Campeões! E agora?


Contra todas as expectativas o Sporting foi Campeão Nacional numa época em que quanto muito era considerado como candidato ao 3º lugar, que dava acesso à pré eliminatória da Liga dos Campeões e no meio de uma guerrilha interna que só foi sossegando porque os surpreendentes resultados da equipa de Futebol obrigaram os grupos armados a calarem-se.

A contratação do jovem treinador Rúben Amorim em Março de 2020, que na altura foi considerada como um arriscado "all in" do Presidente Frederico Varandas, revelou-se numa jogada acertada e hoje ninguém duvida que foi esse o principal fator da mudança que se verificou no Futebol Leonino, pelo que os louros também tem de ser divididos com Hugo Viana que terá sido o grande mentor desta opção de risco.

O que aconteceu na época passada foi tão diferente daquilo que nós Sportinguistas estamos habituados que por vezes até nos custava acreditar. Foram várias vitórias em cima da hora, uma delas num "derby", foram jogos ganhos a jogar pouco, foram vitórias também contra arbitragens que tudo fizeram para nos prejudicar, foi aquela vitória em Braga com menos um jogador desde os 18m, numa jornada que era apontada como o fim do nosso sonho, mas que em vez disso pôs um ponto final nas aspirações dos nossos rivais, isto sem esquecer a épica vitória no lamaçal da Choupana e até um golo precedido de um toque acidental com a mão, tivemos, sem que o VAR desse por nada. Parecia que os astros estavam alinhados a nosso favor, coisa a que obviamente não estamos habituados.

E por falar em hábitos, não posso deixar de referir aqui que desde o tempo dos 5 Violinos sempre que o Sporting ganha um Campeonato acontece alguma coisa que estraga tudo, na maior parte das vezes com autênticos tiros nos pés, como foram por exemplo a insistência em procurar um treinador consagrado em 1962, a não renovação dos contratos com a dupla de treinadores formada por Otto Glória e Juca em 1966, a demissão de Mário Lino em vésperas da Final da Taça de Portugal de 1974, as convulsões vividas na crise institucional de 1980, a escolha de António Oliveira para treinador-jogador em 1982, o sai que não sai Augusto Inácio e o entra que não entra de José Mourinho em 2000, embora também tenham acontecido algumas coisas daquelas que nós nos habituamos a aceitar como uma espécie de "fado leonino", geralmente referenciadas com um conformado "isto só no Sporting", como foram as 5 bolas aos ferros num jogo que quebrou a invencibilidade da equipa de Fernando Vaz em 1970, as bebedeiras de Malcolm Allison em 1982 ou, o "caso Jardel" em 2002, isto sem esquecer as sempre presentes arbitragens à medida dos interesses dos nossos rivais.

Mas desta vez Frederico Varandas promete que a mudança de mentalidades que Rúben Amorim trouxe e que alguns apelidam de "estrelinha" é para ficar e para já deu um passo de gigante ao garantir a continuidade do treinador, que por sua vez já mostrou o que é que planeou para a nova temporada, quando afirmou que não quer mexer muito no seu plantel, defendendo a continuidade dos principais jogadores, mesmo admitido que o Sporting terá de fazer uma ou duas vendas que serão compensadas com a entrada de jogadores à medida do modelo de jogo implantado. Chama-se a isto inteligência mais competência, ou seja, uma fórmula de sucesso. Vamos a ver se é mesmo para seguir à risca.

Se no Futebol o caminho parece estar traçado e nas modalidades de alta competição apesar do inevitável emagrecimento dos orçamentos, os títulos continuam a enriquecer o Museu Sporting, sendo aqui de salientar o bom trabalho de Miguel Afonso, o Vogal da Direção responsável por esta área, não nos podemos esquecer que na próxima temporada o público regressa às bancadas e que 2022 é ano de eleições, pelo que para além das armadilhas que os nossos rivais nos irão montar depois de perceberem que o Leão está outra vez de garras afiadas, temos de contar também com alguma instabilidade interna, que será tanto maior quanto piores forem os resultados obtidos nos campos e nos pavilhões.

