Um ano depois

Há um ano atrás votei em Frederico Varandas principalmente por causa do Futebol, área fundamental para a vida do Sporting e onde ele partia com a vantagem de ter 7 anos de vivência dentro daquilo que apelidou de "a casa das máquinas do Clube".

Para além disso no geral revi-me no programa do "doutor" que aproveitou o facto de ser uma personalidade conhecida e respeitada no universo Sporting, para arrancar na frente numa campanha eleitoral que foi muito concorrida.

É verdade que nessa corrida ele mostrou ser um mau candidato, mas isso não me pareceu impeditivo de que viesse a ser um bom Presidente, pelo que, e até atendendo à concorrência, a minha cruzinha foi para ele.

Passados que são 13 meses,"decepção" talvez seja a palavra que melhor define o meu sentimento em relação ao desempenho de Frederico Varandas.

No Futebol é verdade que o Sporting ganhou duas taças apesar da época ter sido preparada por Sousa Cintra, mas a aposta arriscada num treinador sem currículo foi o primeiro sinal da falta de um rumo claro do Presidente. Peseiro foi despedido depois de uma derrota em casa, mas essa importante alteração não estava minimamente preparada.

O pior veio com o verão, altura em que esta Direcção tinha a oportunidade de mostrar a sua capacidade, mas em vez disso o que veio ao de cima foi uma total ausência de planeamento, com uma navegação à vista, pautada apenas por uma directriz economicista.

Frederico Varandas tornou-se numa espécie de Passos Coelho, um líder medíocre acorrentado às ordens do seu ministro das finanças, neste caso Francisco Zenha. Foi assim que o Sporting se desenvencilhou de alguns dos seus jogadores mais caros e foi contratando sem grande nexo e recorrendo aos empréstimos, uma política sem sentido que em nada favorece a  necessária aposta na prata da casa.

No fim restou-nos um plantel desequilibrado e ainda mais fraco do que o anterior, pelo que em Outubro já estamos a 7 pontos dos rivais e com a revalidação da Taça da Liga em causa. Quem pagou as favas foi o treinador, mas aí mais uma vez se evidenciou a navegação à vista com uma fezada na repetição do sucesso de Lage no Benfica, logo seguida de mais um tiro no escuro perante a incapacidade para convencer um bom treinador a vir para um "clube de malucos".

Na parte financeira Ricciardi tinha avisado que estes rapazes não tinham unhas para uma embarcação da dimensão do Sporting e infelizmente o tempo deu-lhe razão. O empréstimo obrigacionista foi mal preparado e não atingiu os 30M desejados. O "aperta o cinto" a todo o custo tem sido a palavra de ordem com a dispensas de jogadores como Nani e Bas Dost, a serem face mais visível dessa política, ao mesmo tempo que não se vê trabalho no sentido de se potenciarem as receitas, ficando as soluções reduzidas ao contrato da NOS e à venda de passes de jogadores.

A reestruturação financeira desenhada pela anterior Direcção foi finalmente assinada e até melhorada, mas ainda falta consumar a compra das vmoc's e perceber se a dívida vai ser vendida, e em caso afirmativo a quem e sob que condições.

Os negócios não tem sido propriamente um ponto forte desta Direcção, que vá la se aguentou na venda de Bruno Fernandes, mas depois despacharam Bas Dost a preço de saldo, sendo que Raphinha terá sido o único negócio de jeito que conseguiram, isto porque a venda de Thierry terá de ser vista como uma parcela do caminho de aproximação a Jorge Mendes, que resultou em acordos nada favoráveis com Rui Patrício, que serviu para se pagar ao empresário uma verba que ao tudo indica ele não teria direito, e com Gelson Martins, num negócio que meteu a vinda de Vietto por um valor claramente inflacionado.

Nas modalidades esta Direcção teve o mérito de não mexer naquilo que estava bem feito e não lhe poderão ser assacadas culpas pelo facto de nenhum dos quatro títulos conquistados em 2017/18 ter sido renovado, da mesma forma que os títulos europeus ganhos pelo Judo, Atletismo, Hóquei e Futsal, terão sempre de ser considerados como fruto de um trabalho de vários anos. Mesmo assim começam a haver sinais de algum desinvestimento, especialmente no Voleibol, embora também não se possa esquecer que agora temos o Basquetebol com um projecto ambicioso. Vamos ver o que se segue.

