A hora de Varandas


Frederico Varandas não foi contemplado com o dom da palavra e o melhor que fez ao longo desta temporada foi manter-se afastado dos microfones, reduzindo as suas intervenções publicas ao estritamente necessário e delegando o papel de porta voz da Direção em Miguel Braga, que desempenhou essas funções ao nível de um Clube com as nobres tradições do Sporting.

Mesmo na hora da festa tão ansiada, o Presidente manteve-se discretamente na retaguarda, dando o palco ao treinador e aos jogadores que foram sem dúvida os grandes obreiros desta épica e inesperada conquista, o que não invalida que Varandas tenha tido os seus méritos neste título, que passaram essencialmente pela coragem que teve em acreditar numa jogada de alto risco como foi a contratação de Rúben Amorim.

No entanto Frederico Varandas também teve a sua oportunidade para brilhar e desta vez não a desperdiçou, surgindo na Câmara Municipal com um discurso virado simultaneamente para fora e para dentro e em ambos os casos com alvos bem definidos e com uma mensagem muito abrangente que julgo refletir o pensamento da esmagadora maioria dos Sportinguistas.

O Presidente do Sporting começou por cumprimentar "os nossos dois rivais" pondo logo aí o Salvador no seu lugar, para depois ironizar com as desculpas esfarrapadas de quem não digeriu a derrota e frisar que não devemos confundir as instituições com as pessoas que em determinado momento por lá passam, embora me tenha parecido escusada a resposta ao oportunismo de Pinto da Costa quando classificou a festa do Sporting como "degradante". 

De seguida o líder leonino salientou que as enormes diferenças entre os orçamentos e os investimentos dos nossos adversários e aqueles com que o Sporting pode contar, não foram impeditivas da vitória de "os de bem", distinguindo assim a cultura de um Clube que se proclama como "diferente", sem se esquecer de destacar o papel decisivo de Hugo VianaRúben Amorim e Sebastián Coates, enquanto líderes de um grupo que ficará na história do Clube.

Outra referência importante do discurso de Frederico Varandas foi em relação àquilo que ele apelidou de "mentalidade vencedora" de uma equipa que de facto ao longo de toda a temporada deu sinais de querer cortar com um certo fatalismo que se abateu sobre este Clube de há muitos anos a esta parte, um passado com que urge cortar numa mudança que se espera seja efetiva e não apenas pontual.

Para terminar veio o aviso de que para preparar esse futuro que desejamos, todos os Leões serão precisos, com uma inteligente referência aos sócios anónimos dos muitos grupos que emanaram do Sporting, naquele que foi um claro recado para as claques, que convém recordar que só existem porque o Sporting existe e que tem por missão servi-lo e não o contrário. Está dado o mote, agora a bola está do lado dos que gostam verdadeiramente do Sporting, que serão aqueles que estarão dispostos a colocá-lo acima de tudo, embora seja certo e seguro que alguns vão continuar de armas em punho entrincheirados à espera de uma oportunidade para reatarem as suas guerras.

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