O Futuro do Futebol

Enquanto a comunicação social dava enorme destaque aos discursos de estadista, no Pavilhão João Rocha discutiam-se alguns assuntos de grande relevo para o futuro do futebol, com o Presidente do Sporting sempre na berlinda, ora num inglês fluente, ora no seu português directo.

Uma das questões mais discutidas foi o VAR e aí Bruno de Carvalho aproveitou a exposição do Director Técnico da MLS para defender que os espectadores deveriam ter acesso no Estádio em tempo real, às imagens que o video-árbitro visualiza no decorrer do jogo, algo que segundo Greg Barkey já se faz nos Estados Unidos, pelo que o Presidente do Sporting perguntou ao CEO do IFAB porque é que tal não era possível na Europa, ao que Lucas Brud respondeu que isso apenas dependia das Federações.

Ou seja, afinal parece que o International Board está aberto às mudanças e não é assim tão ditatorial como se tenta fazer crer, mas devo dizer que a questão levantada por Bruno de Carvalho nem me parece muito relevante, sendo quase um não assunto, pois hoje qualquer um de nós se quiser tem acesso às imagens no seu telemóvel, portanto nem vale a pena esconder nada.

O que realmente me parece fundamental é a questão da comunicação, pois acho muito importante que os árbitros possam explicar as suas decisões, para que o público as compreenda, agora isso das imagens passarem nos ecrans do estádio não acrescenta nada, embora Lucas Brud tenha dito que tal poderia ser feito, mas apenas depois das decisões estarem tomadas.

Voltando a Greg Barkey, outra coisa que ele disse que me pareceu um tiro bem em cheio no alvo, foi que sendo o VAR uma ferramenta muito valiosa para auxiliar os árbitros, ela de nada valerá se estes não tiveram qualidade. Ou seja, é fundamental apostar na formação com base no mérito e fazer a depuração dos quadros existentes, sendo que esse é um problema premente em Portugal, dada a herança deixada por Vítor Pereira e Ferreira Nunes.

Foi pena que não houvesse espaço para aprofundar alguns casos que tem acontecido e explanar a necessidade de se afinar o funcionamento do VAR, cruzando experiências com o que se tem passado noutros campeonatos. No geral as apresentações feitas foram mais explicativas da forma de operar e demonstrativas das estatísticas, mesmo que algumas delas tenham sido muito interessantes.

Tocou-se ao de leve na questão do tempo útil de jogo, sempre com o objectivo de se mostrar que afinal o video-árbitro nem tem sido um problema nessa matéria, mas se quisermos um VAR mais interventivo, e acho que é para aí que devemos caminhar, temos de estudar seriamente uma nova fórmula de se cronometrar o jogo.

A grande falha deste congresso neste assunto do VAR, foi o facto de não se ter questionado a resistência da UEFA em relação a esta ferramenta. Numa altura em que as principais Ligas do mundo, à excepção da Premier League tradicionalmente mais conservadora, já aderiram ou vão aderir ao VAR e até a FIFA já aceitou esta inevitabilidade introduzindo-a no Mundial da Rússia, não se percebe nem se aceita o bate pé de Ceferin e companhia. É verdade que a UEFA reúne mais de 50 Federações e há países que terão dificuldades em criar as condições mínimas para a introdução do VAR, mas pelo menos nas fases mais adiantadas da Liga dos Campeões e da Liga Europa já não faz sentido que se continue a manter tudo como dantes.

É necessário fazer pressão sobre a UEFA e neste congresso perdeu-se essa oportunidade, mas os adeptos tem de mostrar que estão fartos de farsas e que querem o VAR, pelo que esse é um movimento que pode e deve partir de baixo, embora me pareça que se calhar vai ser preciso que aconteça um daqueles erros crassos que adultere a verdade de um jogo importante, para que o mundo acorde para esta situação. Só espero que não seja o Sporting a vítima do costume e assim não percebo porque é que Bruno de Carvalho não pegou nisto a sério, quando se referiu ao famoso penalti da Gazpron.

À parte do VAR, temos de referir que o Presidente do Sporting voltou a colocar em cima da mesa questões interessantes como a possibilidade da arbitragem, a disciplina e a justiça, serem geridas por órgãos autónomos e a necessidade dos governos serem mais interventivos, principalmente no que diz respeito às questões relacionadas com os dinheiros que entram no futebol.

Faltou falar nas "Casa das Transferências" há muito defendida por Rui Santos, que me parece ser um instrumento interessante na defesa da transparência que se exige neste mundo da bola onde rolam milhões que na maior parte das vezes acabam nas algibeiras dos parasitas que gravitam à volta do futebol, enquanto os clube se afundam em passivos gigantescos e a maioria dos jogadores terminam as suas carreiras com uma mão atrás da outra.

Pelo meio ainda se falou de corrupção, lavagem de dinheiro, resultados combinados, entre outros assuntos menores, principalmente quando comparados com as histórias do Futre de calças em baixo no balneário do Atlético Madrid. É a imprensa que temos.

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