O terrorismo, o circo e o medo



A "bomba" rebentou domingo passado ao fim da tarde, pouco antes do inicio do jogo em que o Sporting recebeu o Chaves em Alvalade. Bruno de Carvalho e Mustafá tinham sido detidos no âmbito da investigação ao ataque a Alcochete.

Não ponho as mãos no fogo por ninguém, muito menos por dois homens com o historial das personalidades em questão, mas mais uma vez digo que espero sinceramente, que para bem do Clube, o ex-Presidente do Sporting não esteja envolvido, mas se se provar que está, então que seja devidamente punido. No entanto já se percebeu que não há provas conclusivas do seu envolvimento, embora haja muitos indícios.

Para já tenho de registar a verdadeira tourada em que se transformou a justiça em Portugal, com o despacho de acusação a sair cá para fora poucas horas depois de ter sido deduzido, com os nomes de todos os protagonistas, inclusivamente os que colaboraram com a justiça e que agora não vão ter vida fácil, de tal forma que já não sei se estarão mais seguros lá dentro, ou cá fora.

De resto esta é uma justiça que todos os dias nos surpreende, isto numa altura em que se discute se o ataque a Alcochete foi ou não um acto terrorista, um crime que ao que parece apenas terá sido metido nisto para manter em prisão preventiva os supostos terroristas, mas quando hoje oiço que puseram em prisão domiciliária um gajo que já tinha um historial de violência gratuita, por ter agredido um miúdo de 15 anos que está em coma, só porque pensou que este o estava a filmar, não posso deixar de ficar espantado por prenderem os tais terroristas que foram à Academia bater nos jogadores do Sporting e o pior que conseguiram fazer foram umas nódoas negras e uns lanhos na cabeça do Bas Dost. Deve ser o terrorismo à portuguesa, um terrorismo de brandos costumes.

Dito isto, não estou de forma nenhuma a desculpabilizar os anormais que foram à Academia e reitero o meu desejo de que sejam todos devidamente punidos de acordo com as responsabilidades e acções que tiveram no inqualificável acontecimento. Mas terroristas  não me parece que sejam.

A detenção de Bruno de Carvalho também levantou várias questões jurídicas que nem me vou dar ao trabalho de discutir, mas acima de tudo serviu para alimentar o circo em que isto se transformou, graças a uma nova escola daquilo que só podemos chamar de "jornalixo" que nos proporcionou tristes espectáculos protagonizados por um grupo de rapazes e raparigas munidos de câmaras e microfones, que correm desalmados como hienas esfomeadas atrás das suas presas, mesmo que se tratem de pessoas idosas e destroçadas pela detenção de um filho e, como se não bastasse ainda ficam indignados quando a polícia não os deixa abocanhar as vítimas, ao ponto de protestarem porque não conseguiram filmar o Bruno de Carvalho algemado, ou porque ele saiu do tribunal num carro da GNR quando já não estava detido, escapando assim aos seus predadores. Aqui tenho de dar uma chapelada a David Borges, que fez corar de vergonha a sua classe como podem ver no video que se segue.
Foi realmente um triste espectáculo que começou no domingo e que ainda dura, com horas a fio de programas de televisão com dezenas de convidados e especialistas para todos os gostos, no qual lamentavelmente participaram muitos sportinguistas, desde os que se babavam de prazer com a desgraça do seu ódio de estimação, mesmo que o Clube seja lesado com essa desgraça, até aos que afinal sempre tinham previsto o triste desfecho reservado ao homem, pelo que no fim, ou melhor no meio, não deixou de ser divertido ver as caras de espanto e decepção pela decisão do juiz, de tal forma que alguns descobriram que afinal entre os 38 que estão detidos até há alguns inofensivos rapazes, que não passam de vítimas do monstro que foi devolvido aos seus aposentos depois de 4 noites e 5 dias de vergastadas que o deixaram visivelmente abatido.

No meio disto tudo também tivemos algumas partes cómicas das quais destaco naturalmente o momento da saída de Mustafá, que logo foi rodeado pela matilha da comunicação social, à excepção imagine-se da cmtv, aquela que está sempre na linha da frente, mas nessa altura, a sempre muito "afoita" Tânia Laranjo resolveu subir para um terraço próximo donde foi possível filmar o líder da Juve Leo com uma margem de segurança razoável que permitiu à gordurosa criatura ir dizendo que Mustafá saíra em silêncio, ao mesmo tempo que ele ia respondendo às muitas perguntas dos canais da concorrência. Pois é, estar sentadinha lá no canal a debitar veneno é muito mais fácil do que andar no terreno, principalmente quando a consciência pesa e a miúfa aperta. Mas o erro foi de quem mandou a moça para a frente da corrida, estavam à espera que os touros saíssem embulados e afinal eles vieram em pontas e como se diz cá na minha terra "gente tola e touros, paredes altas".

Curiosamente, ou talvez nem por isso, enquanto este circo criado à volta da detenção de Bruno de Carvalho foi alvo de uma mega cobertura da parte da comunicação social, nesta mesma semana tivemos o início da fase de instrução do processo que ficou conhecido como e-toupeira, ao qual a mesma comunicação social se limitou a dedicar uns simpáticos minutinhos, onde foi possível perceber o carácter religioso de Paulo Gonçalves, o seu inequívoco benfiquismo e a sua grande amizade com Vieira, tudo com muita tranquilidade, respeito e confiança. É caso para perguntar, do que é, ou de quem é, que eles tem medo?

E já que entrei no caminho das perguntas, aqui vai mais uma: será que o ataque à Academia supostamente encomendado por Bruno de Carvalho, é mais grave do que o assalto aos processos judiciais que estão em curso onde o Benfica é acusado praticar crimes altamente organizados para daí retirar vantagens desportivas? Ah, pois, já me esquecia, estamos a falar de terrorismo, não há comparação.

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