Chuva de candidatos

Recuemos até ao início de 2013. O Sporting está em 12º lugar da tabela classificativa apenas 1 ponto acima da linha de água, enquanto lá na frente Benfica e FC Porto lideram o campeonato a uns distantes 23 pontos, isto quando só estão decorridas 13 jornadas.

Jesualdo Ferreira substitui Frank Vercauteren no comando da equipa e lança Dier, Ilori e Bruma, três jovens da formação, numa altura em que o plantel está cheio de jogadores caros e desvalorizados, enquanto o resto vai sendo vendido às talhadas e a preço de saldo. O Sporting não detinha a totalidade do passe de nenhum dos seus principais jogadores, e nem sequer a rapaziada da Equipa B escapava.

Em cima da mesa estava um PER, que impediria o Sporting de participar nas competições europeias nas próximas temporadas, mas o que é que isso interessava numa altura em que se lutava para fugir aos lugares de descida de divisão?

As contas da SAD referentes ao segundo semestre de 2012 fecharam com 22 milhões € de prejuízos e a seis meses de terminar a época calculava-se que só nos últimos três anos a coisa ficaria num assustador intervalo entre os 130 e os 150 milhões negativos.

O desinvestimento na Academia fazia adivinhar que nos anos seguintes não teríamos muito por onde escolher das novas fornadas produzidas em Alcochete, pois no Seixal já se pedalava a outro ritmo. De resto mesmo os que agora iam chegando à equipa principal não tinham contratos de longa duração assinados.

Sobrava uma equipa feminina de Atletismo e o Futsal, que iam ganhando alguns títulos, mas isso era só para quem se dava ao trabalho de em pleno Verão acompanhar as nossas meninas, ou de ir a Odivelas ver os rapazes da bola mais pequena. Faltava uma televisão do Clube e é claro um Pavilhão, verdadeiras utopias num Sporting em pré-falência.

Foi então que perante tanta incompetência, Miguel Paim e André Patrão desencadearam um movimento no sentido de destituir a Direcção de Godinho Lopes, uma situação aproveitada por Bruno de Carvalho, o candidato derrotado, ou talvez não, nas eleições de 2011, para se alcandorar como o líder da oposição à oligarquia que governava o Sporting há vários anos. Godinho Lopes ainda tentou resistir mas no fim teve o bom senso de se demitir, poupando-se à humilhação de ser destituído. Fomos para eleições antecipadas.

A situação era de tal forma assustadora que não foi fácil arranjar um candidato da continuidade, aliás já em 2011 Godinho Lopes tinha sido uma solução de recurso, mas agora ninguém queria ficar com o menino ao colo. Rogério Alves e Luís Figo foram nomes aventados, mas obviamente recusaram e quanto a Ricciardi, esse continuou na sombra, pelo que a solução foi contratar um profissional, tendo a escolha recaído em José Couceiro que afinal até era sobrinho neto de Peyroteo e ia ser apenas um funcionário de um Clube condenado a entregar a sua SAD a um grande investidor, oferecendo tudo o que lhe restava e até o Futsal como rebuçado. Ficávamos com o Atletismo, pelo menos enquanto Moniz Pereira fosse vivo.

Os sportinguistas estavam fartos e escolheram Bruno de Carvalho um jovem sportinguista com pelo na venta. Foi assim uma espécie de salto no escuro, mas a alternativa era seguir em frente rumo ao abismo, pelo que eu e alguns milhares de sócios apostámos naquele que ficaria conhecido como o "presidente sem medo", mesmo sabendo que ele não tinha experiência, nem suporte financeiro para a missão a que se propunha.

Agora avancemos 5 anos. Bruno de Carvalho foi destituído pelos sócios porque os atraiçoou, depois de ter transformado completamente o Sporting, ao ponto de ter chegado a ter um apoio de 90%, que desbaratou em poucos meses. Mas a verdade é que deixa um Clube completamente diferente, de tal forma que hoje ninguém se atreve a falar em perder a maioria da SAD, ou a pôr em causa o ecletismo. O numero de sócios e de espectadores nas bancadas quase duplicou, o passivo baixou consideravelmente, a SAD passou a dar lucros, o Pavilhão e a Sporting TV são uma realidade, mas o homem teve mais olhos que barriga e não conseguiu conviver com algumas derrotas no Futebol, para além de se ter achado acima das criticas, ao ponto de se confundir com o Clube de que se julgou dono e senhor. Mediu mal os seus erros e não soube tirar as devidas ilações na hora em que se devia ter demitido e acabou destituído.

Agora Bruno de Carvalho pede-nos uma segunda oportunidade, mas é tarde de mais. Ele pisou linhas proibidas e só recuou quando os tribunais o impediram de continuar na sua demanda de se perpetuar no poder, de tal forma que já ninguém acredita num Bruno diferente. O homem é assim, não gosta de conselhos, nem de cartas abertas e nunca vai mudar.

