Natal em Famalicão

 


Já é velha a conversa do "Natal do Sporting", isto porque é frequente que quando a equipa tem um bom arranque de época, comece a derrapar em Dezembro e depois vá por ali abaixo. No entanto essa infeliz coincidência não tem nada a ver com o velhote das barbas brancas e muito menos com a cor do seu equipamento, estando sim relacionada com outros homenzinhos, que em tempos equipavam de preto, mas que agora andam mais coloridos e que sempre que o Sporting começa a incomodar lá aparecem com os seus apitos e as suas bandeirinhas, para acabarem com a festa antes que chegue o Carnaval.

Os tempos foram passando e hoje temos o VAR que veio complicar um pouco as coisas a esta rapaziada, mas mesmo assim eles andam aí e vocês sabem de quem é que eu estou a falar, ou seja de gente como Luís Godinho, que na minha opinião até é dos melhores árbitros portugueses, o que para o caso ainda é pior, pois estes sabem-na toda, não se comprometem em lances decisivos, mas inclinam o campo com mestria.

Foi isso que aconteceu ontem desde o início do jogo com a ajuda daquele que é o árbitro português mais cotado, também conhecido como o "vaidoso" e que é outro da mesma marca, ou pior. O Godinho ainda marcou o primeiro penálti, porque é como eu digo, em lances claros eles não se metem ao barulho, mas eu gostava de ver uma repetição esclarecedora em relação ao momento em que o guarda redes se lança, coisa que ultimamente os homens do VAR não tem perdoado.

Logo de seguida o árbitro foi rápido a mostrar o amarelo a Pedro Gonçalves, num lance que eu até vou aceitar que ele se fez ao penálti, mas que o guarda redes chegou primeiro à bola. De qualquer forma foi uma aplicação da lei muito rigorosa, mas que não se repetiu no início da 2ª parte, quando Venezuela se atirou descaradamente para o chão, merecendo a compreensão de Luís Godinho.

De resto esta condescendência já vinha da 1ª parte, quando Campana, que já tinha um amarelo, pisou Palhinha e o árbitro deixou andar para evitar uma expulsão, em nome da tal lei do bom senso, algo que eu até aceito, isto quando não há exageros como foi o caso de Pereyra, que já tinha ficado no limite da expulsão em cima do intervalo e que por volta dos 53m foi poupado outra vez, depois de uma entrada daquelas que já ultrapassa a tal critério da defesa do espetáculo, de tal forma que o treinador do Famalicão tratou logo de substituir o argentino, não fosse a paciência do árbitro esgotar-se.

No entanto parecia que o bom Godinho estava mesmo imbuído do espírito natalício e um pouco mais à frente foi a vez de Riccieli ser poupado ao segundo amarelo, depois de mais uma entrada ríspida sobre Tiago Tomás, porque na falta de melhores soluções os rapazes do Famalicão fartaram-se de distribuir fruta, pois afinal estamos num Natal diferente e cada um dá aquilo que têm.

Um pouco antes, ia sensivelmente o jogo a meio da 2ª parte com o Sporting a carregar na procura do 3-1, quando João Mário foi ostensivamente empurrado pelas costas, mas marcar dois penáltis a favor do Sporting num só jogo, pareceu ser demais para o Godinho, porque é verdade que o Natal está a chegar, mas também não vale a pena exagerar, isto enquanto o tal vaidoso ficou lá quietinho no seu canto, porque como todos sabemos o VAR é só mesmo para intervir em lances indiscutíveis, como de resto vamos ver um pouco mais à frente, isto sem esquecer que um empurrão pelas costas é uma questão de intensidade, pelo que se o Godinho achou que não era falta, não ia ser o Dias a dizer o contrário.

O jogo aproximava-se do fim, e o Godinho já cansado de tanta boa vontade sem que o resultado mudasse, resolveu ser mais interventivo puxando finalmente de um segundo amarelo para mostrar o cartão da cor do Natal  ao Pedro Gonçalves, pois a rapaz cometeu a barbaridade de dar com a sola na bola, depois dele ter assinalado uma falta com a qual se atreveu a discordar. Uma infração gravíssima, pois já se sabe que a bola não pode ser maltratada e muito menos deve ser comparada às canelas dos jogadores do Sporting, essas sim um alvo perfeito para os pitons adversários. Só não consigo explicar porque é que o Assunção não teve o mesmo tratamento quando em cima do intervalo afastou a bola para impedir o recomeço do jogo, mas de uma coisa eu tenho a certeza, se ele tivesse visto respetivo amarelo nessa altura, teria certamente sido poupado um pouco mais à frente, tal como foram os seus companheiros já atrás referidos.

A verdade é que o Sporting não arrumou a questão como devia ter feito e os esforços do Godinho lá deram resultado quando o Famalicão chegou ao empate com um belo golo na execução de um livre direto. Mas eis que no recomeço a bola foi bater na cabeça de Sebastián Coates e entrou. Foi então que o vaidoso acordou lá na Cidade do Futebol e descobriu que o uruguaio tinha tocado no braço do guarda redes famalicense, o que neste caso não tinha nada a ver com questões de intensidade, e nem sequer havia dúvidas nenhumas, era um lance de VAR.  Assim foi sem grandes hesitações e com alívio que o bom Godinho agradeceu a ajuda e anulou um golo que poderia ter estragado todo o seu esforço.

Devo dizer que esta é uma daquelas faltas de televisão, que em Inglaterra nunca são marcadas e na maior parte dos casos também não o serão, embora em Portugal onde se apita muito, possam ser consideradas, pelo que até aceito a decisão, embora me pareça que não era coisa para o VAR se meter, principalmente depois do tal empurrão ao João Mário, mas já se sabe que o Dias não gosta de passar despercebido e como é Natal toma lá disto, até porque na semana passada houve uma imperdoável distração em Alvalade.

Mas foi só depois do jogo que eu cheguei à conclusão de que afinal os pequenos contactos com o guarda redes são passíveis de falta, eu e mais não sei quantos comentadores e outros especialistas de arbitragem, que terão levado mais de 15 anos para perceberem que aquele golo do Luisão em Maio de 2005, afinal foi mesmo em falta. Mas pronto, na altura não havia VAR e mesmo que houvesse estaria a dormir como o vaidoso estava ao minuto 66 deste jogo em Famalicão, ou se não estivesse nunca teria a ousadia do Dias. 

No entanto as grandes descobertas não ficaram por aqui, pois as reações incendiadas de Frederico Varandas, que não fez mais do que expressar aquilo que certamente quase todos os Sportinguistas sentem, causaram uma nova onda de indignação, isto porque um Presidente do Sporting não pode falar assim sob pena de ser equiparado ao seu antecessor, que como todos sabemos não era muito bom da cabeça. Há é que olhar para esses grandes exemplos de saber estar como são o Costa e o Vieira e dizer Ámen.

Para terminar não posso deixar de referir o espirito natalício de Nuno Santos e António Adán que também resolveram entrar na festa das ofertas, isto já para não falar de mais uma ou outra prenda na hora de matar um jogo onde a equipa voltou a jogar bem, apesar de Andraz Sporar continuar a passar ao lado. Resta-nos esperar que o Pai Natal nos ponha um avançado no sapatinho.

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