Como se constrói um plantel fraco

Nas últimas duas épocas o Sporting fez os maiores investimentos de sempre no plantel principal da sua equipa de futebol, numa corrida desenfreada atrás do tão desejado título de Campeão Nacional, a coroa de glória que faltava ao reinado de Bruno de Carvalho, objectivo que só não tinha sido atingido na temporada de 2015/16 pelas razões que todos conhecemos, pese embora alguns tiros nos pés que na altura foram dados pela dupla Carvalho/Jesus.

Apesar do referido investimento, nessas duas épocas o Sporting apenas ganhou uma Taça da Liga e ficou em ambas as vezes no 3º lugar do Campeonato. Estes decepcionantes resultados transtornaram completamente o Presidente que entrou em conflito com o plantel, que se já tinha alguns desequilíbrios, ficou completamente estilhaçado depois do triste episódio de Alcochete.

O Sporting perdeu três dos seus melhores jogadores e dois jovens com inegáveis capacidades, isto para além das saídas dos dois laterais, ou seja foi-se meia equipa titular sem que daí tivessem resultado proveitos financeiros que permitissem a sua substituição por jogadores de valor próximo.

A preparação desta época foi feita num clima de guerra civil perante a insistência de Bruno de Carvalho em manter-se na Presidência, quando a maioria dos Sportinguistas apelavam para que ele abrisse caminho para a realização de eleições, o que acabou por resultar numa Assembleia Geral distitutiva e na entrada de uma Comissão de Gestão que colocou Sousa Cintra na Presidência da SAD.

Mesmo assim gastou-se muito e mal. 2 milhões € por um guarda redes que veio passar 6 meses de férias a Lisboa, 4,5 milhões € por um lateral direito vulgar, 5,5 milhões € pelo avançado mais rápido do mundo mas que não sabe parar uma bola e 3 milhões € de taxa de empréstimo de um jogador que serve mas não é nada de especial, resultaram num desperdício de 15 milhões €, o que em tempo de crise foi obra.

Já antes Bruno de Carvalho tinha contratado Raphinha por uns 6,5 milhões € que me parecem algo inflacionados, embora nestas coisas haja sempre riscos a correr, pelo que no fim valeu o regresso de Nani e escapou a contratação de Renan, que pelo menos não chegou com peso a mais e não significou um grande investimento, mesmo que não seja um guarda redes por aí além.

Se juntarmos a tudo isto a opção por um treinador já marcado pelo seu passado, que foi substituído por outro que ninguém conhecia, então temos a receita perfeita para o fracasso e vá lá que o Cintra conseguiu recuperar Bruno Fernandes e Bas Dost, isto sem esquecer Rodrigo Battaglia que no entanto acabou por se lesionar, ficando de fora até ao fim da época.

Foi assim que chegámos a Janeiro com um plantel fraco e desequilibrado pelo logo aí foram despachados 6 jogadores que não deixavam grandes saudades, aos quais mais tarde se juntou o "castanho", esse grande avançado que nem um golo para amostra marcou na sua passagem por Alvalade.

Foi também nessa altura que estranhamente foram despachados Nani e Fredy Montero, simplesmente para se emagrecer uma folha de vencimentos muito inflacionada. Ainda consigo entender essa decisão no que diz respeito ao colombiano que não era titular, mas o mesmo não posso dizer em relação a Nani, um jogador que estava a ter um bom rendimento e que até era o Capitão da equipa, embora agora se diga que não tinha bom ambiente no balneário.

Sem dinheiro para se investir o Sporting em Janeiro foi aos mercados secundários e comprou a prazo, o que aumenta os riscos de insucesso. Dois dos cinco jogadores contratados entraram directamente para o onze e embora ainda seja cedo para se tirarem conclusões, Cristián Borja parece ter sido um tiro certeiro, já Tiago Ilori é um jogador que nunca me convenceu, isto para além da forma como saiu do Sporting o tornar num alvo fácil.

O maior investimento foi em Idrissa Doumbia, um jogador jovem sobre o qual não tenho ainda opinião formada, mas custou à volta de 4,5 milhões €, o que coloca a fasquia bem alta em termos de exigência de rendimento. Gonzalo Plata é outra incógnita, mas é um miúdo e 1,5 milhões € não é um grande investimento, de qualquer forma será mais um teste à nova equipa de prospecção de talentos de que Varandas tanto falou. Resta Luiz Phellype, um avançado que veio da 2ª Liga e que tem revelado algumas dificuldades em mostrar serviço, duvido muito que seja o jogador que precisávamos, mas por 500 mil € não se pode pedir mais. De qualquer forma se em 5 acertarem 3 já não será mau, isto atendendo ao que se tem visto nos últimos anos em que por cada Slimani levamos com cinco Barcos.

É um facto que de há 7 anos para cá houve um grande desinvestimento na Academia, pelo que das gerações de 1996 a 2001 há pouco que se aproveite, daí que dos emprestados apenas tenha sido repescado Francisco Geraldes, que já vai a caminho dos 24 anos sem que se tenha conseguido impor. Rafael Leão, Tiago Djaló e Demiral foram desperdiçados e parece que outros como Diogo Brás vão no mesmo caminho, não se renovam os contratos a tempo, ou pior, e as coisas complicam-se. Já Godinho Lopes tinha deixado essa herança com gente como Pedro Mendes, Ilori, Bruma ou Moreto.

Matheus Pereira é outro caso que parece perdido, pelo que da geração de 1996 apenas ainda há alguma esperança em relação a Ivanildo Fernandes, que está a exceder as expectativas no Moreirense. Abdu ContéBruno Paz e Jovane Cabral são os que escapam de 1998, porque do ano anterior é nada. De 1999 temos Luís MaximianoThierry CorreiaDaniel BragançaMiguel Luís e Elves Baldé, todos ainda no primeiro ano de sénior pelo que não se sabe se dará para aproveitar alguma coisa.

Chegamos aos Juniores e a coisa piora. Para além do já referido Diogo Brás, talvez apenas Bernardo Sousa e Félix Correia, este um ano mais novo, tenham futuro e só nos Juvenis é que vamos encontrar mais alguma qualidade, mas essa aparente retoma não me parece que tenha continuidade nas gerações posteriores, onde já se destaca Joelson Fernandes, talvez a grande jóia da actual Academia, mas que precisa de muita atenção para não cair nos maus caminhos.

Podemos pois concluir que nos próximos anos não vamos ter muitos jogadores da Academia a singrar na equipa principal. No fim, de todos os que eu referi que estão entre os 17 e os 23 anos talvez se aproveitem 3 ou 4, e já estou a ser optimista.

Em resumo, dos três anos com o melhor Presidente de sempre e o génio da tácticas, sobrou-nos um plantel fraco, uma formação pouco produtiva, pouca capacidade de investimento e um Clube dividido, pelo que não se podem esperar milagres, ainda por cima com duas facções das bancadas a jogar contra e a exigir muito, quando deviam era estar bem quietinhos, pois a Juve Leo e Bruno de Carvalho são os grandes culpados do estado actual das coisas. O pior é que quem entrou não parece ter soluções imediatas para inverter esta queda.


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