O regresso de Brás Medeiros


Na sequência da Crise de 1965, o Conselho Geral indicou o nome de Brás Medeiros para a Presidência do Sporting Clube de Portugal, mas aquele dirigente impôs algumas condições para aceitar esse pesado encargo, nomeadamente a revogação dos Estatutos vigentes, carta branca para alienar a Sede da Rua do Passadiço e principalmente a necessidade de se assegurar uma contribuição voluntária da parte de um grupo de associados no montante de 300 mil escudos mensais, durante todo o período da sua gerência, que considerava que deveria ser de três anos.

As condições de Brás Medeiros foram aceites e o seu mandato prolongou-se não por 3, mas por 8 anos, período em que se tomaram importantes decisões para o futuro do Clube e durante o qual o Sporting assegurou alguma estabilidade no capítulo financeiro, ao mesmo tempo que recuperou parte do tereno perdido em termos desportivos.

Assim foi criado o Núcleo dos Mil, que visava constituir um grupo de mil sócios que se quotizasse mensalmente num mínimo de quinhentos escudos, ao mesmo tempo que foi lançada uma campanha de angariação de novos sócios, que durante esta gerência chegaram a ser 42 mil, quase o dobro dos existentes em 1965. No entanto as verbas resultantes destas medidas não atingiram os objetivos traçados, embora tenham sido fundamentais para a sobrevivência do Sporting enquanto grande Clube.

Por outro lado foi decretada uma rigorosa política de contenção de custos, que determinava que à exceção do Futebol e do Ciclismo, este graças ao patrocínio da Gazcidla, todas as outras modalidades passariam a viver em puro amadorismo. Apesar disso o Sporting continuou a dominar por completo no Atletismo, com o despontar de novas grandes figuras como Carlos Lopes e Fernando Mamede e foi neste período que o Clube formou a grande equipa de Andebol que ficou conhecida como Os Sete Magníficos, enquanto o Ciclismo vivia a sua época de ouro, com Joaquim Agostinho a ganhar 3 Voltas a Portugal e a brilhar no Tour de França.

Os novos Estatutos, que viriam a ser aprovados em 1968, determinavam a extinção do Conselho Geral e do Conselho dos Presidentes, que foram substituídos pelo Conselho Leonino, para assim se sanarem as polémicas resultantes da anterior versão dos Estatutos, nomeadamente em relação à compra de lugares no Conselho Geral. Porém, o novo órgão consultivo continuava a deter a competência de indicar os Presidentes da Assembleia Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal.

Foi também nesta altura que foi concretizado o acordo tripartido com o Sport Lisboa e Benfica, que assim devolvia os terrenos do Campo Grande que ocupava desde 1940 e com a Câmara Municipal de Lisboa, que acertou com o Sporting a venda e permuta de alguns terrenos situados junto ao Estádio José Alvalade, que se  destinavam a ampliar as instalações desportivas do Clube. Em contrapartida o Sporting comprometia-se a entregar à Câmara a sua Sede da Rua do Passadiço e a reservar-lhe permanentemente e exclusivamente, dois camarotes no Estádio José Alvalade

Para além disso estava projetado o fecho da bancada do Estádio e o aproveitamento dos baixios da mesma para lá instalar dois pavilhões para as modalidades, o que no entanto só se viria a concretizar em 1983.

Mas foi a ditadura dos resultados da equipa de Futebol que ditou o fim deste ciclo, que nessa matéria até começou bem com a conquista do Campeonato Nacional de 1965/66, que interrompeu um domínio quase absoluto que o Benfica exerceu nesse período. No entanto nessa altura faltou algum jogo de cintura a Brás Medeiros, que não só não conseguiu segurar a dupla vitoriosa formada por Otto Glória e Juca, como falhou por completo na escolha dos treinadores que se seguiram.


Na época 1969/70 o Sporting voltou a ser Campeão agora sob o comando de Fernando Vaz e com uma equipa que tinha sido progressivamente renovada, mas mais uma vez este embalo não foi aproveitado, com o Sporting a falhar em alguns momentos cruciais, numa altura em que a grande equipa do Benfica dos anos 60 estava em fim de ciclo, mas conseguiu passar a perna ao Sporting na contratação de jogadores como Toni, Artur Jorge, Rui Rodrigues ou Victor Baptista, enquanto o grande avançado que Fernando Vaz tanto desejava chegou tarde e não terá sido muito bem recebido no balneário, nem pela imprensa avermelhada que tudo fez para desvalorizar Yazalde que chegara a Portugal com a marca de craque de nível internacional e o peso de ser a contratação mais cara de sempre no futebol português, considerada uma loucura.

Com os maus resultados da equipa de Futebol a primeira cabeça a rolar foi, como de costume, a do treinador e a contratação do inglês Ronnie Allen também não deu certo, com os casos de indisciplina e de arbitragem a sucederem-se, fazendo esgotar a paciência dos sócios, que protagonizaram uma invasão de campo que originou a interdição do Estádio José Alvalade.

Assim Brás Medeiros abandonou a Presidência do Sporting Clube de Portugal em Abril de 1973, quando já acusava algum desgaste, pois apesar da obra feita, não tinha conseguido recuperar para o Clube uma posição de hegemonia no Futebol, que os sócios exigiam.

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