A crise dos 60


A ideia de uma grande equipa inspirada no modelo do Real Madrid não tinha vingado e a situação financeira do Clube continuava a ser preocupante, pelo que a contestação a Brás Medeiros subiu de tom e a sua saída tornou-se inevitável. 

Nos quatro anos que se seguiram, o Sporting teve quatro Presidentes diferentes, quase em regime de comissão de serviço. A nova ordem inverteu a politica no futebol com a "nacionalização" do quadro de jogadores e a insistência num grande treinador estrangeiro. Bela Guttmann, Helénio Herrera, Flávio Costa, Dorival Yustrich e Luis Antonio Carniglia, foram alguns dos nomes de que se falou. Mas falou-se muito e pouco se acertou, exceto com Otto Glória, que no entanto nas suas duas passagem por Alvalade acabou por sair a mal, de tal forma que em 1966 garantiu que "no Sporting nunca mais". A melhor solução passou sempre por Juca, mas a esse nunca lhe deram o estatuto de primeira escolha.


Se o futebol não andava bem, apesar do rebuçado que foi a conquista da Taça das Taças, as finanças também não e mais uma vez as soluções passavam essencialmente pelo recurso aos associados mais abonados, considerando-se que a ditadura dos resultados da equipa de futebol exercia uma influência excessiva sobre o estado de espírito dos adeptos e que o Sporting em vez de mais sócios, precisava de melhores sócios.

Assim foram encerradas várias modalidades amadoras e a Sede da Rua do Passadiço foi hipotecada com vista à sua a posterior venda e consequente transferência dos serviços e atividades desportivas ali sediados para o Estádio José Alvalade, enquanto os novos Estatutos, aprovados em 1964, consagravam a criação do Conselho dos Presidentes, que passava a ter a incumbência de escolher os membros da Mesa da Assembleia Geral, ao mesmo tempo que a apreciação e votação das contas deixava de ser uma atribuição da Assembleia Geral, passando a ficar a cargo do Conselho Geral.

Nessa altura estimava-se que o passivo total do Clube ascendesse aos 53 mil contos, pelo que foi aprovada um cota mensal extra e a emissão de títulos patrimoniais no valor de 1000$00, que poderiam ser liquidados em 12 prestações, em troca de alguns privilégios, nomeadamente um assento no Conselho Geral para quem adquirisse 5 títulos. 

Estas medidas geraram alguma controvérsia junto à maioria dos sócios que não tinham condições financeiras para assumirem tais encargos, no entanto uma comissão incumbida de proceder a um estudo minucioso sobre a situação financeira do Clube, considerou que esta só seria resolvida com dinheiro e organização, duas coisas que escasseavam no Sporting, o que só poderia ser ultrapassado se as elites da coletividade em vez de se odiarem cordialmente, trabalhassem em comunhão de interesses, pelo que se apelava a que o bom senso prevalecesse, ao mesmo tempo que se apresentavam como alternativas imediatas para remediar a situação, o aparecimento de um grupo de sócios com sólida situação financeira que obtivesse junto da banca um regime suave de amortização da dívida ou, oferecessem o seu aval para a obtenção de um crédito a longo prazo que permitisse a liquidação imediata dos empréstimos bancários vigentes.   

A juntar a tudo isto o Futebol ia de mal a pior, chegando-se ao ponto em que que foi uma derrota da equipa de Reservas em Alvalade, que custou o Campeonato Regional da categoria, a gerar uma contestação considerada intolerável, pelo que em Janeiro de 1965 a Direção do General Homem de Figueiredo demitiu-se em bloco. 

Depois de alguns meses de avanços e recuos, tornou-se inevitável uma mudança de rumo e foi então que o nome de Brás Medeiros voltou a ser considerado para a Presidência do Clube.

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