A violência no Desporto

Ontem realizou-se na Assembleia da República uma conferência cujo tema era a violência no desporto e onde marcaram presença diversas figuras proeminentes do futebol português, com destaque para Bruno de Carvalho que para não variar foi muito interventivo, para alguns até excessivamente interventivo, mas eu diria que ele foi acima de tudo incomodativo.

Como não poderia deixar de ser, no final do dia assistirmos ao desfile dos comentadores de serviço que logo aproveitaram para praticarem um pouco do seu desporto preferido, "o tiro ao Bruno", ao mesmo tempo que elogiavam o silêncio do presidente do Benfica, que se limitou a estar presente na sessão da manhã, onde numa postura de verdadeiro estadista, gozou (esta palavra cabe mesmo bem aqui) da simbólica companhia do gestor de eventos do seu clube, um tal de Nuno Gago sobre o qual podem saber mais no site O Polvo.

Já Bruno de Carvalho falou enquanto o deixaram falar e voltou a tocar em questões pelo menos muito interessantes, como a inacção das autoridades perante a violência, as claques ilegais, a utilização da comunicação como arma, a instrumentalização do jornalismo e a necessidade de uma maior intervenção do poder politico.

Pelo meio sacudiu a água do capote, garantindo que se os presidentes estivessem calados 15 dias nada iria mudar e reclamando para os dirigentes um estatuto de protecção que não faz grande sentido, tal como é indiscutível que algumas declarações mais inflamadas dos presidentes, com ele na linha da frente, acabam por exaltar os ânimos dos adeptos mais fanáticos, como de resto se viu numa recente Assembleia Geral do Sporting.

Tirando isto o Presidente leonino fez muito bem em não afinar no coro hipócrita das virgens ofendidas que pedem castigos mais pesados e contenção verbal, tudo em nome do negócio do futebol que segundo eles tem de ser protegido. Ou seja, vamos todos fazer como o Vieira, enterramos a cabeça na areia e fingimos que não se passa nada, pois assim pode ser que tudo se resolva.

A mim parece-me evidente que a violência no desporto tem origem na falta de educação e de cultura desportiva do nosso povo em geral, que se manifesta por todo o lado, embora tenha mais visibilidade nas claques dos grandes clubes. Nesta área a solução passa obviamente pela identificação e penalização dos adeptos mais violentos, coisa que até à data ainda não se fez em Portugal e que não me parece ser assim tão complicada de se fazer. Resta saber se há coragem e vontade de todos os envolvidos para o fazerem, cortando a direito doa a quem doer.

Mas a referida falta de educação e de cultura desportiva também se estende aos dirigentes, isto num país onde há muito que se convencionou que para ganhar vale tudo. O "apito dourado" serviu para apear o velho "papa" do poder que era conhecido como o "sistema", mas em vez de se aproveitar a situação no sentido de se alterarem os procedimentos e de se tornar o futebol mais leal e transparente, tratou-se foi de substituir uns por outros iguais, ou piores, até porque as imitações nunca conseguem ter a mesma qualidade do que os originais e agora os e-mails revelam a existência de uma teia que se espalha por todas as áreas à volta do fenómeno desportivo, ainda por cima suportada por uma máquina de propaganda feroz, que encontrou acolhimento numa comunicação social subserviente e parcial.

E sim, a violência no desporto também é potenciada pela comunicação social, que albergou nas suas hostes e deu cobertura a uma estratégia corporizada pela cartilha do ódio, tudo em nome das audiências, pelo que as lágrimas de crocodilo que agora se vertem não podem ser levadas a sério. A  falta de cultura desportiva também passa e muito pela comunicação social.

Foi aqui que entrou Bruno de Carvalho no seu estilo de elefante em loja de porcelanas a baralhar tudo, pois até aí estávamos todos habituados às guerras entre Benfica e Porto, com o Sporting a fazer o papel de menino bem comportado a quem ninguém ligava e muito menos respeitava, por mais lutos que se fizessem. E não é que agora que o império montado pelo 1º ministro está a ruir, eles querem um pacto de regime e pedem contenção verbal, quando se sabe qual é a origem do ruído excessivo que ecoa por todo o lado.

Que se faça justiça e uma limpeza geral no futebol português e depois então sim, vamos falar em paz.

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