Seis meses de Varandas

Com seis meses de Presidência já surgem alguns focos de contestação a Frederico Varandas e nem me refiro aos irredutíveis defensores de Bruno de Carvalho, pois para esses o "grande líder" está acima do Sporting e nada do que a actual Direcção, ou outra, possa fazer, ou vir a fazer, evitará críticas, seja porque sim, ou seja porque não. Mas não será por aí que a casa cai.

Os maus resultados da equipa de futebol são como de costume a alavanca do desagrado, mas aqui as atenuantes são muitas e não se poderiam esperar milagres. A principal razão que me levou a votar em Frederico Varandas foi o seu conhecimento daquela que é a principal área de actividade do Clube e o facto de me rever nos princípios por ele defendidos em relação ao futebol, mesmo sabendo que é preciso tempo para implementá-los, coisa que no futebol não há, muito menos para um Presidente sem direito a "estado de graça".

Nesta área Frederico Varandas parece ter um rumo bem definido apesar de ter herdado os cacos de um plantel mal construído e colado a cuspe por Sousa Cintra e de ter corrido um grande risco ao apostar num treinador desconhecido como Marcel Keizer, quando se podia ter escondido atrás de uma escolha do anterior comandante da SAD. O Presidente do Sporting mostrou coragem mas isso de nada lhe valerá se os resultados não ajudarem.

Se no futebol ainda é muito cedo para balanços pelo que tenho de lhe dar o beneficio da dúvida, na área financeira esta Direcção tem se mostrado mal preparada. O empréstimo obrigacionista que inicialmente apontava para os €60 milhões, teve de baixar para 30 e mesmo assim falharam essa meta. A dívida de curto prazo é assustadora e o plantel está desvalorizado pelo que as receitas extraordinárias resumem-se praticamente à possibilidade de se vender Bruno Fernandes e Acuña, o que deixaria a equipa ainda mais fraca.

Numa posição enfraquecida o Sporting optou pelo emagrecimento do plantel ao ponto de despachar um jogador como Nani e já caiu em incumprimento das suas obrigações, pelo que anda a mendigar financiamento, o que dadas as circunstâncias vai ter custos elevados. Portanto era óbvio que o Ricciardi ia aparecer a dizer que tinha razão no que diz respeito à falta de preparação do Dr. Varandas e da sua equipa e, a verdade é que tinha.

Outro falhanço desta Direcção foi na questão das rescisões, em que o único caso resolvido foi o de Rui Patrício, o que implicou o reconhecimento de uma dívida que ao que tudo indica não existia, pois o próprio Jorge Mendes nunca a reclamou, nem publicamente, nem nas instâncias próprias e ainda por cima o negócio meteu um protocolo chinês de interesse muito duvidoso. Ou seja, de 18 restaram €12 milhões, por um dos melhores guarda redes do mundo, que na minha opinião até era aquele que mais merecia dar com os costados no tribunal, mesmo que ele tenha abdicado de algum dinheiro para se chegar a um acordo, mas não fez mais do que a sua obrigação, pois foi um dos culpados da situação a que chegámos. No entanto também é verdade que nada nos garante que os tribunais vão dar razão ao Sporting no caso das rescisões.

Como se tudo isto não bastasse, em termos de comunicação as coisas são ainda piores e nem sequer me refiro às notórias dificuldades que Varandas e Zenha sentem sempre que tem de falar. O problema está a jusante. Jurar a pés juntos que não se falava de arbitragem depois de ganhar a Taça da Liga, atacar o Benfica em vésperas de dois "derbys", fazer uma conferência de imprensa para responder ao livro do anterior Presidente, dar justificações a presidente do Braga por causa do Pedro Henriques e um discurso repetidamente miserabilista, são exemplos da falta de noção que esta gente tem sobre o que é gerir um Clube como o Sporting.

Outro ponto negro na acção desta Direcção foi o saneamento do programa mais visto da Sporting TV, o que deitou por terra aquela conversa de um canal livre e ainda por cima com a desculpa esfarrapada de que Rui Miguel Mendonça tinha passado a desempenhar o cargo de Director da Sporting Comunicação e Plataformas, como se fosse ele a figura central do "Pressão Alta", ou o único com capacidade para mandar uma moeda ao ar.

E por falar em plataformas de comunicação, esta é uma área onde realmente há muito a fazer. O site é uma miséria, o Jornal Sporting piorou pois neste momento ignora quase por completo a actividade desportiva do Clube, limitando-se a encher páginas com fotografias gigantes, remetendo lá para o fim um amontoado de resultados sem mais comentários nem informações. Na Sporting TV notaram-se algumas melhorias, mas está visto que estas não agradaram à Direcção.

No entanto nem só de coisas más foram feitos estes seis meses. Volto a dizer que me revejo inteiramente na mudança de paradigma no futebol, embora saiba que os frutos desse trabalho não serão imediatos.

A coragem de encostar à parede as claques é de louvar, mas vai ter custos pois eles estão feridos mas não esquecem.

De assinalar também a inteligência de não se mexer muito no que estava bem feito nas modalidades, onde no entanto o grande mérito é da Direcção anterior, da mesma forma que o que o futebol ainda está marcado pelo "furacão bruno" que deixou atrás de si um rasto de destruição.

Miguel Cal é outro que parece saber bem qual o caminho que quer seguir e aí penso que demos um salto qualitativo.

Enfim há sinais positivos mas o ambiente é agreste e se a bola não entrar na baliza a coisa vai piorar, para além disso é urgente aprender a comunicar com os Sportinguistas e ter posições mais firmes para o exterior. Não é preciso partir a loiça toda como o outro, mas não há que ter medo de defender o Sporting.

A imagem que Varandas passa neste momento é de um líder fraco, numa posição enfraquecida e sem soluções, isto apesar das boas ideias que possa ter, mas daí até entrarmos numa espécie de campanha eleitoral antecipada vai uma certa distância, o que no entanto revela bem o estado de loucura em que este Clube se encontra.

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