Apesar da propaganda pintar um quadro mais negro daquele que realmente existe, a verdade é que o Sporting de 2018 está muito melhor do que o de 2013, mesmo que não seja um poço de petróleo, ou uma mina de ouro, mas é de tal forma atractivo que agora não faltam candidatos.

Por ora temos oito, mas já se falaram pelo menos de outros tantos. Provavelmente nem todos chegarão às urnas, até porque para mal dos nossos pecados tudo indica que a Comissão de Fiscalização vai elevar Bruno de Carvalho à condição de mártir, que é o que lhe resta. Mas mesmo entre os outros, talvez haja algum bom senso e sentido da responsabilidade que nos poupe de desvarios inúteis.

Sobre Bruno de Carvalho já falei. Nele de certeza que não voltarei a votar. Apoiei-o até ao limite, mas o seu autocracismo destruiu-o e dos 90% de apoio que já teve só lhe devem restar pouco mais de 10%, dependendo também da presença do dissidente Carlos Vieira, que tem como pecado mortal o facto de não se ter demitido, para agora aparecer como o homem da continuidade, mas sem a toxidade de Bruno de Carvalho. Gostava muito de ouvi-lo principalmente sobre as engenharias financeiras e de perceber porque é que não agiu na altura certa. É que tinha muitas hipóteses se o tivesse feito. Ou será que há ali mais alguma coisa?

Frederico Varandas jogou na antecipação e recolheu de imediato apoios importantes e muito abrangentes. Figura bem vista no universo sportinguista percebeu a oportunidade e agiu no momento certo, tocando desde logo em pontos fundamentais ao defender o que foi bem feito pela anterior Direcção, mas percebendo também o que é fundamental melhorar, nomeadamente a política de contratações no Futebol e a Academia onde falta cultura sportinguista. Mostrou algumas dificuldades em termos de fluidez de discurso, mas até aí já está a melhorar e neste momento é a candidatura melhor posicionada.

João Benedito é uma lufada de ar fresco nestas eleições e provavelmente será aquele que mais poderá beneficiar do impedimento das candidaturas de Bruno de Carvalho e de Carlos Vieira. Vai seguramente ser ouvido por todos e no mínimo marcará pontos para o futuro. Compreendo que vá até ao fim, principalmente se Bruno de Carvalho for barrado.

Dias Ferreira é um Sportinguista conhecido e respeitado que sempre ambicionou ser Presidente do nosso Clube, mas julgo que não terá hipóteses e não sei se irá até ao fim. Não acredito que esteja à procura de um lugar noutra candidatura, mas o seu tempo já passou e para mim basta a sua fixação em Paulo Futre para que eu me encolha todo.

Madeira Rodrigues morreu logo à nascença, se é que já não estava morto, com aquela ideia de trazer o Ranieri, agora resta-lhe seguir o caminho de Boal. Ou arranja um buraco na lista de Ricciardi, ou acaba com 2 ou 3 por cento, se tanto.

Sobre Tavares Pereira a maioria dos Sportinguistas perguntará: Quem? Ele garante que vai até ao fim, mas eu pergunto: Para quê?

Para o fim deixei aquela que para mim foi a maior surpresa desta fase pré eleitoral, porque sinceramente não esperava que José Maria Ricciardi avançasse. O banqueiro por muito que não goste representa aquilo que no léxico sportinguista é o "croquete" e está umbilicalmente ligado aos últimos e fatídicos anos do "Projecto Roquete" o que lhe garante logo à partida os 10% de votos dos sócios que nunca engoliram o Sporting de Bruno de Carvalho, mas também o coloca à parte da maioria que não quer o regresso ao passado.

Ou o homem tem um trunfo muito forte para jogar, ou sinceramente não percebo esta candidatura que ele diz ser agregadora, mas que obviamente nunca irá agregar, ainda por cima com aquela conversa de querer ter bom relacionamento com todos os clubes na defesa dos interesses do futebol português. Chissa, ainda não aprenderam com as rabetas que o Roquete e o Cunha levaram.

Outra coisa que Ricciardi não percebeu foi que Bruno de Carvalho ainda representa uma boa fatia de sportinguistas, pelo que impedi-lo de se candidatar será sempre um grande erro e defender esse impedimento ao mesmo tempo que se clama pela união da nação leonina, é estar mesmo completamente a leste da realidade.

Em resumo, eu diria que Varandas neste momento está na frente, mas poderá ter uma forte concorrência de Benedito de um lado e de Ricciardi do outro, o resto, ou não vai, ou não conta, mas ainda temos longas 5 semanas pela frente.

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