Eu e o Bruno

Bruno de Carvalho foi a maior decepção da minha vida de Sportinguista e olhem que vou a caminho dos 55 anos pelo que já vivi coisas como os 6-3, ou aquela semana do quase onde estive presente na Luz no jogo do campeonato paraty e em Alvalade na Final da Taça UEFA. Mas lembro-me de muitos outros episódios daqueles em nós costumamos dizer que só acontecem ao Sporting, desde o tempo dos relatos, até à noite negra das eleições de 2011 que levou Godinho Lopes à Presidência.

Na altura já tinha uma fezada no Bruno. Lembro-me da primeira vez que o vi numa entrevista ao Record que saiu em papel e foi publicada em video no site. Pareceu-me um rapaz com pelo na venta e muito Sportinguismo que talvez pudesse ser o líder aglutinador que eu achava que o Sporting precisava. Alguém capaz de acordar o Clube e de partir a loiça toda quando fosse preciso.

Dois anos depois Bruno chegou à Presidência do Sporting, algo que se percebera que era inevitável. Ele soube ficar quieto no seu canto e esperar calmamente pela sua vez aparecendo como a bandeira da mudança ansiada pela maioria dos Sportinguistas, quando Godinho Lopes caiu.


No entanto sempre tive algumas reservas em relação a Bruno de Carvalho, principalmente quando ele nos tentava fazer passar por parvos, como naquela questão do investidor fantasma e também nunca gostei muito do seu estilo, exaustivo, truculento e de gosto duvidoso, mas é como se costuma dizer, ao princípio estranha-se, mas depois entranha-se. Era mais uma questão de forma, porque no conteúdo estive de acordo com 90% do que ele fez e disse.


No seu primeiro mandato Bruno de Carvalho superou largamente as minhas expectativas e só faltou aquele campeonato que nos tiraram da forma que todos conhecem em 2015/16 e que teria feito toda a diferença, mas a verdade é que o futebol foi sempre o ponto fraco desta Presidência, com o caso Marco Silva, as guerras com o plantel, a politica de contratações, o desinvestimento na formação e a falta de bom senso na hora de comunicar.
Mas tudo o resto foi largamente positivo pelo que em 2017 votei sem qualquer hesitação em Bruno de Carvalho, mas o homem que já tinha mostrado muitos tiques da sua autocracia, apanhou-se com 89% dos votos dos sócios e resolveu calar, ou simplesmente afastar, os outros 11%. Acho que ele não se achou mais importante do que o Sporting, nem sequer o dono do Clube, ele confundiu-se com o próprio Sporting, numa espécie de "l'etat c'est moi".


O primeiro grande erro dos Sportinguistas foi terem cedido à chantagem na Assembleia Geral de Fevereiro de 2018, e contra mim falo, pois embora não tenha estado presente, se estivesse teria votado pela sua continuidade, numa altura em que me parecia que não precisávamos de instabilidade pelo que se lixassem o regulamento disciplinar e os estatutos. O mais importante era a continuidade do Bruno.


Em vez de um cartão amarelo os sócios deram-lhe mais força e ele que já de si não é um homem equilibrado, descarrilou completamente quando percebeu que no futebol a época estava mais uma vez perdida e os muitos inimigos que foi criando caíram-lhe em cima sem dó nem piedade. 


O "cashball" e o ataque a Alcochete deixaram-no sem pé e nessa altura ele perdeu o apoio da maioria dos Sportinguistas e o meu também.

Em relação ao "cashball", se é óbvio que o tal paulo silva não fez a denuncia porque se lembrou que a hora da morte estava próxima e que queria ir para o céu, pelo que resolveu confessar todos os seus pecados, começando logo pelos seus serviços prestados ao Sporting, também é verdade que ainda não consegui encontrar uma explicação para as gravações que todos ouvimos. 


É claro que aquilo pode até não ser suficiente para provar nada em tribunal, mas isso é como os e-mails e só se deixa fazer passar por parvo quem quer e nesse dia eu perdi aquilo que para mim era inegociável, ou seja a possibilidade de olhar olhos nos olhos dos adeptos rivais e  dizer-lhes que o Sporting era um Clube diferente, sem apitos dourados nem e-mails. Pela primeira vez tive vergonha de sair à rua enquanto Sportingiuista. Para mim foi o fim da linha para Bruno de Carvalho, até porque a reacção dele foi não dar explicações, chegando a afirmar que lamentava que o questionassem sobre aquele assunto.


