Uma tempestade desnecessária


A tempestade deflagrou no sábado, mas no dia seguinte tive de viajar e aterrei em Lisboa com a triste notícia da derrota na Amoreira. Na 2ª feira, já pela madrugada dentro, assisti estupefacto ao resultado da reunião do Conselho Diretivo e dois dias depois regressei a casa para levar mais uma porrada, desta feita no Dragão. A vida de Sportinguista é mesmo assim, mas nós aguentamos tudo e mais alguma coisa.

Quem deu sinais de já estar perto do seu limite foi Bruno de Carvalho, mas esse para além do seu conhecido pavio curto, tem mesmo de ter toda a paciência do mundo para aturar tudo o que lhe cai em cima. O problema é que paciência não é propriamente uma componente abundante no seu carácter, pelo que ele acaba por se pôr frequentemente a jeito.

A Direcção reuniu e Bruno de Carvalho decidiu convocar uma nova Assembleia Geral visando aprovar as alterações aos estatutos e o regulamento disciplinar, propostas que tanto barulho despoletaram na reunião de 3 de Fevereiro, só que agora se não se concretizar a aprovação das mesmas, os órgãos sociais demitem-se em bloco.

Ou seja, esvaziou-se a discussão das propostas que estão em cima da mesa, pois agora o que está em causa é a continuidade, ou não, desta Direcção numa clara alteração das regras do jogo, que parece ter resultado do facto do Presidente não ter gostado que alguns sócios quisessem ter mais tempo para discutirem e avaliarem o que lhes era proposto. 

Só que afinal foi mesmo feita a vontade a quem queria adiar a aprovação das tais alterações e agora o que não faltam são dados e esclarecimentos sobre os assuntos em questão, mas quem os pedia já não quer saber deles, ou porque na verdade a única coisa que os move é o tiro ao Presidente, ou porque agora o que está em discussão é a continuidade do Bruno de Carvalho, passando tudo o resto para segundo plano.

Quantos serão os sócios que irão votar os dois primeiros pontos da ordem de trabalhos sem pensarem no terceiro? E qual o sentido que fará votar contra a aprovação do regulamento disciplinar, ou contra as alterações estatutárias propostas e defender a continuidade do Presidente? Dir-me-ão que é tudo uma questão de consciência, mas no fundo quem tiver essa postura estará apenas à espera que poucos sejam aqueles que a adoptem, para poderem sair da Assembleia com a consciência de terem votado de acordo com as suas convicções, sem terem perdido o Presidente que apoiam.

Eu por mim não vou ter esses problemas pois não irei à Assembleia, sendo assim como não voto, só posso desejar que seja tudo aprovado bem acima das metas impostas, para não haver mais margem para discussões estéreis, daí que por agora não vá aprofundar o que está proposto nos pontos 1 e 2, mesmo que já tenha mais dados para formar uma opinião devidamente ponderada. De qualquer forma parece-me que afinal não há nada de transcendente para discutir, embora o regulamento disciplinar seja um documento que pode sempre ser uma faca de dois gumes, tal como o reforço dos poderes do Presidente, num sistema que sempre foi presidencialista.

Mas passamos à frente porque valores mais altos se alevantam e se eu levei anos a pedir um líder forte e sem medo de partir a loiça toda sempre que fosse preciso e até já me habituei e ter um que muitas vezes parte é a louceira e tudo o resto que está à volta dela, de tal forma que acaba por ficar ferido pelos estilhaços que ele próprio provoca, não é agora que vou voltar para trás por causa de um regulamento disciplinar que até pode estar muito bem elaborado, mas que seguramente não será suficiente para calar a oposição se esta se organizar para além dos ataques ao Presidente e muito menos para travar a rapaziada das claques quando e se a coisa der para o torto.

Portanto eu quero lá saber de discussões filosóficas sobre a perpetuação do poder do ditador mais transparente que já vi, dos saltos do presidente adepto, da escatologia, dos palavrões, dos cigarros electrónicos, dos beijos na tribuna, da meritíssima gala, do vídeo do rei leão, dos longos missais no facebook e nem sequer me atrevo a sugerir que o homem se poupe e deixe de responder aos gordos, aos magros, aos aziados e aos açucarados, pois ele já disse que tem pai e mãe e que por isso não precisa dos meus conselhos para nada.

Vai daí, força na verga companheiro Bruno porque o Sporting precisa de si. Eu por mim estarei consigo pelo menos enquanto a PJ não entrar em Alvalade para investigar o seu fiel motorista por usar as instalações e as viaturas do clube para tráfico de droga, ou a montagem de uma rede de influências sobre, árbitros, dirigentes, jogadores, políticos, juízes e até simples operadores de imagem, indo ao ponto de colocar toupeiras no sistema judicial, configurando suspeitas de corrupção activa e passiva e de trafico de influencias, ou ainda de utilizar o clube para obter favores para a sua vida pessoal e profissional, isto já para não falar das comissões e dos vouchers, e já agora da distribuição de fruta, de café com leite e ás vezes até porrada.

Por tudo isto se eu pudesse ir lá sábado, seria para votar a favor dos 3 pontos em discussão, porque finalmente temos um Presidente que é pelo menos tão Sportinguista quanto eu, o que não invalida que continue a pensar que ele não devia perder o seu tempo a responder a tudo e a todos dando palco a gente irrelevante, e principalmente que esta tempestade poderia e deveria ter sido evitada, porque era completamente desnecessária e no fundo só penalizou Bruno de Carvalho e o Sporting, porque foi de imediato utilizada como arma de arremesso contra o Presidente, que não se livrará das acusações de ter destabilizado o Clube, principalmente se o futebol não ganhar o campeonato, servindo também para desviar as atenções dos sucessivos casos que se abatem sobre a casa do vizinho, e principalmente porque pôs em perigo a continuidade desta liderança, que com todos os seus defeitos tirou o Clube do marasmo em que vivia há muitos anos, ultrapassando todas as minhas expectativas, sendo que a perspectiva de termos de entrar novamente num processo eleitoral é para mim verdadeiramente assustadora, principalmente quando me lembro de alguns dos presidentes que tivemos depois de João Rocha, e que fomos capazes de gerar candidatos como Abrantes, Cristóvão, Boal, Severino ou Madeira, pelo que não me admirava nada que o próximo a desempenhar o papel ridículo a que estes artistas se prestaram, fosse um Futre qualquer, ou outro pateta do género. Por favor poupem-nos.

Estou completamente convencido que vamos ultrapassar esta tempestade, embora o facto de termos um Marta Soares a comandar as operações da próxima AG seja um pouco assustador, mas espero que tudo decorra com alguma tranquilidade e que no fim ganhe o Sporting e com muito mais do que 75%.



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