Tiros nos pés

Não estive presente na Assembleia Geral de ontem pelo que esta minha intervenção resulta em parte dos relatos de sócios que considero credíveis, mas também da leitura de tudo o que fui ouvindo sobre este assunto. De qualquer forma neste momento acho que não há dúvidas de que o que se passou foi uma sucessão de erros perfeitamente evitáveis e desnecessários, que deram origem a uma verdadeira tempestade num copo de água.

Para começar penso que foi imprudente misturar propostas de alterações aos estatutos que podiam ser pouco consensuais, com outros assuntos mais ou menos pacíficos, pois nesta altura tudo o que não precisávamos era de confusões.

Depois quando as referidas alterações começaram a gerar alguma contestação, ninguém percebeu que o melhor seria retirá-las da ordem de trabalhos, pois estava-se mesmo a ver que aquilo ia dar barraca, e em vez disso foram-se fazendo algumas alterações na redacção das mesmas, o que apenas confirmava que o assunto não tinha sido bem preparado.

Entretanto também não houve a percepção de que atendendo à poeira que já estava a ser levantada, a Assembleia Geral ia ser mais concorrida do que é habitual nestas ocasiões e o resultado foi um atraso significativo na hora do começo dos trabalhos, com todos os incómodos daí resultantes.

Seguiu-se uma longa intervenção de um Presidente visivelmente irritado, onde ele misturou aquilo que era pacífico, com o que era passível de discussão e as críticas sem sentido de que terá sido alvo, com as dúvidas perfeitamente aceitáveis em relação aos pontos 6 e 7.

De resto Bruno de Carvalho levou toda a semana a apelar à participação dos sócios, salientando que era na Assembleia Geral que se deviam discutir os assuntos da vida do Clube e depois parece ter ficado chateado porque os que marcaram presença não se limitaram a dizer ámen a tudo o que foi proposto.

Pelo meio tivemos a habitual falta de tacto e de rigor do Jaime Marta Soares do costume. Por alguma coisa eu votei em branco para a Mesa da Assembleia Geral nas duas últimas eleições, dado as reservas que tinha em relação a este politiqueiro de segunda categoria, que de resto se confirmaram por inteiro. Depois de tudo o que aconteceu e das criticas de que este senhor foi alvo, acho que só lhe resta demitir-se. Estou certo de que a Eduarda Proença de Carvalho não fará pior figura.

Quanto a Bruno de Carvalho, eu percebo perfeitamente o desencanto dele em relação a algumas críticas e ataques de que tem sido alvo e de facto é preciso ter muita paciência para aturar certas coisas, principalmente quando elas vem de onde vem, mas isso são ossos do ofício, e num clube com a dimensão do Sporting, o Presidente está sempre sujeito a críticas e tem de ser capaz de viver com elas. O problema é que ele responde a todas e acaba por misturar aquilo que interessa, com o que devia passar-lhe ao lado.

No que diz respeito aos pontos polémicos da Assembleia Geral, convém perceber que estamos a falar dos estatutos do Sporting Clube de Portugal e não dos estatutos deste ou daquele Presidente. Julgo foi essa distinção que Bruno de Carvalho não conseguiu fazer, propondo alterações que parecem ter sido pensadas à sua medida e visando os seus críticos. Os estatutos sempre contemplaram os direitos e os deveres dos sócios e o regulamento disciplinar faz todo o sentido, não precisa é de ser feito à pressa, principalmente para que isso não seja utilizado como arma de arremesso contra o Presidente.

O pior foi a tirada final com uma ameaça velada de um pedido de demissão que não faz qualquer sentido nesta altura. Então o Presidente vai demitir-se porque os sócios querem adiar a aprovação das alterações estatutárias propostas, para que assim possam discuti-las e avaliá-las com mais tempo, ou porque há um pequeno grupo de sportinguistas que não gostam dele e até usam o jogo sujo para o atacar?

Lamentável foi também o facto de não terem deixado um desses sócios falar e as ameaças que ao que parece foram dirigidas a Madeira Rodrigues. Mas isso, com o clima que estava criado era quase inevitável.

No fundo tudo isto só veio dar trunfos aos críticos da actual Direcção, quando acusam o Presidente de não conviver bem com as críticas e de por vezes se confundir com o Clube. Na verdade esta era a oportunidade que eles estavam à espera e que lhes foi oferecida sem necessidade nenhuma.

Espero sinceramente que prevaleça o bom senso e que Bruno de Carvalho perceba que o Clube nesta altura precisa muito dele e que irmos agora para um processo eleitoral era dar um tiro de canhão no próprio pé. Em primeiro lugar pela destabilização que isso implicaria a todos os níveis e depois porque dificilmente Bruno de Carvalho conseguiria reforçar os 86% que obteve no ano passado, isto partindo do principio de que ele se iria recandidatar, porque o pior mesmo seria se ele resolvesse deixar-nos a todos a falar sozinhos.

A dedicação do Presidente ao Clube é na minha opinião o maior dos muitos méritos de Bruno de Carvalho e eu até percebo que ele tem uma personalidade muito própria, mas mesmo assim atrevo-me a pedir-lhe mais este sacrifício. Às vezes é preciso engolir alguns sapos, mas pelo Sporting vale sempre  a pena. Deixe lá os rodolfos e os severinos a falarem sozinhos e não desvie as atenções daquilo que realmente interessa, perdendo o seu tempo com gente insignificante.

A esmagadora maioria dos sportinguistas reconhece que Bruno de Carvalho em apenas cinco anos transformou um clube em pré falência, num Clube financeiramente estável, um clube perdedor, num Clube que disputa e ganha títulos em todas as modalidades, até a nível internacional, um clube que se preparava para ficar reduzido ao futebol e ao futsal, num Clube cada vez mais ecléctico, um clube que alienava o seu património ao preço da chuva, num Clube que o aumenta e valoriza, um clube que tinha dirigentes que só podiam dedicar-lhe duas horas por dia, num Clube que tem um Presidente que até se excede em termos de dedicação, um clube que no futebol nem contava para o totobola, num Clube que discute taco a taco com dois rivais apoiados por maquinas especializadas no jogo sujo e que só por isso é que ainda não foi Campeão. 

Agora isso não significa que muitos desses sportinguistas, entre os quais eu me incluo, não possam discordar de algumas coisas. O que o Presidente não deve confundir são essas discordâncias pontuais com as manobras da oposição, sob pena desta tirar proveito das outras.

No fundo o que aconteceu foi um episódio insignificante, em que o Presidente pela sua forma de ser e pelo cansaço que já começa a acusar depois de tantas manobras, acabou por se pôr a jeito, o que foi potenciado pela incompetência de Marta Soares e logo aproveitado por uma minoria que estava à espera duma oportunidade para aparecer e quem lhes deu essa visibilidade foi quem devia ter estado quieto. Até pode ser contra natura, mas às vezes um pouco de calculismo não faz mal nenhum a ninguém.

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