Mestre Szabo


Joseph Szabo foi uma das maiores figuras do futebol português e do Sporting em particular, sendo o treinador com mais jogos (327), mais vitórias (236) e mais títulos conquistados ao serviço do Clube (13), mas infelizmente nunca lhe foi dado o destaque que merecia, ao ponto de quase ter sido esquecido. 

Internacional húngaro, Szabo chegou a Portugal numa digressão do Szombathely e ficou, primeiro como treinador-jogador do Nacional e do Marítimo da Madeira, transferindo-se depois para o FC Porto onde ganhou 8 Campeonatos Regionais consecutivos, o Campeonato de Portugal de 1932 e a primeira edição do Campeonato da Liga, em 1935. 

Um desentendimento com um dirigente portista empurrou-o para o Sp. Braga, mas deixou saudades no Campo da Constituição e um ano depois, numa altura em que já se preparava uma Assembleia Geral para autorizar o seu regresso ao FC Porto, Joaquim Oliveira Duarte antecipou-se e ofereceu-lhe um contrato excecional, que foi anunciado no dia 27 de Fevereiro de 1937, com a novidade de prever prémios de jogo.

No Sporting Joseph Szabo  treinava todas as equipas, desde os principiantes até à primeira categoria. Ministrava a preparação física, orientava os treinos de conjunto, dava longas lições de tática utilizando os seus famosos "mónecos" e até era massagista, passando assim o dia inteiro nas instalações do Clube onde, apesar do seu feitio autoritário, era muito querido e respeitado por todos, mesmo que por vezes brincassem com ele, principalmente por causa das suas reações num português carregado de sotaque e misturado com alguns palavrões, que maldosamente lhe tinham ensinado.

Em 8 anos no Sporting, Joseph Szabo  ganhou seis Campeonatos de Lisboa, um Campeonato de Portugal, dois Campeonatos Nacionais, uma Taça de Portugal e a Taça Império, havendo ainda a referir três Campeonatos Regionais de Reservas, um de 2ª Categoria, um Regional e um Nacional de Juniores, sendo que também foi ele que no final do ano de 1939, juntamente com Alfredo Perdigão, pôs em marcha as primeiras escolas de futebol criadas em Portugal.


Nessa altura Szabo construiu a grande equipa que antecedeu àquela que ficou conhecida como a dos Cinco Violinos, contribuindo para a ascensão de grandes jogadores, com destaque especial para Peyroteo que lapidou, tornando-o numa máquina de fazer golos, e Jesus Correia, que descobriu em Paço de Arcos. 

A sua primeira passagem pelo Sporting terminou em 1945, numa altura em que já não tinha o apoio de Joaquim Oliveira Duarte, que que entretanto abandonara a Presidência do Clube, ele que sempre defendera o seu treinador de alguns ataques da exigente massa associativa leonina. Regressou então ao FC Porto, entrando depois na fase descendente da sua brilhante carreira em que trabalhou e conseguiu alguns êxitos em clubes de menor dimensão do nosso país, mas a sua competência e dedicação ao trabalho nunca foram esquecidas no Lumiar.

Nesse tempo era habitual que as equipas fossem comandadas por uma dupla formada por um treinador de campo que ministrava os treinos e um orientador técnico que escolhia o onze (não havia substituições) e estabelecia as táticas e foi como treinador de campo que Joseph Szabo regressou ao Sporting em Maio de 1953, para trabalhar com o seu antigo pupilo Álvaro Cardoso e depois ao lado de Tavares da Silva, ganhando mais uma Taça de Portugal e o Campeonato Nacional que fechou o primeiro tetra da história do nosso futebol. Mais tarde, na época de 1964/65, voltaria a ser chamado pelo Sporting para desempenhar as funções de treinador de campo, trabalhando com Anselmo Fernandez e Armando Ferreira.

A carreira de Mestre Szabo, como era conhecido no Sporting, terminaria em 1966 em Angola. Curiosamente, ele que se naturalizara português, passando a ser o José Sezabo, perderia um filho na guerra colonial, isto depois de ver o seu outro filho, que chegou a ser guarda-redes das reservas do Sporting, condenado a uma cadeira de rodas em consequência de um acidente de viação.

Terminou os seus dias, como era seu desejo, no Lar do Sporting por baixo das bancadas do Estádio José Alvalade, onde faleceu com 76 anos de idade, no dia 17 de Março de 1973.

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