que os do "pequeno daniel" e do "rafael gatinho" são os que envolvem menos riscos, pois eram dos jogadores mais mal pagos do plantel, pelo que servem perfeitamente para ficarem como exemplos para o futuro, o mesmo se podendo dizer em relação a Rúben Ribeiro, do qual eu até tenho uma certa pena. Coitado foi na conversa do bandido e agora está desempregado, mas pelas gordas que eu li de uma entrevista que ele deu ao Record, o gajo é mesmo burro. De qualquer forma poupam-se os ordenados e ainda se pode sacar algum.

Das restantes vendas e empréstimos não há muito a dizer, é quase tudo entulho, com Seydou Doumbia à cabeça, mas devo acrescentar que tenho pena de ver partir Tobias Figueiredo que não é nada inferior a Marcelo e mesmo em relação a Pedro Delgado tinha algumas expectativas. No lote dos emprestados há 4 ou 5 com potencial para voltarem, mas provavelmente alguns deles não terão escolhido os campeonatos e os clubes certos. É esperar para ver.

Finalmente uma palavra para o trabalho de Sousa Cintra no que diz respeito ao regresso de três dos jogadores que residiram, precisamente aqueles cujas razões eu até percebia, por serem grandes profissionais, com elevado rendimento desportivo e pouco tempo de ligação ao Sporting. É verdade que Rodrigo Battaglia aproveitou a situação para melhorar o seu contrato, o que não lhe ficou bem, mas Bruno Fernandes e Bas Dost eram os dois melhores jogadores da equipa e seu regresso, ainda por cima nas condições que se efectivou, foi um grande êxito para o Sporting.

Enfim, atendendo às circunstâncias esperava pior e até temos um plantel razoável, embora ainda haja muito trabalho para a nova Direcção fazer. Para já em Janeiro eu diria que precisamos de mais um ponta de lança e de um guarda-redes, sem esquecer que ainda há muito entulho para despachar. Até lá é aguentar e ir ganhando para não deixar os rivais fugirem. Depois logo se vê.

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