O Furacão Bruno

 


Depois das polémicas eleições de 2011 ficou claro que Bruno de Carvalho seria o próximo Presidente do Sporting, só não se sabia quando. A confirmação verificou-se no dia 27 de Março de 2013, altura em que o novo líder leonino derrotou José Couceiro que representava a continuidade, propondo-se dar um novo rumo ao Clube, sob os lemas “fazer mais com menos” e “devolver o Sporting aos sócios”.

Bruno de Carvalho encontrou um Sporting falido e com um PER em cima da mesa, dividas astronómicas e uma equipa de futebol no 11º lugar da classificação, mas rapidamente demonstrou ser um Presidente dinâmico e destemido, encetando um corte radical com o passado recente do Clube, com uma liderança forte e muito ambiciosa que devolveu o orgulho aos sportinguistas, tornando o Clube mais competitivo, não só no Futebol, mas também nas restantes modalidades, onde o Sporting voltou a conquistar títulos, inclusivamente europeus, embora tenha falhado o principal objetivo que era ganhar o Campeonato Nacional de Futebol.

Este período ficou também marcado por uma reestruturação financeira bem-sucedida, pela construção do Pavilhão João Rocha, pelo nascimento da Sporting TV e por um grande crescimento no numero de sócios, o que gerou um significativo aumento de receitas, resultante também dos proveitos de bilheteira em função do estádio ter passado a ter uma boa taxa de ocupação, da venda de vários futebolistas por números até aí nunca atingidos e por um contrato de direitos televisivos e publicidade com a NOS, fixado em valores recorde.

Tudo isto em apenas quatro anos que também ficaram marcados por alguma conflitualidade, pois Bruno de Carvalho nunca hesitou em afrontar os interesses instalados dentro e fora do Clube, fazendo denuncias, trazendo com sucesso para a ordem dia temas como a introdução do vídeo-árbitro, ou a extinção dos fundos no futebol e dedicando-se de tal forma à causa sportinguista que chegou mesmo a ser criticado por se expor em excesso ao abrir demasiadas frentes de combate.

O seu estilo politicamente incorreto desagradou à ala mais conservadora do Clube, sendo alvo de algumas criticas, geralmente vindas de pessoas ligadas ao período que antecedeu a sua chegada ao Sporting, o que descambou numa Assembleia Geral realizada em Fevereiro de 2018, 11 meses depois de ter sido reeleito com 86% dos votos dos sócios leoninos, onde se propunha a aprovação de um polémico Regulamento Disciplinar que podia ser visto como um instrumento para calar a oposição.


Foi nessa altura que o Futebol, onde tinha sido feito um forte investimento, entrou em queda, com Bruno de Carvalho a revelar um crescente desequilíbrio emocional, abrindo uma nova frente de batalha, desta vez tendo como alvo os jogadores e o treinador da equipa principal do Sporting, um conflito que acabou com a tristemente célebre invasão de Alcochete, ao mesmo tempo que rebentava o "caso cashball" onde o Sporting era acusado de corrupção.

Foi neste cenário caótico que o Sporting perdeu a Final da Taça de Portugal frente ao modesto D. Aves, seguindo-se os pedidos de rescisão unilateral dos contratos de 9 dos futebolistas mais valiosos do plantel, pelo que a situação se tornou insustentável, sucedendo-se os apelos para que a Direção se demitisse para dar voz aos sócios, cenário que Bruno de Carvalho recusou terminantemente, revelando a sua personalidade autocrática e sendo acusado de estar agarrado ao poder, o que acabou por resultar numa Assembleia Geral extraordinária que levou à destituição da Direção e mais tarde à expulsão de sócio de Bruno de Carvalho, acusado de cometer várias ilegalidades para se manter no poder, indo ao ponto de tentar bloquear as contas do Clube para o tornar ingovernável, numa politica de terra queimada que culminou numa serie de processos judiciais que foram sempre desfavoráveis ao Presidente destituído.

O mesmo Bruno de Carvalho que salvara o Sporting de um PER, acordara a nação sportinguista, reativara o ecletismo, construíra o desejado pavilhão e uma equipa de futebol competitiva, conquistado a justificável aprovação de cerca de 90% dos sócios do Sporting, deslumbrou-se, colocando-se num patamar acima do Clube e acabou por se descontrolar, conseguindo em poucos meses desmantelar o muito de bom que tinha feito, deixando atrás de si um rasto de destruição, com uma equipa de futebol arrasada, graves problemas financeiros para resolver no imediato e um minoritário, mas muito ruidoso e às vezes até violento, grupo de adeptos dispostos a segui-lo até às últimas consequências, o que gerou uma insanável divisão na família leonina, pelo que em 2018 era voz corrente que o Sporting tinha cavado definitivamente a sua sepultura enquanto grande clube português e que dificilmente poderia voltar a competir de igual para igual com o Benfica e o FC Porto.



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