Depois do 25 de Abril


A sucessão de  Brás Medeiros não foi fácil. O eleito foi Orlando Valadão Chagas que tomou posse num dia, mas no dia seguinte foi convidado por Marcelo Caetano para fazer parte do Governo, pelo que teve de abdicar.

Depois de cinco meses de transição, o escolhido pelo Conselho Leonino foi o até aí desconhecido João Rocha que tinha como vice presidente um tal de José Roquete, esse mesmo, o neto de José Alvalade. Traziam um projeto novo que assentava na criação da Sociedade de Construções e Planeamento, visando tornar o Sporting no primeiro clube empresa de Portugal.

Em Março de 1974 o Governo deu luz verde ao projeto que implicava a emissão de 2,5 milhões de ações de valor nominal de 100 escudos cada. Porém a revolução de Abril deitaria tudo por terra. José Roquete foi um dos muitos portugueses abastados que saíram de Portugal durante o PREC, mas João Rocha ficou para aquela que seria a mais longa presidência da história do Sporting, que durou 13 anos.

O novo Presidente conseguiu que o Sporting passasse com relativa tranquilidade pelo conturbado período que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974, aproveitando bem o estado de graça em que vivia, depois de uma temporada em que o Futebol leonino ganhou o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal e, chegou às meias-finais da Taça das Taças.

No entanto o Sporting vivia com o estigma de ser o clube dos fascistas, pelo que João Rocha deparou-se com alguns obstáculos no que diz respeito aos apoios públicos que nessa altura beneficiaram muitas vezes o Benfica, enquanto o Sporting se deparava com sucessivos obstáculos que chegaram a despoletar uma crise diretiva em 1979. Algumas destas situações foram de tal forma lesivas para o Sporting, que anos mais tarde a Câmara Municipal de Lisboa sob a presidência de Jorge Sampaio, teve a necessidade de determinar que dali para a frente todo e qualquer apoio que fosse dado a um dos grandes clubes da Capital, teria que ser concedido em igual medida ao outro.


Mesmo assim João Rocha fez obra, com destaque para o fecho das bancadas do Estádio José Alvalade, a construção da Pista de Tartan e dos Pavilhões, o aproveitamento das naves, as novas torres de iluminação do estádio, as salas do Bingo e a sala de convívio Joaquim Agostinho.

Para além disso João Rocha deu particular importância aos sócios, quase triplicando o seu numero, pois quando chegou ao Sporting o Clube tinha cerca de 40 mil associados, que quando o deixou em 1986 já eram quase 107 mil. Foi pois um Presidente popular, de tal forma que mesmo num tempo em que a democracia se afirmava no nosso País, só por uma vez enfrentou uma lista de oposição nos atos eleitorais que renovaram os seus mandatos, contando sempre como o apoio do Conselho Leonino, que continuava a ter a atribuição de indigitar os candidatos à presidência dos Órgãos Sociais do Clube.

João Rocha também teve um papel determinante no desenvolvimento do ecletismo do Sporting com algumas modalidades a conquistarem troféus internacionais, com destaque para as oito vitórias na Taça dos Campeões Europeus de Corta-Mato e para a histórica conquista da Taça dos Campeões Europeus de Hóquei em Patins, modalidade na qual o Clube também ganhou durante a sua gerência, mais duas Taças das Taças e uma Taça CERS. Mas para além disso nessa altura o Basquetebol, o Andebol e o Ciclismo também obtiveram importantes vitórias.

Nesse período o Sporting chegou a movimentar cerca de 15000 atletas em 22 modalidades, com particular destaque para a Ginástica, que atingiu os 3500 praticantes. Foi também nesta altura que Carlos Lopes e Armando Marques se tornaram nos primeiros atletas Olímpicos do Sporting medalhados, enquanto Fernando Mamede batia o recorde do mundo dos 10 mil metros, isto sem esquecer os três títulos de Campeão do Mundo de Corta Mato obtidos por Carlos Lopes.

Apesar de toda esta obra notável realizada por João Rocha num período muito conturbado, no Futebol, depois de um arranque fulgurante, foram mais as derrotas do que as vitórias e muitos os erros cometidos e os revezes sofridos, principalmente nas "guerras" que protagonizou com um FC Porto emergente e com o seu líder Pinto da Costa, que custaram ao Sporting a perda de alguma influência no futebol português, e desgastaram muito o seu Presidente, de tal forma que quando este deixou a Presidência do Clube em 1986, o Sporting já tinha sido ultrapassado pelo FC Porto e entrara no pior período da sua história futebolística.

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