Eles andam aí

Se bem me lembro nas eleições do Sporting em 2011, havia pelo menos um candidato (Dias Ferreira) que defendia a alienação da maioria do capital da SAD. Dois anos depois José Couceiro também não punha de parte esse caminho, mas quem ganhou foi Bruno de Carvalho que em cinco anos conseguiu os melhores resultados financeiros de sempre na sociedade do futebol leonino, provando que era possível rentabilizá-la, de tal forma que em 2017 Madeira Rodrigues não teve outro remédio senão fugir do assunto e mesmo na ressaca da crise de 2018 nem o Ricciardi se atreveu a defender tal coisa.

Por incrível que pareça, agora, numa altura em que o Sporting é um Clube completamente fracturado pelo "furacão bruno" e em plena "crise pandémica", quando a marca Sporting, tal como quase todas as marcas por esse mundo fora, está muito desvalorizada, há quem se lembre de voltar à carga, colocando em cima da mesa a possibilidade de se vender a maioria da SAD, ora apresentada como inevitável, ou mesmo como uma solução mágica.

Primeiro foi um tal de Barbosa da Cruz que tem uma coluna no jornal Record e ocupa uma cadeirinha de comentador nesse esgoto a céu aberto que é cmtv, isto para além de ter feito parte de uma Direcção do Sporting que tinha como presidente alguém que só dispunha de duas horas por dia para dedicar ao Clube e que defendia que este devia limitar-se ao Futebol, e vá lá ao Atletismo, pelo menos enquanto o Prof. Moniz Pereira fosse vivo, pois o apoio dele sempre dava muito jeito, Direcção essa que vendeu grande parte do património imobiliário do Sporting a preços de saldo.

Esta semana foi a vez de Tomás Froes, um nome que tem sido várias vezes ventilado como putativo candidato a um lugar em listas concorrentes ao Sporting, que voltou à carga com direito a uma página inteira, novamente no Record, onde nos tentou vender a ideia de que a entrada de um grande investidor na SAD, obviamente com a maioria do capital, era um caminho milagroso que nos permitiria ver o Sporting Campeão.

É nestas alturas que eu me ponho a pensar naquelas teorias da conspiração que defendem que há um grupo de gente sempre pronta a sacar algum em negociatas à volta do valioso património que ainda resta ao Sporting, embora não goste de entrar por esse caminho, mas a verdade é que não consigo perceber como é que ainda há quem acredite num papai natal que vai chegar ao Sporting cheio de dinheiro e boas intenções, que o irão transformar para melhor.

Há que dizer ainda que comparar a realidade do futebol português com o que se passa nos principais campeonatos europeus não faz qualquer sentido. Mas mesmo em Inglaterra com todas as particularidades da pátria do pontapé na bola, os verdadeiros adeptos de grandes clubes como Liverpool, ou Manchester United, já estão fartos desses investidores e mesmo nos mais pequenos já se está a ver o que vai acontecer ao City, como já aconteceu ao Leeds ou ao Newcastle.

Para além disso todos sabemos o que é que se está a passar no Milan, entre muitas outras histórias como a do Marselha, que vai passando de mão em mão, por herança, ou por venda, até ao dia em que o dono na ocasião fique farto, saque o seu e deixe os escombros do foi um grande clube, numa divisão inferior qualquer, onde já estão alguns que caíram no conto do vigário, como por exemplo o Málaga em Espanha, onde nos verdadeiramente grandes nem querem ouvir falar de vender o que é  dos sócios, porque a alma é uma coisa que não se vende.

Em Portugal onde só chegam aprendizes desses agiotas e outros criminosos encartados à procura de uma lavandaria para o seu dinheiro sujo, que tomaram conta do futebol mundial de braço dado com um grupo de gente, entre empresários e dirigentes, que enriqueceram à custa da asfixia dos clubes, já temos o exemplo do que aconteceu ao Clube Futebol Os Belenenses, que vai andando pelos regionais, enquanto essa aberração que é a Belenenses SAD se arrasta no Jamor, à espera da hora da sua morte anunciada.

Depois já são às dezenas os casos de aventureiros de meia tigela que por cá tem passado, no Aves, no Vilafranquense, no Praiense e por aí fora, pelo que defender uma solução destas para o Sporting é no mínimo estranho, ainda por cima numa altura destas, onde não faltarão certamente abutres do pior à espera de presas fáceis.

Resta dizer que sendo o Sporting um Clube de origens elitistas, que sempre marcou a diferença pela superior capacidade das suas gentes, mesmo que se tenha popularizado com o seu crescimento, continua a deter uma massa pensante significativa, à qual agora acresce uma juventude inquieta e farta de perder, pelo que colocar agora este assunto em cima da mesa, é escancarar o caminho para o aparecimento de mais um bruno qualquer.

É que já não nos bastava ter as claques só a olhar para os seus inchados umbigos, os adoradores do umbigo gigante do antigo presidente, para agora termos de levar com os vendedores dos anéis que nos querem tirar os dedos. Aguenta Sporting!

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