Como se isto não bastasse no dia seguinte um grupo de anormais resolveu ir a Alcochete dar um aperto nos jogadores e a partir daí já não havia alternativas, o único caminho era dar a palavra aos sócios.

Em vez disso Bruno de Carvalho acorrentou-se ao poder, encetando uma verdadeira política de terra queimada e em poucas semanas destruiu tudo o que de bom tinha feito em 5 anos.

Inicialmente defendi que ele deveria ter o direito de ir a eleições para se justificar, mesmo que isso significasse uma peixeirada garantida, mas Bruno de Carvalho recusou liminarmente esse caminho obrigatório, não ouvindo os muitos apelos vindos mesmo de quem sempre tinha estado com ele, atraiçoando assim tudo o que nos havia prometido quando Godinho Lopes começou a perder o pé e aí até conseguiu ficar a perder para o engenheiro, que pelo menos teve o bom senso de não se sujeitar à humilhação de ser posto na rua a pontapé pelos sócios.

Foi então que Marta Soares, essa figura patética escolhida por ele, nomeou uma comissão disciplinar como o objectivo de destituir Bruno de Carvalho. É verdade que valeu tudo, mas o homem recusava-se a ouvir os Sportinguistas e agarrava-se a tudo que ainda flutuava para não se afundar, ao mesmo tempo que ia metendo cada vez mais água, arrastando o Sporting para o naufrágio.

Chegou o triste dia da Assembleia Geral de destituição e a saída de Bruno de Carvalho nem foi pela porta dos fundos, foi pelos esgotos, com a promessa de abdicar até da sua condição de Sportinguista, logo seguida de uma entrada ilegítima na referida reunião. Valeu que os Sportinguistas perceberam que a ideia era o "ou eu, ou o caos" e entraram, votaram e foram andando, deixando a matilha a uivar sozinha.

Não satisfeito Bruno de Carvalho tentou de tudo, desde inúmeras providências cautelares até bloquear contas, deixando atrás de si um rasto de destruição, de tal forma que por muito que me tenha custado, depois de o deixar de apoiar mas ficar disposto a ouvi-lo, passei a defender a sua destituição e no fim até já admito a sua expulsão, pois a sua presença é nefasta para o Clube e ele nunca largará o osso, como de resto já se viu com a publicação de um livro que nada de bom acrescenta.

Repito que estive de acordo com 90% do que Bruno de Carvalho fez e disse, mesmo não me revendo na forma, mas até vou mais longe afirmando que haverá sempre o Sporting antes e depois de BdC. O homem acordou a nação leonina, fez-nos voltar a acreditar, de tal forma que nas últimas eleições ninguém se atreveu a pôr em causa o ecletismo, ou a manutenção da maioria da SAD, o problema foi ele próprio, o seu carácter, ou neste caso a falta dele, o seu autocracismo que o auto destruiu deixando atrás de si um rasto de devastação que colocou o Sporting numa posição muito complicada.

Ele podia ter sido realmente o Presidente do Sporting durante muitos e bons anos, mas em poucos meses destruiu tudo o que de bom tinha feito em cinco anos e mostrou que não tinha gabarito para a lugar que ocupava e que julgou ser seu por direito próprio, ao ponto de falar em ingratidão, como se a parte largamente positiva da sua gestão lhe desse legitimidade para fazer todos os disparates que bem entendesse, revelando não perceber a cultura Sportinguista que goste-se, ou não, faz parte do ADN deste Clube.

Perante tudo isto resta-nos sarar as feridas do Leão e seguir em frente, respeitando a herança boa que Bruno de Carvalho nos deixou, embora agora também tenhamos que viver com a herança má, que resultou na divisão do Clube, alimentada por um grupo fanático de seguidores do "grande líder", ao qual há a juntar uma claque fragilizada que mais tarde ou mais cedo vai ter uma reacção ,  porque deseja recuperar os poderes perdidos, isto já para não falar do ex dono daquilo, tudo que ainda não percebeu que agora é tarde para ser Presidente e que as eleições não se ganham na cmtv. 

Enfim espera-nos um longo período de reconstrução depois da passagem do furacão bruno e só o tempo poderá sanar as clivagens agora criadas, pelo que só daqui a alguns anos saberemos se o Sporting conseguiu sair mais forte desta crise, ou se se afundou nela.











Comentários