Finalmente Campeões de Lisboa


Apesar do Sporting ser servido por gente diferenciada e de ter as melhores instalações do País, o sucesso desportivo não foi imediato e à exceção do Atletismo, onde desde logo o Clube e os seus atletas se assumiram como a grande potência da modalidade, nos primeiros anos há apenas a registar no Ciclismo a vitória de Laranjeira Guerra no Porto-Lisboa de 1912 e o titulo de Campeão Nacional de Velocidade conquistado no ano seguinte por Soares Júnior, que mais tarde viria a ser Presidente do Sporting.

No Futebol os primeiros títulos aconteceram em 1912 e 1913, com a conquista dos Campeonatos Regionais de 4ª categoria, uma espécie de juvenis da altura e, só em 1915 é que o Sporting foi finalmente Campeão de Lisboa na 1ª categoria, numa época em que também ganhou a 1ª edição da Taça de Honra, êxitos para os quais foi determinante o facto de ter assegurado o concurso de Artur José Pereira, que anos mais tarde Cândido de Oliveira considerou ter sido, até aí, o melhor futebolista português de todos os tempos e que na altura se tornou no primeiro jogador pago do futebol nacional, recebendo 36$00 por mês, para além de ter prioridade nos banhos quentes, um luxo que só o Sporting podia oferecer.

Artur nascera em Belém e era extremamente bairrista, isto para além do seu feitio irrascível com tiques de vedeta. Começou por jogar no União Belenense e depois passou para o Sport Lisboa que também era uma equipa do seu bairro, mas quando este clube se fundiu com o Grupo Sport de Benfica, ele foi logo avisando que a identidade belenenses iria acabar por desaparecer para dar lugar a um emblema de Benfica. O tempo deu-lhe razão.

As divergências foram-se acentuando e em 1914 a Direção do Benfica suspendeu-o, pelo que Artur José Pereira aceitou o convite do Sporting e passou a jogar de Leão ao peito. No entanto a sua alma
belenense nunca o deixou sossegar e finda a época de 1918/19 após ganhar o seu segundo título regional pelo Sporting, Artur procurou o capitão da equipa Jorge Vieira e sondou-o sobre a possibilidade de sair do Sporting para ir fundar um clube de Belém, pedindo-lhe para falar com o Chico que era o Capitão Geral do futebol leonino. Vieira abordou Francisco Stromp sobre o assunto e este respondeu-lhe:

Olha Jorge, diz a esse gajo que vá à merda e que funde o tal clube de Belém.

E assim nasceu o Clube de Futebol «Os Belenenses», fundado em 23 de Setembro de 1919, principalmente por ação de Artur José Pereira.

Mas se Artur José Pereira era a vedeta da equipa, Francisco Stromp era a verdadeira alma do Sporting, vivendo quase exclusivamente para o Clube. Nem namoradas, nem política, nem estudos, nem nada, o Sporting era a sua grande e única paixão, chegando ao ponto de chorar nas preleções, ou no intervalo dos jogos, quando se dirigia aos colegas de equipa, apelando ao seu sportinguismo para chegarem às vitórias, isto numa altura em que a figura do treinador ainda não existia, pelo que era ele que orientava a equipa e fazia as convocatórias via postal.

Francisco Stromp foi a figura emblemática de um período em que o Sporting ganhou 4 Campeonatos de Lisboa, 3 Taças de Honra e o Campeonatos de Portugal da época 1922/23, sagrando-se assim pela primeira vez Campeão Nacional de Futebol.

Faleceu de uma forma trágica na agonia de uma doença que na altura era grave e que já tinha morto o seu irmão António, escolhendo para morrer o dia em que o Sporting festejava o seu 24º aniversário, mas o seu nome foi eternizado pelo Grupo Stromp considerado como uma reserva moral do Sporting e que foi fundado em 1940, tendo como objetivo ajudar a implementar o ideal sportinguista e contribuir e colaborar com os Órgãos Sociais do Clube na obtenção de êxitos e na defesa da imagem do Sporting. Este grupo adotou o nome de Stromp como patrono em homenagem a Francisco Stromp, um verdadeiro exemplo de amor e dedicação ao Sporting Clube de Portugal.  



 

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