Um Clube tão grande como os maiores da Europa


Joaquim Oliveira Duarte tinha lançado os alicerces, mas foi o triunvirato constituído por Ribeiro Ferreira, Góis Mota e Palma Carlos que concretizou a profecia que é atribuída a José Alvalade, quando nos tempos da fundação desejou que o Sporting se tornasse num Clube tão grande como os maiores da Europa.

Os dois primeiros eram ilustres figuras ligadas ao estado novo e foram eles que lideraram o Clube nos seus anos de ouro, enquanto o terceiro era um prestigiado advogado que ocupou a Presidência da Mesa da Assembleia Geral nesse período brilhante, que mediou entre 1946 e 1957.

Uma das primeiras medidas da Direção eleita em Janeiro de 1946 foi a contratação de Cândido de Oliveira para o lugar de Coordenador Técnico do Futebol e seria ele, em conjunto com Robert Kelly, a lançar a grande equipa dos Cinco Violinos, que já sem Peyroteo teria continuação sob o comando de outro inglês, Randolph Galloway.

Considerando que a época 1957/58 ainda faz parte deste ciclo vitorioso do Sporting, neste período o futebol do Clube conquistou 8 Campeonatos Nacionais e 2 Taças de Portugal, isto numa altura em que não havendo ainda as competições europeias, as grandes equipas já se desdobravam em apetecíveis confrontos internacionais, com o Sporting a obter alguns resultados históricos como as goleadas por 8-2 sobre os franceses do Lille e os suecos do Norrköping, ou os espetaculares 6-3 aplicados ao Atlético de Madrid no Estádio Metropolitano, com 6 golos de Jesus Correia.

Estes feitos tornaram o Sporting num Clube com um enorme prestigio no mundo do futebol, pelo que a sua equipa era frequentemente convidada para a inauguração de grandes estádios e outras ocasiões festivas, ou para as na altura tradicionais digressões ao estrangeiro, e assim o Sporting deslocou-se à Suécia, foi várias vezes ao Brasil e a África e foi o representante de Portugal na primeira edição da Taça dos Campeões Europeus, a convite da UEFA, só faltou mesmo a conquista da Taça Latina, competição na qual o Sporting participou quatro vezes, chegando à Final em em 1949.

Simultaneamente o Sporting enriqueceu o seu património comprando o campo conhecido por Lumiar A, e fazendo significativas melhorias no Estádio de Lisboa, nomeadamente o seu arrelvamento, ao mesmo tempo que avançava finalmente para a construção do novo Estádio José Alvalade que foi inaugurado em 1956 e que teve em Góis Mota o seu grande obreiro.

A compra da histórica Sede da Rua do Passadiço onde antes tinha funcionado o Clube Alemão, foi outro ato de gestão importante, com o Sporting a instalar-se num espaço com a dignidade própria de um grande Clube, onde passou a ter as suas instalações sociais com restaurante, bar, salão de festas onde até se podiam dar sessões de cinema, salas de convívio e de jogos para os sócios, biblioteca, barbearia, instalações para a Direção e para os serviços, sala de troféus, posto médico, gabinete para a imprensa e ginásio. Um luxo. Mais tarde seria construído um campo para as modalidades. 

Históricos passaram a ser também os grandes eventos organizados pelo Sporting, como a vinda a Portugal do espetáculo Holiday on Ice ou dos Globetrotters, isto para além da realização de festivais internacionais de Ciclismo, saraus de Ginástica e ralis, numa altura em que o Clube tinha uma importante secção de Motorismo.

O crescimento também se verificou ao nível das modalidades, onde o Sporting para além do seu tradicional domínio no Atletismo e no Andebol, conquistou os seus primeiros títulos nacionais no
Basquetebol, no Voleibol e no Ténis de Mesa.

Todo este crescimento implicou também o aumento do numero de sócios que já eram mais de 12 mil quando em 1948 foram fechadas as inscrições, por se considerar que o Clube ainda não tinha condições para dar a tanta gente os mesmos privilégios, nomeadamente no acesso às suas instalações. Era o tempo em que se dizia que era sócio do Sporting quem podia e não quem queria.

No entanto esta situação já revelava as preocupações dos dirigentes leoninos em evitarem que o Clube, que já era muito apetecível, caísse nas mãos erradas e foi assim que nos sétimos Estatutos do Sporting foi criado o Conselho Geral, um órgão definido como "corpo consultivo que se destina a manter as tradições gloriosas do Sporting Clube de Portugal e a zelar pelo seu prestígio e continuidade dentro do pensamento dos seus fundadores", isto numa altura em que se considerou que nas Assembleias Gerais se poderia correr o risco do abastardamento da ideia que presidira à fundação do Clube.

Assim passou a caber ao Conselho Geral, um órgão onde tinham assento entre 100 a 200 elementos das elites leoninas, a responsabilidade de escolher os membros da Mesa da Assembleia Geral e de indigitar os Presidentes e Vice Presidentes da Direcção e Conselho Fiscal que posteriormente escolhiam os restantes membros daqueles órgãos. 

Foi já com este respaldo e considerando que  atividade desportiva era cada vez mais deficitária e que a cotização era a par das bilheteiras a maior receita do Clube, que em 1950 se estabeleceu os 20 mil sócios como o número que permitiria a viabilidade financeira do Sporting, sem vulgarizar a condição de associado do Clube.

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