Varandas em brasa

O discurso de Frederico Varandas em Carregal do Sal foi violento e naturalmente já gerou reações, e mais irá gerar, principalmente da parte da corte de Pinto da Costa, que acusa o Presidente do Sporting de incendiar o futebol português com declarações pirómanas, como se isso fosse uma novidade no mundo da bola do nosso país. De resto já no tempo de Bruno de Carvalho era a mesma coisa, ele é que tinha a culpa de mau ambiente e das guerras, pois até aí todos tinham vivido na paz dos anjos.

Agora tudo começou quando Pinto da Costa sentiu que o Sporting estava a morder os calcanhares ao FCP e resolveu aconselhar Frederico Varandas a dedicar-se à medicina, ao que este prontamente respondeu com a célebre frase do "bandido", que até já está em tribunal, seguiram-se os lamentáveis episódios na garagem do Dragão e as indiretas do presidente portista à forma como Varandas chegou à presidência do Sporting, isto sem esquecer os elogios envenenados a Bruno de Carvalho, o que revela que Pinto da Costa neste momento olha para o Sporting como seu principal alvo.

O modo de atuar do presidente do FCP sempre foi este. Ele elege um dos outros dois grandes clubes como rival externo, que representa o centralismo da capital, criando um sentimento de união no universo portista contra "os mouros" de Lisboa e ao mesmo tempo pisca o olho ao outro desses rivais, sabendo que eles se odeiam e até vivem lado a lado. Uma estratégia que tem resultado, pelo que ele a repete ano após ano.

Desta vez a resposta de Varandas foi dura e na verdade não acrescenta grande coisa, principalmente porque o presidente leonino se apresentou como alguém fora da caixa do tradicional perfil do dirigente dos clubes portugueses, mas seguramente que agrada à ala mais extremista dos Sportinguistas, embora alguns deles até numa situação destas tomem partido do rival, tal é o ódio que os move contra Frederico Varandas.

E por falar em ódio, ontem até acabou por ser divertido ver o Rodolfo a deitar fumo pelas orelhas dizendo odiar o Varandas, e convidando-o a pô-lo em tribunal, ao mesmo tempo que o acusava de ser o  responsável por eventuais desacatos e violência que venham a acontecer nos estádios e pavilhões deste país, naquilo que pode ser lido como uma ameaça. Ou seja, ele acusa o Presidente do Sporting de incendiar o ambiente, mas logo se apressa a lançar mais achas para a fogueira, e mesmo que não tenha as responsabilidades de um dirigente, é um comentador com voz no espaço público que também deve medir as suas palavras.

Diz o comentador mais acirrado da impagável cmtv, que Pinto da Costa apenas constata realidades quando considera Varandas um incompetente ou, coloca em causa a sua legitimidade, e de facto ele até pode ter razão quando afirma que o dirigente leonino tem pouco jeito para estas coisas da bola, embora seja visível que o homem está a aprender depressa, mas acontece exatamente o mesmo quando o presidente do Sporting relembra as escutas do "apito dourado", a fuga para Vigo ou, as agressões a jornalistas, são factos realmente reveladores do perfil do presidente portista, que apesar de tudo isto continua a ser bajulado pelo poder político e até pela imprensa.

No fundo Frederico Varandas apenas constatou algumas realidades que poucos tem coragem para abordar, mesmo que o faça com os olhos na política interna e em defesa dos ataques de que foi alvo, e se é verdade que este tipo de declarações não acrescentam muito, também é uma realidade que estas trocas de galhardetes não são novidade no futebol português e não foi ele quem as inventou. É apenas mais do mesmo, e só se estranha por vir de alguém de quem se esperava que não descesse a este nível, mas se há algo de que não o podem a acusar, é de ter sangue de barata.

 

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