A escumalha e os bandidos


Em Dezembro de 2019 Frederico Varandas apelidou de "escumalha" um pequeno grupo de encapuçados, supostamente afetos às claques do Sporting, que receberam a comitiva leonina à entrada para um hotel de Ponta Delgada, entoando a vergonhosa frase "Alcochete sempre", que evocava o lamentável ataque à Academia, que na altura ainda estava bem fresco na memória de todos.

Ainda hoje há alguns supostos adeptos de Sporting que se mostram muito ofendidos pelo termo usado pelo Presidente do Sporting para qualificar os tais encapuçados, ao mesmo tempo que repetidamente o insultam, a coberto da mesma cobardia, escondendo-se atrás do anonimato das redes sociais, que funciona da mesma forma de que os capuzes e as balaclavas que os outros usaram para evocar Alcochete.

O mesmo Frederico Varandas em Outubro de 2020, referindo-se a Pinto da Costa, afirmou que "um bandido será sempre um bandido", uma frase que lhe valeu inúmeras críticas de uma comunicação social que sempre teve medo do famoso "papa do norte" e que até lhe custou a condenação na sempre subserviente justiça desportiva e um processo que se irá arrastar nos tribunais civis.

Em qualquer um destes casos Varandas teve a coragem de chamar os bois pelos nomes, da mesma forma que já tinha tido a valentia de enfrentar as claques do seu próprio Clube, retirando-lhes mordomias que ao longo dos tempos lhes foram sendo concedidas a troco do apoio às Direções em exercício, o que aconteceu não só no Sporting, mas também nos outros grandes clubes portugueses.

O resultado é que estes grupos organizados ganharam poder e julgaram-se donos dos clubes, ao mesmo tempo que os seus lideres floresciam à custa de negociatas escuras com a revenda de bilhetes, o trafico de droga e outros negócios paralelos.

Os resultados estão à vista de todos, os marginais que se acotovelam nas claques trouxeram o ódio e a violência para os estádios, que se tornaram lugares perigosos, também com a complacência das autoridades, pelo que os episódios como os ataques aos jogadores, o apedrejamentos de viaturas e outras cenas de pancadaria que recentemente até acabaram com uma morte, são cada vez mais frequentes, mas por enquanto apenas motivaram algumas lágrimas de crocodilo.

O cartão do adepto podia até nem ser a medida certa, mas pelo menos já era alguma coisa, mas como de costume não houve coragem para a levar até ao fim e o poder político cedeu perante as muitas pressões, inclusivamente vindas da comunicação social, também ela cheia de gente com ligações aos clubes, que continuam a apoiar as suas claques com as quais tem ligações perigosas, embora alguns até tenham o desplante de negarem a sua existência, ao mesmo tempo que as apoiam, tudo com a complacência das autoridades.

Dizem-nos que já há não sei quantos adeptos proibidos de entrarem nos estádios, mas toda a gente sabe que essas proibições não são cumpridas e ainda há pouco tempo houve notícias sobre a detenção de um arruaceiro desses que foi apanhado em flagrante incumprimento da medida imposta. Foi fazer uma visita ao tribunal e no fim de semana seguinte poderá ir à bola novamente, ou alguém acredita que estes rapazes se apresentam nas esquadras à hora do futebol?

Urge fazer uma limpeza a sério nas bancadas dos estádios portugueses tirando de lá os criminosos, mas isso só será possível com medidas fortes de corajosas, que passam essencialmente por criminalizar de verdade a violência nos estádios e prender os marginais que por lá andam, em vez de andar a fingir que se toma conta deles com centenas de policias destacados só para acompanharem as manadas que por aí andam a espalhar o ódio e a violência.


Comentários