A falta de militância e o 25 de Abril

Bruno de Carvalho tem-se queixado frequentemente de falta de militância da parte dos Sportinguistas, ao que os seus habituais críticos reagem apontando as excelentes assistências em Alvalade, as afluências recorde às Assembleias Gerais do Clube e o crescimento do número de sócios, entre outros pormenores, como factos demonstrativos do contrário. No entanto julgo que a militância a que o Presidente do Sporting se refere é outra, mais concretamente a daqueles Sportinguistas que ocupam lugares com algum peso na sociedade portuguesa e os que tem espaços de opinião na comunicação social.

Os primeiros regra geral tem sempre muito cuidado para não se comprometerem, ou para mostrarem a sua independência em relação ao Sporting, enquanto entre os outros há um pouco de tudo, desde aqueles que não perdem uma oportunidade para atacarem Bruno de Carvalho, passando pelos que de tanto isentos que tentam ser, às vezes até nem parecem Sportinguistas, restando apenas alguns para darem o corpo às balas, mesmo que por vezes o Presidente do Sporting não lhes facilite a vida.

É a velha história do Sporting e dos Sportinguistas serem diferentes, uma coisa muito bonita, mas que deixou de fazer sentido a partir do momento em que um grupo de criminosos se apoderou do futebol português, de tal forma que se tornou impossível competir em pé de igualdade com os dois clubes dominantes.

Já são mais de 40 anos a chorar derrotas, pelo que para além de diferentes os Sportinguistas também são apelidados de "calimeros" pelos adeptos dos clubes rivais, habituados a festejarem títulos ao mesmo tempo que se riem das nossas desgraças, até que finalmente apareceu alguém sem medo de lhes fazer frente e ainda por cima cheio de razões.

Peça por peça o Xadrez do Benfica vai-se desmoronando e depois da queda de gente como Mário Figueiredo, Luís Duque, Vítor Pereira, Ferreira Nunes, entre outros nomes menores, do desmascaramento da cartilha do Janela, do exílio de João Gabriel e da vinda à tona dos casos dos vouchers e dos e-mails, chegou-se a um ponto em que em desespero de causa até os poderes judiciais foram atacados, naquilo que talvez tenha sido um erro fatal, pois agora já se passou muito para além da esfera do mundo do futebol.  

Mas mesmo com todos estes podres expostos, raras são as vozes criticas ou discordantes da parte dos benfiquistas, restando uma ou outra ligeira manifestação de incómodo e cada vez mais silêncios, enquanto chovem inacreditáveis justificações para um caso tão grave como o de um técnico de informática ter conseguido o acesso a processos em segredo de justiça para dar vantagem a suspeitos e arguidos nesses processos, ainda por cima usando credenciais de magistrados públicos, sendo que o impagável Brás da TVI bateu todos os recordes da criatividade, como se pode ver neste video que se encontra num site afecto ao Porto.

A verdade é que um dos arguidos ficou em prisão preventiva que é uma medida de coacção das mais pesadas, o que só por si comprova a gravidade das acusações de que é alvo, mas por incrível que pareça ainda há quem ache que foi de mais para quem apenas recebeu em troca umas camisolas e uns convites para a tribuna do estádio.

Mas não houve também quem deixasse de reparar que o tonto que pôs em risco a sua carreira, mais por amor à camisola do que por outra coisa, ficou a ver o sol aos quadradinhos, enquanto os que se aproveitaram da sua fraqueza em beneficio próprio, continuam alegremente sentados na tribuna da Luz, onde recebem abraços solidários, reclamam por justiça e até fazem algumas ameaças, ao mesmo tempo que decretam o fim da paródia, como se tal fosse possível nesta altura do campeonato. 

Entretanto Gaidoso garantiu que as manobras de Gonçalves não eram do conhecimento da direcção, nem da SAD benfiquistas, só faltou dizer-nos que não tinha ficado nada em acta sobre tais assuntos. Já o Moniz assegurou que não ia fugir como os ratos fazem, mas a mim parece-me é que todos eles já perceberam que o Gonçalves nunca aceitará sacrificar-se como um simples merceeiro, pelo que se ele for ao fundo leva todos de arrasto. E por falar no gordo que não percebia nada disto, parece que afinal ele continua a ser útil, talvez porque agora já não está sozinho na linha de fogo, onde continua a exibir a sua triste figura.

De uma forma ou de outra chegou à altura de derrubar o regime, o tal 25 de Abril que um dia José Roquete reclamou para o futebol português, pelo que por uma vez na vida se exige a referida militância a todos os Sportinguistas, que tal como os portugueses em 1974, devem unir-se em torno de uma operação de limpeza que não pode ser travada, mesmo que o polvo esteja espalhado por todo o lado e que o fanatismo dos adeptos os mantenha cegos e em estado de negação, tal como Maria José Morgado o referiu recentemente em declarações que podem ver aqui. Só falta é haver coragem para se ir até ao fim, porque é agora ou nunca.

Esta deveria ser uma batalha de todos os que gostam verdadeiramente de futebol, incluindo os benfiquistas, até porque o que está em causa é também a história do clube deles. Mas no fim teremos inevitavelmente de fazer a distinção entre os que se juntaram aos capitães e os foram cúmplices com o regime até às últimas, embora já se saiba que depois se descobriu que quase nem havia fascistas em Portugal, isto sem esquecer dos que simplesmente ficaram em casa à espera que os cravos enfeitassem as metralhadoras, para depois então virem cantar Grândola.

Para terminar desejo sinceramente que esta revolução se concretize finalmente, mas cuidado que a seguir pode vir um PREC e aí espero ver Bruno de Carvalho no papel Soares e nunca no de um Vasco Gonçalves, ou de um Cunhal. 

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