O sistema e a estrutura

Durante anos a fio todos ouvimos falar do "sistema", algo que um dia o então Presidente do Sporting José Roquete definiu e muito bem, como "um conjunto de maus hábitos há muito instalados no futebol português".

Nessa altura Roquete e mais tarde o seu sucessor Dias da Cunha, ingenuamente acreditaram que o futebol se poderia auto regenerar. Eram homens de negócios com algum prestigio mas sem nenhuma experiência no mundo da bola, pelo que foram comidos como anjinhos quando caíram no erro de se aproximarem dos líderes dos clubes rivais, gente com muitos anos nestas andanças.

"O sistema" não era mais do que um esquema montado pelos Pintos do Porto, que visava controlar os bastidores do futebol português, especialmente no que diz respeito à arbitragem, mas também nas áreas da disciplina e da justiça, sendo sustentado por uma politica de alianças que gerava uma rede de clubes amigos e subservientes.

Foi neste clima que surgiu um tal de Luís Filipe Vieira que enquanto presidente de um pequeno clube como o Alverca, se tornou num dos afilhados predilectos de Pinto da Costa, com quem aprendeu tudo o que sabe, até que um dia lhe surgiu a oportunidade de entrar para o Benfica que era o seu clube de coração, apesar de também ser sócio do FC Porto, como na altura lhe convinha.

Acabou-se aí a amizade e Vieira nunca escondeu ao que vinha, indo ao ponto de quando perdeu Radomel Falcão para o FC Porto, ter afirmado que mais importante do que contratar bons jogadores, era colocar gente na Liga.

Entretanto surgiu o "Apito dourado" um processo que fragilizou a máquina portista que com o envelhecimento de Pinto da Costa se tornou mais vulnerável, foi então que apareceu um novo termo no léxico do futebol português: "a estrutura", que não é mais do que "o sistema" com outra cor e modernizado de acordo com os novos tempos onde a comunicação passou a desempenhar um papel muito importante.

O Benfica passou a mandar no futebol português onde o "papa" foi substituído pelo "1º ministro", e começou por controlar Vítor Pereira, um personagem que durante muitos anos foi atacado pela máquina benfiquista, mas que foi convertido à seita, pelo que o conteúdo dos e-mails agora divulgados é tão esclarecedor como foram as escutas do "Apito Dourado" com a "fruta" e o "café com leite" de então a serem substituídos pelos "padres" e pelas "missas" de agora. Tudo isto só pode surpreender quem não acompanha de perto o fenómeno futebolístico.

O árbitro Marco Ferreira quando foi estranhamente despromovido, revelou que Vítor Pereira lhe ligava nas vésperas dos jogos sempre que ia apitar o Benfica, para lhe recomendar cuidado, mas ao que parece ele não teve esse cuidado e foi punido, o que só confirma aquilo que está escrito nos referidos e-mails.

Julgo que não será abusivo depreender que o então Presidente do Conselho de Arbitragem fazia a referida recomendação aos outros árbitros, daí que se perceba os cuidados que eles tiveram não suas actuações, não só nos jogos do Benfica, como nos dos seus rivais.

Há que dizer ainda que a lista de árbitros referida nos e-mails não está completa, pois faltam lá nomes óbvios como Bruno Paixão, Manuel Oliveira, Luís Ferreira e Fábio Veríssimo. Estes meninos mais outros cinco dos que estão na lista, arbitraram 20 jogos do Benfica na época de 2015/16, que corresponderam a 19 vitórias. Ou seja, tirando os 4 clássicos onde naturalmente estiveram os internacionais mais credenciados, restaram 10 jogos para os que eventualmente não fazem parte da confraria. Assim é fácil ganhar campeonatos.

É claro que isto não vai dar em nada, de tal forma que por incrível que pareça eu até estou com pena do Pedro Guerra, que para além de ter um grave problema de amnésia, parece que já foi insultado na Luz e destratado pelo Simões e de certeza que vai levar um valente puxão de orelhas do 1º ministro, pois não teve o cuidado de apagar os e-mails. De resto ele está condenado a ser o José Carriço nº 2, pois o Adão Mendes está lá escondido no norte e não tem nenhuma ligação ao Benfica, portanto está-se mesmo a ver que o Vieira se vai pôr inteiramente à disposição das autoridades para investigarem este caso, que será reduzido à condição de uma conversa entre dois fanfarrões com a qual o Benfica nada tem a ver, pelo que a única coisa que vai restar é mais uma dúzia de processos para entupir os tribunais e no fim faz-se uma lipoaspiração.

"O sistema" reinou durante mais de 30 anos, mas parece-me que "a estrutura" tem os dias contados. Com gordura ou sem gordura vem aí o VAR, que não impede a inclinação dos campos, mas dificulta, a divulgação dos relatórios dos árbitros também é um passo.

A descida de divisão de gente como o Jorge Ferreira e Tiago Antunes, indicia que o Fontelas Gomes poderá estar a fazer uma limpeza, embora o Vítor Pereira lhe tenha deixado um campo todo minado, e ele não possa arrumar todos de uma vez, mesmo que este caso até possa ser uma ajuda. Há ainda o grave problema dos observadores, gente que trabalha na sombra e que tem muita influência, o que deixa de fazer sentido a partir do momento que todos os jogos vão ter video arbitro.

Convém é mantê-los debaixo de fogo, é que já há muito tempo que eu não os via tão encolhidos e atrapalhados.

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