As diferenças do Sporting diferente


As assembleias gerais dos clubes para aprovação de contas e orçamentos são por norma olhadas como uma mera formalidade, às quais geralmente só comparecem umas centenas de associados, pois o pessoal não está para perder tempo com a análise de documentos que já de si não são de fácil leitura para leigos, também para que eles não chateiem muito. Por isso a regra é que desde que a bola entre na baliza a malta aprova tudo, mesmo quando os prejuízos são assustadores.

No Sporting no último ano as contas já foram chumbadas duas vezes e se na primeira a contestação era crescente depois de uma época desportivamente desastrada, agora o Sporting vive o melhor ano da sua brilhante história e até apresentou contas positivas, com um recorde de receitas de quotização, numa altura em que ainda vivemos com os constrangimentos de uma pandemia.

A realidade no entanto é que os chumbos nas últimas assembleias gerais do Sporting tem um significado meramente político, pois a maioria dos sócios que lá foram não querem saber da situação financeira, ou desportiva do Clube, tendo como única motivação o ódio aos atuais dirigentes do Sporting a quem prometem nunca dar tréguas.

Frederico Varandas era uma figura consensual no universo leonino, não só pela sua inegável competência enquanto Diretor Clinico do Clube, mas também pela paixão que revelava na maneira como vivia os jogos no banco dos suplentes, de tal forma que terá sido um dos poucos que sobreviveram à limpeza que Bruno de Carvalho fez nas posições chave logo que chegou ao Sporting.

No entanto esse capital de simpatia perdeu-se a partir do momento em que ele se demitiu em plena crise institucional, aproveitando a oportunidade para se assumir como futuro candidato à Presidência do Sporting, mesmo antes de haver uma garantia de que teríamos eleições antecipadas, uma jogada de antecipação que lhe valeu alguns apoios importantes, mas também o ódio da parte dos "brunistas" irredutíveis, que o apelidaram de traidor e o elegeram a partir daí como o seu principal alvo.

Como se não bastasse Varandas afrontou as claques, que sendo muito importantes no apoio às nossas equipas, também se transformaram numa fonte de problemas, porque lhes deram tanta força que eles se julgaram os donos do Clube e agiam como tal, o que resultou em prejuízos incalculáveis para o Sporting. 

São portanto duas frentes de combate interno que Varandas enfrenta. De um lado os que perderam fontes de rendimento mas conseguem manter as suas tropas unidas graças a um espírito de corpo muito forte, que resulta de muitos anos de militância acirrada em nome de um ideal com características muito próprias, do outro um grupo de adeptos que vá-se lá perceber porquê, ficaram como que encantados por um daqueles lideres de pés de barro que na hora do aperto mostrou a sua total incapacidade para as funções que desempenhava de uma forma completamente autocrática e desequilibrada, mas que mesmo assim continua a ter uma troupe de seguidores irredutíveis.

Pode-se pois dizer que estão frente a frente "o Sporting dos croquetes", um Clube de raízes elitistas que nasceu e cresceu na crença da sua superioridade moral e intelectual, que nunca teve grandes tradições democráticas, pelo que sempre sentiu algumas dificuldades em lidar com a base popular que foi ganhando ao longo dos tempos, pelo facto de ter conseguido obter e consolidar o seu estatuto de grande Clube, também graças a esse apoio.

Do outro lado está "o Sporting somos nós" de um grupo de adeptos maioritariamente jovens e oriundos de camadas sociais mais baixas, que imagina um Sporting que nunca existiu, ou que quanto muito teve uma existência efémera nos 5 anos do "furacão Bruno" que deixaram um rasto de destruição, mas também essa crença de que é possível um Sporting diferente, do Sporting diferente a que todos estamos habituados.

O problema é que esse grupo defende princípios que nada tem a ver com aquilo que se pode chamar de "a tradicional cultura sportinguista", e age de acordo com esses princípios na defesa de uma mudança que querem impor à força, com os resultados que se tem visto. Para eles vale tudo, desde insultos a agressões, em nome de um Sporting musculado, com camisola de alças e muitas tatuagens, que se confunde com os nossos rivais e até consegue ser pior do que eles, ao vestir uma roupagem que não é a sua.

Pela minha parte enquanto "croquete" assumido, só me resta desejar que esta e as Direções seguintes, consigam manter o Sporting na senda das vitórias recentes, que também são fundamentais para a necessária sustentabilidade financeira do Clube, para assim travarem o crescimento destes movimentos perigosos para o futuro do Sporting Clube de Portugal, pelo qual eu sinceramente temo se nós não formos capazes de passar a nossa cultura às gerações vindouras, o que também só será possível com algumas mudanças no comportamento das Direções que tem de perceber que vivemos tempos diferentes.


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