89,5% não bastaram

Tal como se esperava a Assembleia Geral de sábado aprovou os três pontos da ordem do dia de uma forma inequivoca, conforme se pode verificar pelos resultados finais bem acima dos 75% exigidos pelo Presidente:
  1.  Alteração dos estatutos: 87,3%
  2.  Regulamento disciplinar: 87,8%
  3.  Continuidade dos órgãos sociais: 89,5%
Foram perto de 5400 sócios do Sporting Clube de Portugal que acorreram ao Pavilhão João Rocha e votaram os três pontos em discussão, que na realidade se resumiam a um único assunto, embora de acordo com os resultados se possa dizer que 2,2% dos votos entrados nas urnas, fizeram a distinção entre os pontos 1 e 3, uma diferença que na relação entre os pontos 2 e 3, foi de apenas 1,7%. 

Ou seja, tal como eu previa só uma ínfima minoria dos sócios que apoiam a continuidade de Bruno de Carvalho, se arriscaram a votar contra os primeiros dois pontos, seguramente por questões de consciência, que são respeitáveis, mas que se tivessem sido tidas em conta por mais uns quantos, poderiam ter posto em causa a floresta para se salvar duas árvores. 

Podemos também concluir que neste momento o peso dos sócios que querem ver Bruno de Carvalho pelas costas se resume a 10,5%, números que mesmo assim vão para além daquilo que eu esperava, e que representam aqueles que não gostam deste Presidente seja lá de que maneira for, de tal forma que alguns até vão ao ponto de desejar que o Sporting perca na esperança de que assim ele possa ser derrubado, havendo também outros que simplesmente já estão fartos dele, apenas porque dão mais importância à forma do que ao conteúdo e não gostam do estilo.

Mas uma Assembleia Geral marcada por Bruno de Carvalho não podia acabar sem polémica e no seu discurso de vitória o Presidente surpreendeu ao afirmar que estava disposto a aceitar as muitas recomendações que lhe tem sido feitas no sentido de se expor menos, pedindo em troca mais militância da parte dos sportinguistas e para começar sugeriu uma posição de força em relação a uma comunicação social que não respeita o Sporting.

Estou completamente de acordo com o principio que está por de trás deste apelo de Bruno de Carvalho, e até percebo que ele o tenha levado ao extremo. É uma forma muito própria de passar a mensagem, o que por um lado o coloca debaixo de fogo, mas que por outro resulta em pleno pelo eco que produz.

Só foi pena que ele se tenha esquecido de avisar que estava apenas a sugerir um boicote aos órgãos de comunicação social, o que não é a mesma coisa do que incentivar agressões ou insultos aos jornalistas que estavam lá fora. Uma omissão fatal, pois há sempre meia dúzia de tontos dispostos a irem para além da troika, pelo que no fim quem ficou com as culpas foi o Presidente, para gáudio das "vitimas" que logo aproveitaram para fazerem o festim do costume. 

Mais uma vez, e mesmo compreendendo, discordo da forma como Bruno de Carvalho passou a sua mensagem, mas quanto ao conteúdo, como quase sempre ele acertou em cheio na muche. 

Alguém já viu algum comentador afecto aos outros clubes grandes a criticar os seus presidentes? E estamos a falar de gente envolvida em casos como o "apito dourado" ou os "emails", isto já para não referir coisas ainda piores que vão muito para além do futebol. 

Imaginem que acontecia alguma coisa parecida no Sporting. Os Sportinguistas seriam os primeiros a matarem o Presidente, enquanto a comunicação social se deliciaria com aquele que já é o seu passatempo preferido: "tiro ao Bruno".

Alguém tem dúvidas de que o Sporting não é tratado pela generalidade da comunicação social da mesma forma do que os seus rivais? Enquanto o Benfica e o seu presidente são tratados com toda a deferência e cuidado, por uma comunicação social facciosa e subserviente, em relação ao FC Porto há muito respeitinho, eu diria mesmo medo, porque ali a coisa pia mais fino, é que eles não se ficam por uns empurrões acompanhados de insultos.

Quanto às sugestões do Presidente, devo dizer que já não compro jornais há muito tempo e também não percebo como é que há sportinguistas a comprar A Bola e O Jogo, dois diários desportivos desenvergonhadamente alinhados respectivamente com o Benfica e com o FC Porto e mesmo o Record apesar de ter melhorado com António Magalhães, continua a tender para o vermelho e a albergar gente como o Farinha, pelo que enquanto assim for tem aqui menos um cliente.

Em relação aos programas desportivos e aos comentadores afectos ao Sporting, a história já é diferente. É evidente que as pessoas não vão de repente começar a ver apenas a TV do Clube, da mesma forma que os comentadores não vão abdicar dos seus lugares, até porque rola ali muito dinheiro, pelo que por cada um que saia, dois se candidatarão à vaga em aberto, e assim o máximo que poderia acontecer seria a multiplicação dos representantes do Sporting de fato e gravata, sempre politicamente correctos, muito educados e prontos a participarem no festim, mesmo que dissimuladamente.

Sendo assim nem me parece boa ideia sugerir que o Sporting deixe de estar representado nesses painéis, embora em certos casos me pareça que é preciso ter voz mais grossa perante as cartilhas e as constantes faltas de respeito ao Sporting e ao seu Presidente, em vez da tradicional postura muito urbana e civilizada dos sportinguistas.

Mas numa coisa Bruno de Carvalho tem toda a razão, é preciso ter muito estômago para partilhar uma mesa de discussão com o gordo da TVI, ou com o ilusionista da CMTV. O Dr. Barroso não aguentou, e ao Pina gabo-lhe a paciência, enquanto o Anjos devia era ser promovido a Santos. Só não percebi porque é que não convidam o Dolbeth, ou porque é que basta que um sportinguista critique Bruno de Carvalho para ter direito no mínimo a uma coluna no jornal, coisa que não acontece com os clubes rivais. Ah, já sei, lá não há oposição, são apenas democracias totalitárias que ganham muitos campeonatos e depois o coreano é o outro.

Uma coisa é certa, agora vamos ter conversa para muitos dias, com a comunicação social a assumir o papel de vítima e a diabolizar Bruno de Carvalho. Não deixa também de ser curioso que as organizações afectas à classe dos jornalistas já tenham vindo a terreiro falar em nome dos códigos de conduta dos seus profissionais, que supostamente estarão obrigados aos sagrados princípios da isenção e do rigor, pelo que não se podem sujeitar a condicionamentos vindos donde vierem. Lindos discursos que nunca se ouviram nas inúmeras vezes em que esses códigos e condutas são atropelados por gente que grava, vende e publica conversas supostamente em off, que está ao serviço de um determinado clube como se pode comprovar em muitos e-mails que vieram a lume, nomeadamente os das cartilhas, gente que deturpa declarações, inventa factos e censura opiniões. Com isso é que os sindicatos e o CNID nunca se preocuparam, porque o Bruno é que é o mau. 

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