O Projeto Roquete


Depois de 7 anos vestindo um fato que não era o seu, foi com alguma esperança que os Sportinguistas abraçaram o Projeto Roquete que visava a criação de uma estrutura empresarial, que deveria ser constituída por uma SAD para gerir o Futebol com rigor e profissionalismo, uma sociedade de serviços que atuaria nas áreas do mercado, para potenciar todos os negócios paralelos à vertente desportiva e várias sociedades imobiliárias para gerirem e rentabilizarem o património do Sporting, com o objetivo de construir a já há muito ansiada "Cidade Desportiva", uma ideia que entretanto evoluiu para a construção da Academia Sporting  sediada em Alcochete e do Complexo Alvalade XXI, que se deveria pagar a si próprio. Era finalmente o tal Clube/Empresa que José Roquete idealizara em conjunto com João Rocha em 1973 e em que voltara a pensar em 1989. 

Isto ao mesmo tempo que se apontava para a necessidade de uma regeneração das instituições do futebol nacional, que deveriam ser alvo de mudanças rápidas, no sentido de recuperarem a sua credibilidade perdida nos jogos de bastidores, que tinham muitas vezes contribuído para o afastamento do Sporting dos títulos pelos quais o Clube prometia voltar a lutar.

No papel era tudo muito bonito, mas na prática foi bastante diferente. As obras fizeram-se mas deixaram atrás de si uma dívida colossal. A gestão do Futebol foi errática, na maior parte dos casos levada a cabo por dirigentes mal preparados, pelo que apesar dos Campeonatos ganhos em 2000 e 2002 e da Final da Taça UEFA perdida em 2005 em pelo Estádio José Alvalade, a Sporting SAD gerou prejuízos crónicos e viu as suas ações substancialmente desvalorizadas.

Verificou-se também um significativo afastamento dos dirigentes em relação aos sócios, que passaram a ser tratados como clientes, numa demonstração de falta de sensibilidade para um negócio onde acima de tudo conta o fator paixão, o que acabou por gerar alguns conflitos, principalmente na hora das derrotas, quando as claques apertaram os dirigentes, o que levou às demissões, primeiro de José Roquete e mais tarde de Dias da Cunha.


Foi nessa altura, em Outubro de 2005, que se verificou uma viragem no Projeto Roquete, com Filipe Soares Franco a assumir a Presidência num período que se previa de transição até à subida ao poder de Ernesto Ferreira da Silva, que estava programada para o ano seguinte.

No entanto, Filipe Soares Franco resolveu avançar para as eleições de 2006 com uma candidatura apadrinhada pelos bancos credores do Sporting e que visava essencialmente a reestruturação financeira  do Grupo Sporting, um plano que previa a venda do património não desportivo do Clube (Edifício Visconde de Alvalade, Alvaláxia, Holmes Place e Clínica CUF), tendo como objetivo a redução do passivo para valores à volta dos 150 milhões €. 

Soares Franco foi eleito apesar de pela primeira vez desde 1995 ter havido uma lista de oposição, e durante a sua gerência cavou o fosso com os sócios e com o ecletismo, chegando a reconhecer que via o Sporting como um Clube essencialmente de Futebol, numa altura em que as modalidades estavam praticamente reduzidas a Atletismo, Andebol e Futsal.

A crise financeira mundial de 2007-2008 foi apontada como a causa do falhanço de uma reestruturação que empobreceu patrimonialmente o Clube sem resolver o problema de uma dívida insustentável, que acabou por ser convertida nas famosas vmoc's, quando já estava em cima da mesa a discussão sobre a possibilidade do Sporting perder a maioria no Capital Social da sua SAD.

Nesta altura constava que José Maria Ricciardi seria uma espécie de "presidente sombra" que determinavas as políticas a seguir e escolhia os dirigentes que as deviam executar, como terão sido os casos de Soares FrancoNobre GuedesJosé Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes, cujos resultados desportivos e financeiros foram indo de mal a pior, de tal forma que uma auditoria feita ao período que ficou conhecido como Projeto Roquete, determinou que em 31 de Dezembro de 1994 os capitais próprios do Sporting eram 18,7 milhões de euros, com um passivo total de 25,6 milhões, enquanto no fim do mandato de Godinho Lopes eram 312,5 milhões de euros negativos, com um passivo total de 487,1 milhões.

Num balanço final poderemos afirmar que durante estes quase 18 anos, o Sporting conseguiu quebrar um longo jejum de títulos no Futebol, com a conquista de 2 Campeonatos Nacionais, 4 Taças de Portugal e 5 Supertaças, ao mesmo tempo que os seus dirigentes lutaram e contribuíram para algumas melhorias que se verificaram em termos de transparência e credibilidade no futebol português. O Clube construiu um estádio de última geração e uma academia de excelência, que aprimorou a sua linha de produção de talentos, mas ficou atolado numa dívida gigantesca, passou a ser um Clube cada vez menos eclético, ficou patrimonialmente mais pobre e distanciou-se dos seus sócios e adeptos, perdendo assim uma parte da sua base popular de apoio e criando uma onda de contestação que culminou na inevitável queda da Direção de Godinho Lopes, que determinou o fim deste ciclo. 

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