O cessar fogo na guerra com as claques está longe de significar uma paz duradoura, pelo que estou muito expectante em relação ao que vai acontecer com a reabertura das bancadas, que provavelmente terá os seus primeiros episódios nos últimos jogos dos play-offs do Futsal e do Hóquei em Patins, mas é no Futebol que se vai ver até que ponto foi possível abrir caminhos para um entendimento que na minha maneira de ver só será viável se as claques quiserem efetivamente assumir o seu papel de principal fonte do apoio às nossas equipas em todos os estádios e pavilhões deste país, esquecendo as negociatas e os jogos de poder para os quais não estão vocacionadas. Resta saber se eles estão prontos para abrir mão das benesses conquistadas.

Quanto ao resto, as eleições serão inevitavelmente um foco de discussão que é compreensível e até desejável e fundamental para a saúde de um Clube que queremos vivo e com futuro, isto desde que tudo seja feito com a elevação e o nível próprios da cultura sportinguista. Infelizmente há um pequeno grupo, embora muito ruidoso, que age essencialmente no anonimato da internet, cuja agenda é marcada por uma adoração irracional ao anterior Presidente do Sporting que para eles está acima de tudo, até do próprio Clube que deveria ser o centro das atenções. Trata-se de um grupo de extremistas que acreditam que tudo o que se passou no Sporting em 2018 foi planeado por um conjunto de golpistas formado por Frederico Varandas, José Maria Ricchiardi, Rogério Alves e Jorge Jesus, com a colaboração da cmtv e portanto a única coisa que os move é o regresso do seu D. Sebastião para repor o regime totalitarista deposto e vingar-se dos infiéis.

É claro que nada disso vai acontecer, no entanto todo o cuidado é pouco nestes meses que nos separam das eleições, em que quanto pior melhor será, não só para os nossos rivais, mas também para Bruno de Carvalho e seus apaniguados, no entanto se pelo contrário as coisas continuarem no bom caminho para o Sporting, pouco espaço lhes restará para além do que hoje ocupam por essa internet fora, onde qual o seu herói irão continuar agarrados às mirabolantes teorias da conspiração. De uma forma, ou de outra, gostava que tivessem a coragem de apresentar uma lista para concorrer às eleições que propusesse o seu "caríssimo" para a presidência da SAD, no entanto duvido muito que haja gente suficiente e com coragem para tanto. Não ia ser bonito de ver e ouvir, mas seria pelo menos esclarecedor. Arranjem lá outra Judas e outro Barros.

O que é certo é que estamos mais uma vez a atravessar um período muito importante na vida do Sporting onde para já Frederico Varandas resistiu, e bem, à tentação de provocar eleições antecipadas para aproveitar o momento mais favorável da sua gerência, mas agora ou seguimos em frente no rumo que esta Direção parece ter encontrado depois de alguns ziguezagues, seja com uma lista da continuidade ou, com qualquer outra alternativa que apresente propostas credíveis e convincentes para um mandato que terá problemas muito importantes para resolver como a questão das vmoc's ou, voltamos aos costumeiros tiros nos pés dos quais o atual Presidente também não esteve isento e perdemos outra vez o comboio. Tem a palavra o próprio Frederico Varandas que ou segue o exemplo do seu treinador que contra todas expetativas ultrapassou o Cabo das Tormentas e o Cabo da Boa Esperança e chegou ao seu glorioso destino, ou pelo contrário será mais um a naufragar, ainda por cima depois de ter feito a parte mais difícil deste percurso. Para bem do Sporting, espero sinceramente que o homem consiga surpreender todos os que não acreditaram, ou que simplesmente duvidaram dele, como eu duvidei, e que se possível até ultrapasse as nossas melhores expetativas.


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