As claques


O Sporting foi quase sempre a locomotiva do desporto em Portugal e também foi assim no que diz respeito aos grupos organizados de adeptos. 

Tudo começou em 1949 com o Grupo Turístico Os Leões que nasceu de uma ideia de Robalo Cardoso, no sentido de criar um grupo de sócios com a missão de acompanhar e apoiar a equipa de futebol do Sporting nas suas deslocações à província e, ao mesmo tempo, aproveitar a iniciativa em termos de propaganda, com a distribuição de bandeiras, fotografias, emblemas e boletins.

O entusiasmo gerado pelas vitórias do Sporting fizeram desta ideia um sucesso, pelo que as excursões do Grupo Turístico Os Leões chegaram a movimentar milhares de adeptos leoninos, que se distinguiam pelo seu comportamento irrepreensível e por também incluírem senhoras, pelo que eram bem recebidos em todo o lado.

Posteriormente criaram-se outros núcleos de apoio, principalmente nas zonas limítrofes de Lisboa, que também alugavam autocarros para acompanharem o Sporting nos jogos fora de casa, sempre com o espirito de missão e sacrifício e sem pedir nada em troca e durante muitos anos foi assim que os adeptos se mobilizaram para apoiarem o Clube em todo País.

Mais tarde, já em 1970, a Direção do Sporting resolveu facultar  aos estudantes entrada gratuita para um dos topos do Estádio José Alvalade. A ideia era dar maior animação às bancadas e simultaneamente angariar simpatizantes nas camadas jovens. Convém referir que nesse tempo as crianças tinham entrada grátis desde que acompanhadas por um adulto, pelo que a rapaziada se amontoava nas portas do estádio à procura de alguém que lhes desse a mão e o passaporte para o espetáculo, mas depois quando cresciam já não tinham essa benesse.

Foi nesse ano de 1970 que um grupo de estudantes universitários brasileiros que estavam em Lisboa, aproveitou a oportunidade e começou a ir a Alvalade, dando um colorido até aí desconhecido nas bancadas dos estádios portugueses. Pela primeira vez viram-se adeptos vestidos com a camisola de um clube e tambores a animar a festa, o que teve algum impacto, de tal forma que se considerou que esse apoio foi importante para a conquista do campeonato da época de 1969/70.

Nas épocas seguintes a experiência repetiu-se, mas sem os brasileiros, que tinham regressado a casa, já não foi a mesma coisa e no início de 1972 a Direção resolveu acabar com a iniciativa, pois com os resultados menos bons da equipa de futebol e a infiltração de rapaziada pouco recomendável, verificaram-se alguns comportamentos considerados inaceitáveis num Clube com as tradições do Sporting.

Como curiosidade convém referir que em 1971 um jornal escocês publicou um artigo a propósito do jogo que o Rangers veio disputar a Alvalade nessa altura, onde se referia que os jogadores escoceses iam ter uma experiência diferente, ao atuarem perante um publico silencioso que assistia aos jogos ordeiramente sentado nas bancadas, só reagindo nos momentos de maior emoção, ao contrário do que acontecia em Glasgow, onde os espetadores apoiavam ruidosa e incessantemente a sua equipa.

Finalmente em 1976 surgiu a Juventude Leonina, a primeira claque portuguesa que foi fundada pelos filhos do Presidente João Rocha, uma iniciativa que foi seguida pelo aparecimento de outras claques, nos clubes rivais e também no Sporting.

O resto toda a gente já conhece. As claques cresceram, copiaram a cultura ultra oriunda de outros países, foram tomadas de assalto por marginais, tornando-se violentas e numa lucrativa fonte de negociatas escuras na revenda de bilhetes e no trafico de droga, ao mesmo tempo que ganhavam poder em troca do apoio a algumas Direções de que se tornaram numa espécie de braço armado, o que no que diz respeito ao Sporting culminou no tristemente célebre episódio do ataque a Alcochete.

Aquilo que fora uma bonita ideia, transformou-se numa fonte de problemas para os clubes, que passaram a ter de suportar constantes multas resultantes do mau comportamento das claques e para as autoridades que foram obrigadas a vigiar e tomar conta de multidões de desordeiros, que tornaram os estádios e as suas imediações em lugares perigosos, espalhando o ódio e a violência, que já chegou a custar vidas e afastando assim muita gente do futebol.


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