A seleção dos do costume


Fernando Santos ficará na história como o selecionador que conduziu Portugal ao título de Campeão da Europa, mas não nos podemos esquecer do cântico que os portugueses entoavam em França durante aquela sofrida caminhada que levou a Seleção Nacional a uma histórica e improvável conquista: "pouco importa, pouco importa, se jogamos bem ou mal, vamos é levar a taça para o nosso Portugal".

Daí para a frente o selecionador português tem sido recorrentemente acusado de conservadorismo em excesso, porque atendendo ao talento que tem à sua disposição exige-se que a nossa Seleção jogue um futebol mais vistoso e ofensivo, em vez do tradicional "vamos ver o que é que isto vai dar e esperar que todos os santinhos nos ajudem" que resultou em 2016, mas que daí para cá só nos tem dado desgostos, como se toda a nossa sorte se tivesse esgotado naquela tarde louca em Paris.

Reconheça-se que Fernando Santos tem tentado mudar alguma coisa e ontem pelo menos durante uma hora tivemos um Portugal que quis ganhar e até poderia ter marcado, mas a bola não entrou e á medida que o tempo foi passando a equipa começou a pensar que o empate até era bom, pelo que todos começamos a perceber que a história recente estava à beira de se repetir.

Todos, menos o selecionador, que numa altura em que era preciso dar musculo ao meio campo para combater a subida das linhas espanholas, deixou João Palhinha no banco e meteu um jogador sem intensidade como é João Mário e em vez de tirar um Ronaldo que já não é o que era e apostar em jogadores rápidos na frente, deixou-o por ali a arrastar-se até ao fim do jogo. O resultado foi o que se adivinhava.

Mas as trapalhadas de Fernando Santos não se resumiram a este jogo e começaram logo com o "caso Rafa", um não assunto, que apenas ocupou muito espaço nas discussões dos comentadores encartados, porque se trata de um jogador do Benfica. Tivesse sido por exemplo o Luís Neto, ninguém se tinha importado. E refiro-me a Neto, porque ele tal como o Rafa é um jogador que nunca foi importante na Seleção e mesmo tendo menos 6 internacionalizações do que o avançado benfiquista (19 contra 25), tem mais do dobro dos minutos jogados (1456 contra 699).

A diferença de tratamento em relação aos jogadores do Benfica e do Sporting por parte dos selecionadores já tem barbas e eu ainda sou do tempo em que qualquer coxo que jogasse no Benfica chegava a internacional e às vezes a equipa toda era convocada, enquanto no Sporting era preciso ser mesmo bom e até o Vítor Damas chegou a ser preterido em relação ao José Henrique. Imagine-se.

Depois quando o Benfica passou a ter praticamente só estrangeiros, havia sempre a preocupação de convocar um representante dos encarnados, nem que fosse um perneta, o que valeu a estreia na Seleção a Marco Caneira depois de Camacho o ter metido a lateral esquerdo em meia dúzia de jogos ou, as 8 internacionalizações que um jogador vulgar como André Almeida conseguiu somar. E mesmo o nosso agora muito querido Rúben Amorim, só foi internacional porque jogava no Benfica.

Alguém tem dúvidas de que se Nuno Santos jogasse no Benfica já tinha sido convocado, isto já para não falar de Gonçalo Inácio que até joga numa posição que está a necessitar de renovação, mas que mesmo com a saída de Pepe do lote dos convocados não teve direito a uma oportunidade, porque o selecionador acha que ele não sabe jogar numa defesa a quatro. Mais depressa chega lá o António Silva.

De resto o caso João Mário comprova isso mesmo. O homem fez uma boa época no Sporting Campeão e nunca foi chamado, bastou mudar-se para o Benfica e voltou logo ao lote dos convocados. Mais recentemente foi a vez de Pedro Gonçalves ser preterido em relação a Gonçalo Ramos. Ao que parece porque não ficava bem substituir um jogador do Benfica por outro do Sporting.

Enfim, podia estar aqui o resto do dia a desfilar casos destes, porque isto não é de agora, e nem sequer os Cinco Violinos eram indiscutíveis na Seleção dos anos 40.

Independentemente de tudo isto parece-me que Fernando Santos chegou ao fim da linha e mesmo que tenha contrato até 2024, deveria ser substituído depois do Mundial, abrindo espaço para uma nova mentalidade, sendo que na minha opinião Rui Jorge é o homem certo para essa mudança. Ele conhece muito bem quase todos os jogadores que são selecionáveis. Duvido é que haja coragem para tanto, a não ser que a campanha do Catar seja um desastre. Caso contrário vamos levar com isto mais dois anos.

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