Kassai

18 de Agosto de 2009, o Sporting recebe em Alvalade a Fiorentina em jogo a contar para a pré-eliminatória da Liga dos Campeões, que termina com um empate a duas bolas. Desse jogo há um nome que nunca mais vou esquecer: Viktor Kassai, um árbitro húngaro que nessa noite entre outras diabruras, expulsou Vukcevic aos 58m mostrando-lhe um segundo amarelo, depois de ter perdoado duas expulsões aos italianos, uma após agressão a Liedson logo ao minuto 11, e outra em falta sobre João Moutinho que no minuto 49 foi agarrado quando se dirigia isolado para a baliza.

Ficou logo à vista que se tratava de um artista fino, mas o mais estranho, ou talvez não, é que daí para a frente Viktor Kassai construiu uma grande carreira, de tal forma que esteve presente em todos os grandes torneios internacionais e salvo erro chegou mesmo a apitar uma Final da Liga dos Campeões.

Tornei-me num espectador particularmente atento às suas arbitragens e concluí facilmente que se tratava de um árbitro que, para além de ser muito fraco, tinha uma clara apetência para inclinar o campo para o lado das equipas mais fortes.

Mesmo assim foi-se mantendo no grupo de árbitros de elite e de barraca em barraca, a maior parte das quais já nem me lembro, teve a honra de ser o primeiro a marcar um penalti com a ajuda do VAR, num jogo do último Mundial de Clubes. Depois de cerca de 2 minutos de conversa e visionamento do lance num monitor situado junto à linha lateral, conseguiu descobrir uma falta daquelas que hoje chamamos de televisão, mas não reparou que o lance era precedido de fora de jogo, o que me levou a pensar que das duas uma, ou o gajo era mesmo muito nabo, ou só estava a tentar descredibilizar o VAR, uma tecnologia que o vai atrapalhar nas suas habilidades arbitrais.

19 de Abril de 2017, Viktor Kassai é o arbitro do jogo dos quartos de final da Liga dos Campeões entre o Real Madrid e o Bayern de Munique e eu enquanto aguardava o apito inicial, não pude deixar de pensar que tínhamos barraca garantida.

O que nunca imaginei foi que naquele jogo Viktor Kassai iria prestar um grande serviço ao VAR, compensando assim os estragos que tinha causado no Mundial de Clubes. Como era previsível o húngaro mostrou não estar à altura de um jogo daquela responsabilidade e no meio dos seus habituais erros, logo no início da 2ª parte resolveu poupar Vidal ao segundo amarelo. De consciência pesada já não foi capaz de expulsar Casimiro na altura do penalti e voltou a perdoar-lhe o segundo amarelo  já perto do fim do tempo regular de jogo, para poucos minutos depois borrar a pintura, expulsando Vidal numa decisão claramente excessiva, isso já para não falar da dualidade de critérios que a mesma encerrou.

Depois vieram os golos de Ronaldo, o primeiro claramente em fora de jogo e o segundo obtido numa posição muito duvidosa. Estava derramado o caldo. No final do jogo Karl Heinz Rumenigge chorava pelo VAR e Ancelotti falava da necessidade de utilizar o video. Depois do golo fora de jogo do Mónaco em Dortmund, os alemães que devem ter o maior saldo de créditos em erros de arbitragem, na conta corrente do futebol mundial, estão finalmente convertidos ao VAR. Vai daí é fácil concluir que a coisa vai mesmo avançar muito brevemente.

Quem deve continuar a ser totalmente contra, é o Modric, que no Mundial de Clubes não se coibiu de criticar o sistema, que naturalmente não vai agradar muito àqueles que estão habituados a beneficiar dos favores dos apitos e das bandeirinhas, isto já para não falar no Ronaldo, que seguramente não gostaria que lhe tivessem estragado mais uma noite de glória, anulando-lhe dois golos. Mas eles vão-se habituar. Que remédio.

No entanto, também é bom que se perceba que o VAR não vai resolver tudo, muito menos vai impedir as habilidades dos kassais que por aí andam. O VAR pode ajudar um árbitro a tomar a decisão certa num lance como o que deu a vitória ao Atlético de Madrid sobre o Leicester, no jogo em que foi marcado um penalti a uma falta cometida fora da área, ou anular os golos fora de jogo do Real Madrid e do Mónaco, mas não vai impedir as arbitrariedades na mostragem de cartões à moda do Kassai. Isso só fazendo uma limpeza geral, o que é uma tarefa muito mais complicada do que implementar o VAR.

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