Viva o VAR!

E subitamente Fernando Gomes surpreendeu toda a gente ao decretar o arranque do video árbitro já na próxima temporada, mesmo antes da reunião do International Board marcada para Março de 2018, onde se prevê que seja aprovada a introdução oficial do VAR nas principais competições de futebol, provavelmente a começar já no Mundial da Rússia.

Portugal junta-se assim à Holanda, Austrália e Estados Unidos, na posição de cobaia nos testes finais a um nível generalizado, antes globalização do VAR que se prevê já para a época de 2018/19 e perante esta inevitabilidade parece que agora estão todos convertidos. Afinal toda a gente sempre defendeu o VAR e ninguém tentou ridicularizar o Presidente do Sporting quando ele há 4 anos resolveu assumir esta causa.

Ontem fomos surpreendidos com a magnifica revelação de que o impagável mentor da cartilha já é um defensor do VAR desde 1997. Foram 20 anos de luta silenciosa em distintos fóruns secretos dos quais nunca ninguém ouviu falar, onde esta figura foi desbravando o caminho para que agora a luz seja possível através desta radiosa janela que se abriu. Obrigado carlinhos.

E até o director adjunto do jornal Record se esqueceu dessa brilhante conclusão de que o video árbitro não vai resolver todos os casos polémicos do futebol e em vez de explanar sobre as maravilhas dos passeios de D. Vanda e seu marido, lá conseguiu guardar umas linhas da sua oca crónica semanal, onde timidamente se juntou aos defensores do VAR.

São os efeitos do comunicado do Benfica, que perante a inevitabilidade do VAR já na próxima época, aderiu ao rol dos apoiantes desta medida, depois de alguns anos de conveniente silêncio e de muitas reservas levantadas pelos seus cartilheiros, que agora são chutadas para canto.

No meio de tamanho unanimismo, apetece-me pôr um bocadinho de água na fervura e alertar para a revolução que aí vem, para a qual árbitros, jogadores, dirigentes e adeptos tem de se preparar, porque muita coisa vai mudar e antes do VAR ficar afinado, vão ser inevitáveis algumas confusões.

Pelo que percebi o VAR vai ter interferência em 4 situações a saber:

  1.  Lances de penalti: existência de contacto dentro da área, falta cometida dentro ou fora da área.
  2.  Situações de expulsão: conduta antidesportiva que tenha escapado ao árbitro de campo.
  3.  Situações de golo: se a bola ultrapassou a linha, se houve infracção antes do golo, se este foi precedido de posição irregular.
  4. Má identificação: árbitro admoestar o jogador errado.
As questões relacionadas com a mostragem de cartões parecem-me mais ou menos pacíficas, pois trata-se apenas de punir agressões ou entradas violentas e corrigir erros na identificação dos prevaricadores.

No que diz respeito aos golos, ficam salvaguardados casos como golos com a mão, bolas que entram na baliza e não são consideradas, golos precedidos de faltas claras e obtidos em fora de jogo. Neste último caso é bom que os fiscais de linha percebam que a partir de agora aquela regra que diz que em caso de dúvida devem deixar andar, é mesmo para ser levada mais do que à letra, pois sempre que eles marcarem indevidamente um fora de jogo serão crucificados e com razão. Se deixarem passar algum fora de jogo que dê em golo, o VAR encarregar-se-à de corrigir esse erro, o resto não terá influência directa no resultado e estará acoberto da regra atrás referida.

Mais complicados e discutíveis serão os lances de penalti, mas aí não nos resta outra alternativa senão aceitar as decisões dos árbitros, mesmo que possamos não concordar com elas e bastará ler e ouvir alguns veredictos dos ex árbitros que populam por essa imprensa fora, para percebermos que vão ser mais as vezes em que não haverá consenso, do que o contrário. Provavelmente os árbitros vão defender-se mais nestes lances, ficando à espera da ajuda do VAR antes de assumirem decisões difíceis, o que para já me parece ser uma boa opção.

Por agora acho que todos devem compreender que vamos ter uma primeira fase de adaptação a esta nova ferramenta, onde será fundamental criar critérios uniformes na utilização da mesma. Depois com o tempo as coisas irão seguramente funcionar cada vez melhor, mas para já tudo o que for possível corrigir será um ganho em relação ao que tivemos até hoje.

O VAR vai também levantar outra questão no que diz respeito ao tempo útil de jogo, uma vez que irá motivar algumas paragens. Sendo assim a cronometragem dos jogos é um assunto a repensar, pelo que nesta altura penso que o relógio deve parar em situações como as substituições, as entradas das equipas médicas em campo, os golos e as intervenções do VAR. A sugestão do Van Basten em relação à cronometragem ao segundo nos últimos 10 minutos do jogo, também me parece válida. Mas este será o próximo passo, que me parece inevitável, no entanto o melhor será aguardar pelos resultados desta época experimental que aí vem. Depois haverá tempo para avançar, até porque os campeonatos dos países mais ricos e a Liga dos Campeões, vão querer entrar com a máquina já bem afinada.

Mas para já, viva o VAR.







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