A aposta na formação foi uma das bandeiras da campanha eleitoral de Frederico Varandas e a verdade é que há uma mudança de paradigma em Alcochete, com vários jogadores a queimarem etapas na sua formação, actuando em escalões acima do seu, sendo Joelson Fernandes a o grande exemplo desta politica ao saltar três anos, de Juvenil para sub23, mas em todas equipas há casos destes. Para além disso o investimento nas melhorias das instalações da Academia tem sido uma promessa cumprida. Os frutos virão mais tarde e confio que serão saborosos.

Um dos pontos negativos desta Direcção tem sido aquilo a que eu chamo "brunofobia". Para além das constantes referências à herança má deixada pela Direcção anterior, Frederico Varandas parece aterrorizado com tudo o que cheira a Bruno de Carvalho, de tal forma que quem se atreve a elogiar alguma coisa feita pela anterior Direcção fica logo marcado. Os exemplos mais evidentes dessa situação foram o recente caso do judoca Jorge Fonseca e mais atrás o fim do "Pressão Alta", que era só o programa com maior audiência da Sporting TV.

De resto a comunicação tem sido outro dos grandes problemas desta Direcção e especialmente deste Presidente que decididamente não se dá nada bem com os microfones. Das guerras generalizadas de Bruno de Carvalho que disparava para tudo o que mexia, passámos para um deixa andar que em nada defende os interesses do Sporting que continua a ser prejudicado em vários fóruns sem que se veja uma reacção firme.

Unir o Sporting foi o lema da campanha de Frederico Varandas, mas a verdade é que ele pouco fez para o passar à prática, pese embora tenhamos de reconhecer que tal não era uma tarefe fácil, principalmente para um Presidente marcado por duas das facções de um Clube balcanizado.

De um lado os "brunistas" nunca aceitarão nenhum Presidente que não o seu "mais do que tudo" e também já se sabia que não iriam perdoar aquilo que consideram ter sido uma traição a Bruno de Carvalho, por parte daquele que se anunciou como candidato mesmo antes das eleições estarem marcadas, mas também não houve nunca um único sinal de reconhecimento ao muito de bom que foi feito pela anterior Direcção, pelo que a paz se tornou impossível.

Do outro lado está o Ricciardi que nunca engoliu a sova que levou nas eleições, de tal forma que consta que até mexeu os cordelinhos para encrencar o empréstimo obrigacionista. Ou seja, os chamados "croquetes" também não vão à bola com esta nova ordem e apesar de menos ruidosos também estão atrás da moita só a espera da sua oportunidade para voltarem a agarrar o osso.

Como se tudo isto não bastasse Varandas cortou as vasas à Juve Leo e ganhou aí mais uma frente de batalha. Diga-se que neste caso o Presidente esteve muito bem. As claques existem para apoiar as nossas equipas e não para serem um poder instituído dentro do Clube e muito menos para ganharem dinheiro à custa dele, isto já para não falar no prejuízo de milhões que causaram com aquela brincadeira do ataque a Alcochete, que resultou do excesso de importância e de poder que a anterior Direcção lhes deu. O problema agora vai ser pô-los no seu lugar, até porque estamos a falar de gente violenta que age em matilhas.

O balanço final não é brilhante, mas nada disso justifica o que se passou na última Assembleia Geral onde dois destes grupos organizados foram fazer barulho e criar desordem, ao que se juntou o desagrado generalizado derivado dos maus resultados da equipa de Futebol e a pouca afluência de sócios, factores que contribuíram para que as contas passassem apenas à tangente.

É verdade que Varandas tem revelado ter pouco jeito para Presidente, mas não podemos estar em eleições todos os anos, nem deixar que grupos com agendas próprias se apoderem do Clube, pelo que nos resta esperar que esta Direcção aprenda com os seus erros e consiga melhorar as suas prestações pelo menos em algumas áreas, pois em outras parece-me que não vai dar mais do que aquilo. Infelizmente e como de costume, tudo depende dos resultados da equipa de Futebol, o que não nos augura nada de muito bom.

Comentários

  1. Um ano e tal depois:

    «[…] nem me choca que o Sporting tenha um tratamento de favor; é preciso um Sporting forte», by Pedro Guerra

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