Os primeiros dias do VAR

Sempre fui um entusiasta do VAR e quando poucos acreditavam que o futebol desse esse passo rumo à modernidade, escrevi aqui que esperava que ele se concretizasse a tempo de eu poder assistir e saborear essa revolução.

Foi mais depressa do que eu imaginava e felizmente que Portugal se colocou na linha da frente, mas como não podia deixar de ser estes primeiros tempos não vão ser fáceis, pois estamos todos a aprender a viver com uma nova realidade numa fase experimental, que inevitavelmente dará origem a algumas correcções, até tudo ficar bem afinado.

O Conselho de Arbitragem da Liga Portuguesa de Futebol Profissional tem tentado esclarecer o público em geral sobre as especificidades do protocolo que rege a acção do VAR e até já explicou algumas das decisões tomadas, o que é de louvar e deve ser alargado tanto quanto possível, pois há muita gente que ainda não percebeu o funcionamento da coisa, inclusivamente entre os comentadores encartados que poluem diariamente as televisões portuguesas e que deveriam estar melhor preparados para não dizerem tanta asneira.

A primeira jornada da Liga Portuguesa já deu aso a alguns reparos, que em alguns casos mostram o desconhecimento dos críticos e noutros levantam as primeiras dúvidas sobre o bom funcionamento desta nova ferramenta ao serviço da arbitragem.

Há muita gente que parece ainda não ter percebido que o VAR só deve actuar em casos onde não haja a mínima dúvida, pelo que são completamente disparatados os pedidos de penalti em lances como aquele em que Jardel se embrulha com Vukcevic na área do Braga, ou uma pretensa mão de Coates na área do Sporting, ou ainda aquela jogada com André Almeida, que um dito especialista de arbitragem teve o descaramento de afirmar na TVI, que deveria ter resultado na expulsão do jogador do Braga e na marcação de um livre directo.

Isto sem esquecer o caso da expulsão do defesa do Vit. Setúbal com que José Couceiro discordou, mas que está longe de ser um lance claro pelo que obviamente prevalece a interpretação do árbitro de campo. De resto as expulsões só devem recomendadas pelo VAR em casos indiscutíveis, no entanto já ouvi alguns a reclamarem em lances com aquele em que Coentrão tenta responder a um jogador do Aves que o tinha atingido pelas costas.

Mas há alguns casos que levantam outras questões que devem ser verificadas com cuidado:

O protocolo diz que todos os golos devem ser analisados desde o inicio da jogada e isto leva-nos ao 1º golo do Benfica na Supertaça, que foi precedido de uma falta de Seferovic. A questão que se coloca é quando é que começa a jogada? Neste caso penso que será na altura em que o guarda-redes do Benfica chuta a bola para a frente. Mas será que eles viram desde aí? Ou será que não consideraram falta do avançado do Benfica?

Mais polémica foi a anulação de um golo do Braga que Abel refere como legal. Neste caso o CA acaba de se defender afirmando que é um lance duvidoso pois o VAR ainda não tem auxilio das linhas de fora de jogo e as imagens disponíveis não são esclarecedoras. Até aqui estamos todos de acordo, o problema é que não se admite que o plano apresentado corte as pernas a um jogador do Benfica. Será que a BTV não tinha imagens melhores? Ou simplesmente não as quiseram mostrar?

Por outro lado a lei do fora de jogo é clara, em caso de dúvida o fiscal de linha deve deixar seguir. Não foi isso que o bandeirinha fez, anulando um golo duvidoso, um caso que depois não pôde ser devidamente esclarecido devido à má qualidade das imagens disponíveis.

Os fiscais de linha devem ser instruídos para cumprir a regra atrás referida, pois se falharem e der golo o VAR corrige, caso contrário interrompem uma jogada e já não há como voltar atrás. Para isso é necessário penalizar nas classificações aqueles que falharem por defeito e ser condescendente com os que errarem por excesso. Se assim for as bandeirinhas vão subir menos vezes, o que só é bom para o jogo.

Para além destes dois lances em que o procedimento do VAR me parece terá de ser revisto, curiosamente ambos decididos em favor do Benfica, há pelo menos um erro mais difícil de explicar, daí que o CA tenha passado ao lado dessa jogada onde Moreira dá um soco na cabeça de Marcano. Não foi intencional, mas foi falta clara dentro da área. Porque é que o VAR não marcou penalti?

Há também que saudar a validação de um golo que tinha sido mal anulado ao FC Porto e lá estamos outra vez na questão das bandeirinhas mal levantadas.

Lindo, lindo, foi aquela jogada na Supertaça de Holanda onde o 2-0 a favor do Feyenoord foi transformado num penalti contra a equipa de Roterdão que resultou no 1-1. Sabem onde é que isto deveria ter acontecido na época passada, não sabem?

Para a primeira semana não foi perfeito, mas pelo menos neste ano zero devemos ter alguma condescendência, embora eu tema ter que engolir estas palavras agora aqui escritas.

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