Uma aposta de risco


Ainda não foi oficialmente anunciado mas já é dado como certo que Marcel Keizer será o próximo treinador do Sporting, uma escolha surpreendente e arriscada por parte do Presidente Frederico Varandas.

Keizer é um nome que aos mais velhos lembrará a Holanda e o Ajax dos anos 70 e, de facto Marcel é sobrinho do famoso Piet Keizer, mas ao contrário do seu tio, o novo técnico do Sporting é um total desconhecido com um modesto percurso como futebolista e que fez grande parte da sua carreira de treinador em pequenos clubes das divisões secundárias holandesas, contando com duas curtas passagens na Eredivisie, onde primeiro não foi capaz de evitar a despromoção do Cambuur, para depois de um bom trabalho na equipa B do Ajax, não conseguir aproveitar a oportunidade que lhe deram para suceder a Peter Bosz no comando da equipa principal, donde acabou por ser despedido a meio da época de 2017/18.

Não se percebe bem aonde é que Varandas foi descobrir este treinador que estava a trabalhar nos Emirados Árabes Unidos desde o início deste Verão, mas já se disse que lhe foi indicado por Leonardo Jardim e até pelo médico João Pedro Araújo, sendo que os principais predicados que o recomendam tem a ver com a escola do Ajax e a sua vocação para apostar nos jovens.

Para já o que mais gostei foi de ver foi a imprensa toda à nora, a disparar em todos os sentidos principalmente depois de terem descoberto que o Presidente do Sporting estivera na Holanda. Foi um tal inventar, até que finalmente apareceu o nome de Marcel Keizer.

Esta escolha significa que por um lado o Sporting não tem capacidade para chegar a um treinador de nome feito, até porque o Cintra já ultrapassou largamente o limite orçamental para o efeito, quando ofereceu ao Peseiro um senhor contrato e ainda podemos ter de pagar ao outro que o maluco contratou já na sua fase de desespero. Enfim, tinham ambos prestado um grande serviço ao Sporting se se tivessem lembrado do Inácio, que até estava mesmo ali à mão de semear e que é mais um que sempre deve ter levado algum para meter a viola no saco e limpar os seus cacifos.

Por outro lado apostar num desconhecido como este, revela pelo menos muita coragem e confiança naquilo que Varandas apelidou do seu instinto, porque na verdade era mais fácil ir aguentando o Peseiro que não tinha sido escolhido por ele, do que apostar num treinador completamente desconhecido e sem currículo que possa justificar essa opção.

A maior das dificuldades com que Keizer se vai defrontar logo à partida é o seu total desconhecimento das particularidades do futebol português, ainda por cima sendo ele um homem da escola holandesa, que é assim uma espécie de último reduto do futebol total com cariz marcadamente ofensivo, em oposição aos génios das tácticas defensivas que por cá vão prevalecendo. Mas uma das coisas que os adeptos mais se tem queixado, é da falta de qualidade do futebol apresentado pelo Sporting de Peseiro, pelo que agora todos esperamos por uma equipa mais atrevida e vistosa, embora saibamos que no fim o que realmente conta são os resultados.

Sendo assim parece-me que a constituição da equipa técnica que vai servir de suporte a este treinador, será fundamental para o seu sucesso. Para além de Tiago Fernandes e Nelson Pereira que são homens da casa, ele precisa de alguém que possa ajudá-lo a superar a fase de adaptação à nova realidade com que vai ser confrontado, sendo que a barreira da língua não será um factor a desprezar, daí a importância de se encontrar um elemento que possa ajudar a transmitir ideias.

Seria também importante que houvesse alguma tolerância, pelo menos nesta primeira fase, no entanto já todos percebemos que os "brunetes" e os "croquetes" estão todos com pedras escondidas atrás das costas, só à espera da primeira oportunidade, pelo que Keizer não vai ter muito tempo para mostrar serviço, ainda por cima sucedendo a um treinador muito mal visto nas bancadas, mas que deixou a equipa viva em todas as frentes. Fazer pior será sempre inadmissível.

Parece-me também que esta opção de Varandas se insere numa estratégia de remodelação geral do futebol do Sporting, uma área que ele conhece como ninguém e que precisa de dar uma grande volta, desde o Polo EUL, até ao futebol profissional, passando pela Academia, um trabalho que parece estar em curso, mas que obviamente não pode ser feito em dois meses.

Vamos pois aguardar, mas Varandas arriscou muito nesta jogada, o que lhe pode sair caro. No entanto compreendo que se ele não acreditava naquilo que estava a ver e achava que era preciso mudar, o tenha feito na primeira oportunidade, porque nesse caso quanto mais cedo melhor. Só que os resultados é que mandam e a partir de agora mais do que nunca Varandas precisa deles.

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