O caso Matheus Reis


O lamentável "caso Matheus Reis" dominou a atualidade desportiva na semana passada e de certa forma manchou a "dobradinha" do Sporting.

Não posso deixar de reconhecer que o comportamento de Matheus Reis era merecedor de cartão vermelho, sendo inexplicável a omissão do VAR neste caso.

Ainda mais difícil de perceber é como é que aquele vídeo gravado à entrada do autocarro foi publicado pelo próprio Sporting. Claramente faltaram adultos na sala.

Por tudo isto até compreendo a revolta dos benfiquistas, já passei por isso muitas vezes, mas como é costume sempre que se trata do Benfica, este caso assumiu proporções que ultrapassaram os limites do razoável.

Até parece que nunca se tinha visto uma agressão num campo de futebol e que foi a primeira vez que o VAR pecou por omissão, mas na realidade a verdadeira novidade foi o facto do Benfica ter perdido um troféu à conta de um caso assim. Eles não estão habituados e nós também não, daí o País ter ficado quase em estado de choque.

Nos últimos dias li e ouvi coisas inacreditáveis, havendo mesmo quem chegou ao ponto de afirmar que o pisão de Matheus Reis colocou em risco a vida de Belotti e que o brasileiro poderia incorrer numa pena de 1 a 3 anos de prisão, só faltou dizer que se tratou de uma tentativa de homicídio. Foram queixas ao ministério público, ao governo e a todos os organismos possíveis e imaginários, com o Boaventura metido ao barulho, exigindo-se um castigo exemplar ao mesmo tempo que o jogador era apelidado de bandido para cima e ameaçado pelos heróis do costume, de tal forma que teve de fugir para o Brasil.

Foi na realidade uma agressão desnecessária, mas não passou disso mesmo, de tal forma que Belotti nem necessitou de assistência médica e rapidamente se levantou para prosseguir em jogo. Era cartão vermelho sim senhor e merece 2 ou 3 jogos de castigo como é costume neste tipo de agressões, isto se o Conselho de Disciplina abandonar o "field of play doctrine" que foi adotado pelo seu antecessor. O resto é o desespero de quem perdeu, não por causa desse lance, mesmo que se o VAR tivesse intervindo o jogo praticamente acabasse ali, mas porque a seguir não foram capazes de parar Viktor Gyökeres.

E por falar nisso também não deixa de ser engraçado que depois de tantas criticas aos excessos de Matheus Reis, também chovam criticas a Florentino e António Silva por não terem dado uma pantufada em Francisco Trincão e Viktor Gyökeres, para matar a jogada que deu o golo do empate, mesmo que isso lhes valesse um cartão vermelho. Aí já não fazia mal bater, valia tudo para ganhar.

Mas o alvo dos excessos benfiquistas não foi só Matheus Reis, eles também exigem a irradiação de Tiago Martins e um castigo exemplar para o fiscal de linha. É a tentativa desesperada do regresso aos tempos dos padres e das missas , em que o Benfica dominava a arbitragem fazendo questão de que os árbitros tivessem essa perceção, por isso mesmo é que João Pinheiro lhes pediu ajuda para melhorar as suas classificações e que Marco Ferreira, quando foi despromovido, foi pedir explicações a Luís Filipe Vieira em vez de se dirigir ao Conselho de Arbitragem.

É por isso que o Benfica exige castigos exemplares para os árbitros que erraram contra eles, de forma a que isso sirva de exemplo para os outros e que todos percebam que se pode errar desde que o prejudicado não seja o Benfica. Ao mesmo tempo tenta-se passar a ideia de que agora é o Sporting que controla tudo. É uma forma de condicionar os árbitros, porque eles continuam a acreditar que esse é o caminho mais curto para as vitórias.

A história do futebol português mostra-nos que o Benfica assumiu uma posição dominante a partir da década de sessenta do século passado, sendo que um dos fatores determinantes para que isso tivesse acontecido foi o início da guerra colonial, que fez com que passasse a interessar ao regime que o clube do povo ganhasse, já todos ouvimos falar nos três fff. 

Nesse período eles ganharam 14 em 18 campeonatos e só foram travados pelo "sistema" montado por Pedroto e Pinto da Costa, algo que nunca conseguiram engolir, pelo que resolveram copiar um modelo que entretanto implodiu no meio de um monte de processos judiciais.  

Rui Costa clama que isto está tudo minado e que agora é o Sporting que controla, porque continua convencido que para ganhar é preciso dominar os bastidores, foram mais de 40 anos disto e quase 20 daquilo e eles ainda não perceberam que o tempo dos donos disto tudo está-se a acabar, em grande parte devido à introdução do VAR sem o qual eles teriam ganho esta final.

A história também nos mostra que há derrotas que podem ter aspetos positivos e no caso em apreço parece-me que o fracasso do Benfica nesta época é uma oportunidade para aquele clube virar a página do "vieirismo" e encontrar dirigentes de uma geração diferente e com ideias novas, que deixem para trás essa fixação no controlo dos bastidores.

Infelizmente pelo que se vai vendo e ouvindo parece que eles ainda não perceberam que não basta despejar dinheiro nas equipas para que elas desatem a ganhar, pelo que o salto do "triplete" anunciado para uma época modesta reduzida à conquista da Taça da Liga não está a ser fácil de digerir, da mesma forma que estão com dificuldades em aceitar o ressurgimento do Sporting.

Tem a palavra Pedro Proença, Reinaldo Teixeira e as suas equipas recentemente eleitas e agora colocadas debaixo de fogo. Ou cedem à pressão de quem acha que deve ganhar por decreto, ou aguentam-se firmes na defesa de um futebol sem donos, isto depois de Nuno Lobo, o candidato vencido nas últimas eleições para a FPF, já ter vindo dizer que Rui Costa está a pagar o preço de não ter alinhado com ele para mudar o sistema, ou por outras palavra com Lobo o Benfica ganhava tudo. Está tudo dito sobre a forma como esta gente vê o futebol.

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