Cashball parte II


O processo cashball ficará para sempre na minha memória como o maior abalo no meu sportinguismo militante. Já passei muitos desgostos resultantes dos insucessos desportivos que marcaram a história do Sporting nos últimos 50 anos, mas nunca vou esquecer aquela que foi a primeira vez em que tive vergonha de sair à rua enquanto sportinguista, porque eu posso até conviver com as derrotas no campo e já passei por muitas, mas vitórias assentes em corrupção, ou em jogos sujos nos bastidores é algo que nunca vou aceitar, porque se há alguma coisa em que ainda acredito é nessa superioridade moral resultante da cultura sportinguista que me permite dizer de peito cheio aos adeptos dos clubes rivais, que o Sporting até pode ganhar menos vezes do que o Benfica e o FC Porto, mas quando ganha é no campo, e não temos casos do "apito dourado" ou dos "e-mails" para nos envergonhar.

Já passaram quase três anos e para já neste processo há duas coisas saltam à vista: a primeira sempre foi clara, pois como é evidente o tal Paulo Silva que denunciou este caso, não ia confessar um crime que o pode levar à cadeia sem ter as mãos untadas para o fazer.

A segunda é o facto da atual Direção do Sporting sempre ter tratado este assunto com pinças, o que revela pelo menos algumas reservas em relação ao que se terá passado na altura e mesmo agora quando DIAP arquivou os processos relativos ao Sporting e a André Geraldes, a única reação foi o anuncio de que o Clube vai requerer a condição de assistente do processo que ainda está em curso.

Isto porque é preciso não esquecer que de acordo com as notícias que agora saem, sobraram três arguidos deste processo que são acusados de 14 crimes de corrupção ativa tentada a árbitros de Andebol. Tratam-se do tal Paulo Silva, do empresário João Gonçalves e do ex-funcionário do Sporting Gonçalo Rodrigues, havendo ainda a referir que pelo menos dois árbitros confirmaram que foram abordados pelo primeiro.

Como é óbvio o Sporting de que eu me orgulho não pode ter nada a ver com aquele clube onde o presidente não sabe que tem claques, nem que o responsável pela área jurídica da SAD anda a espiar os processos judiciais em que estão envolvidos, ou que um funcionário anda a escolher "padres" para "missas" encomendadas e muito menos que o seu motorista andava a traficar droga nas instalações e nas viaturas do clube, por isso nenhum Sportinguista que se preze vai acreditar que estes três artistas andaram a corromper árbitros para beneficiar o Sporting por sua conta e risco, da mesma forma que ninguém acredita que o Paulo Gonçalves tinha toupeiras só porque era muito curioso, ou que o Guerra trocava e-mails com o Adão só para se armar em grande.

Resta ainda acrescentar que o despacho de arquivamento agora tornado público fala em "vazio probatório" e "insuficiência de indícios" para imputar qualquer ato ilícito ao Sporting, para além de valorizar as posições subalternas dos funcionários envolvidos, á semelhança do que já tinha acontecido no caso e-toupeira. 

Para ajudar à festa André Geraldes já veio a terreiro fazer algumas insinuações, afirmando ter provas não se sabe bem de quê, embora se possa depreender que se estava a referir à atual Direção do Sporting que desejaria que o desfecho deste caso fosse outro. É mais um a atirar umas coisas para o ar, depois de se ter visto livre do aperto em que esteve metido, embora estranhamente não pareça querer mexer mais no assunto. Eu pelo menos se estivesse estado preso dois dias sem nada ter feito que o justificasse, ia querer ir até às últimas consequências para apurar responsabilidades e garantir que o meu nome ficava completamente limpo.

Perante tudo isto só restam duas hipóteses: ou este será mais um dos muitos episódios da justiça portuguesa em que os mandantes ficam sempre de fora por falta de provas, apesar dos indícios que são sempre insuficientes e nesse caso eu continuarei a sentir-me envergonhado enquanto sportinguista porque se houve tentativas de corrupção da parte do Sporting isso é inaceitável, ou então tudo não passou de uma montagem que tinha como alvo principal o na altura presidente do Sporting. A confirmar-se este cenário a Direção em exercício na altura deverá de ir até às últimas consequências no sentido de reparar de forma indiscutível os danos infligidos na reputação do Clube.

É isto que eu espero que a justiça consiga apurar de forma clara, custe a quem custar e mesmo que seja o Sporting a ficar mal na fotografia final, sendo que de uma forma, ou de outra, o denunciante terá de explicar quem é que lhe encomendou o serviço. Resta saber se ele está disposto, ou se recebeu o suficiente para pagar tudo sozinho, porque na verdade ele neste momento não está numa situação fácil e vai seguramente ser apertado.

É pois com um misto de curiosidade, receio e também alguma esperança, que eu aguardo pelos próximos episódios deste caso, onde tal como em relação ao campeonato de futebol em curso, ainda é muito cedo para os Sportinguistas fazerem a festa, pelo menos aqueles que prezam e respeitam verdadeiramente os valores em que assenta a cultura centenária do Sporting Clube de Portugal.


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