As entrevistas de Varandas

Tal como anteriormente já aqui escrevi, ainda nem passaram dois meses da eleição de Frederico Varandas e o novo Presidente já está debaixo de fogo. Se o outro falava de mais, este fala de menos. É assim o Sporting.

Talvez por até já ter sido apelidado de "Presidente Invisível", Frederico Varandas resolveu dar duas entrevistas e para isso escolheu o "Expresso", o que à partida até me parece ter sido uma boa opção, isto atendendo ao que são os jornais desportivos deste país, já para não falar noutros diários de grande tiragem, e o poscast de Daniel Oliveira, um Sportinguista que o apoiou nas últimas eleições, mas que é conhecido por não ser um homem de meias palavras.

Mas deixemos os "entretantos" e vamos aos "portantos" que é como quem diz às entrevistas onde Varandas não adiantou grande coisa, pois também ainda não tem muito por onde pegar, mas mesmo assim deu alguns recados e deixou escapar uma ou outra novidade.

O Expresso escolheu como título a promessa de tornar governável um Clube que realmente tem andado num desgoverno total, depois do prec que travou o caminho para a ditadura, mas de promessas estou eu farto e essa foi a parte menos relevante da conversa.

E por falar em promessas, Frederico Varandas garantiu mais uma vez que o empréstimo
obrigacionista irá ser uma realidade. Espero bem que sim, pois esse será o seu primeiro grande teste. Mesmo assim ele falou em cerca de 30 milhões, ou seja metade daquilo que estava programado. O que tem um lado bom, pois significa menos endividamento, mas em contrapartida também indicia as dificuldades que houve para montar esta operação.

Varandas também confirmou o acordo estabelecido com o Wolverhampton que ficou fixado em 18 milhões, com Jorge Mendes a papar 4 milhões de uma dívida que era de 9 milhões e 50 mil Euros, isto de acordo com o que consta no Relatório Contas da SAD. Varandas referiu ainda que Rui Patrício terá perdoado 1 milhão de Euros referente a um ano de salários e 5 milhões do prémio de assinatura que teria direito a receber do Wolverhampton.

18 milhões por um guarda redes como Rui Patrício parece-me pouco, mas atendendo às circunstâncias é um valor aceitável, que de resto até tinha sido aceite por uma fera dos negócios como era o anterior Presidente. O que fica por explicar é a tal dívida a Jorge Mendes, que atendendo à proibição das TPO poderá não ser tão lícita quanto isso, daí que o empresário nunca a tenha reclamado publicamente, ou nos Tribunais. No fim fechou-se o acordo mais ou menos a meio por meio e resolveram-se dois pendentes. Não foi um grande negócio, mas talvez tenha sido bom para três das quatro partes envolvidas. E quando é assim não há muito que dizer.

O caso muda de figura em relação a Rui Patrício, com o qual eu fui sempre muito duro aqui, pois parece-me indesmentível que ele também teve muitas responsabilidades em tudo o que aconteceu. No entanto uma vez que ele abdicou dos 5 milhões do prémio de assinatura, tenho de retirar o que disse em relação às motivações financeiras que ele teria tido para pedir a rescisão do contrato. Neste negócio ele é de facto o único que ficou a perder, pois mesmo que o caso fosse decidido em tribunal a favor do Sporting, certamente que não seria ele a arcar com essas responsabilidades, sendo ainda de referir que de todos os que avançaram para a rescisão unilateral dos seus contratos, Rui Patrício era seguramente aquele que mais hipóteses teria de ganhar o litígio. Enfim, revelou algum carácter e reconhecimento, mas por mais difícil que tenha sido aturar as doideiras do anterior Presidente, o Capitão poderia ter tido um pouco mais de paciência, em vez de avançar como líder da revolta.

No que diz respeito a recados e depois das patetices que Sousa Cintra tem dito nos últimos tempos, Varandas deu-lhe o troco, denunciando o prémio atribuído por aquilo que ele apelidou de mini-objectivos e não deixou de referir que a época foi mal preparada, mas foi injusto quando referiu que o problema das rescisões estava a zero, quando se sabe que Sousa Cintra resolveu três dos nove casos, o mesmo se pode dizer em relação ao empréstimo obrigacionista, pois não se podia exigir que fosse a Comissão de Gestão a tratar deste assunto. Para além disso Varandas não deixou também de apontar o dedo a Cintra pelas altas expectativas que este criou para uma época que começou em condições que tornam o sucesso muito difícil, embora não impossível. Mas isso nem tem grande interesse, pois toda a gente acha muita graça ao Cintra, mas ninguém o leva a sério.

As partes menos positivas das entrevistas, foram aquelas em que o Presidente pré anunciou o despedimento do treinador, deixando claro que ele não teria muita tolerância, e de facto não teve, mas isso fica para mais tarde, e se mostrou pouco convicto na concretização da reestruturação financeira, o que de certa forma se compreende pois não vai ser fácil arranjar 40 milhões de Euros para comprar as vmoc's. Isto sem esquecer a abertura aos negócios com a Gestifute, o que no fundo será a contrapartida para a boa vontade mostrada por Jorge Mendes no negócio de Rui Patrício. Esperemos para ver o que é que resulta daqui, mas do lado dos empresários temos de estar sempre de pé atrás, então com este nem se fala.

Em jeito de balanço Varandas disse que já tinha resolvido as questões do empréstimo obrigacionista, do Rui Patrício e da tesouraria, acenando ainda com os resultados positivos apresentados pela SAD no 1º trimestre da época, mas esses não foram da sua responsabilidade e ainda teremos de esperar pela sua consolidação nos próximos meses.

Outra novidade foi o facto de Varandas ter afirmado que já tinha cumprido a promessa de contar tudo o que sabe sobre o jogo sujo que se desenrola nos bastidores do nosso futebol, ao mesmo tempo que voltava a afirmar que a normalização das relações com o Benfica estaria dependente da arrumação da casa do vizinho, reiterando que os e-mail e o e-toupeira são uma vergonha para o futebol português. Resta saber o que é que a FPF e a Liga vão fazer com essas informações.

Varandas mostrou-se também muito optimista em relação ao processo "cashball", mas não concretizou porquê e percebe-se que não o tenha feito. Esperemos é que lhe assistam razões para isso, mas ou muito me engano ou essa vai ser mais uma bomba que vai rebentar-lhe nas mãos e doer muito aos Sportinguistas.


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