As claques e a violência

Ponto prévio: reconheço que as calques dão um ambiente e um colorido especial ao futebol, sei que eles estão sempre lá, faça sol ou faça chuva e onde quer que seja e tenho a certeza que amam os seus clubes.

Esse é o lado positivo das claques, mas infelizmente elas são  também sinónimo de violência e criminalidade, sendo que nestes grupos de adeptos, o consumo de drogas e de álcool em doses excessivas, é mais ou menos generalizado.

As claques são dominadas por um bando de marginais que arrebanham o resto do maranhal atrás deles, de tal forma que hoje alguns desses lideres são praticamente profissionais daquilo, porque o terreno onde se movimentam é propicio a negócios escuros feitos a coberto dos emblemas que esta gente diz defender, mas dos quais se servem.

Bruno de Carvalho recentemente acusou o presidente do Benfica de estar refém das claques e a verdade é que estes grupos tem muito poder nos clubes, e até são capazes de derrubar direcções e por isso mesmo são temidos, mas também são usados como guarda pretoriana de alguns presidentes, que depois obviamente não conseguem ter mão neles.

Mas não é só dentro dos clubes que as calques gozam de privilégios. Estes grupos são frequentemente acompanhados pela policia, que os trata como uma manada de animais, e de facto geralmente eles portam-se como tal, pelo que merecem esse tratamento, que de vez em quando é a toque de cassetete, mas no resto vivem na impunidade e com direito a escolta.

As autoridades sabem perfeitamente o que é que se passa à volta deste submundo das claques, mas parece não haver vontade para cortar a direito, o que me leva a acreditar que haverá muitos interesses escondidos atrás disto tudo.

De há muitos anos a esta parte que as grandes guerras do futebol português são protagonizadas entre FC Porto e Benfica, com o Sporting remetido a um papel secundário, sendo olhado apenas como um grupo de bons rapazes, mas com Bruno de Carvalho isso acabou, passou a haver mais um interveniente activo e o clima de animosidade entre os dois grandes clubes de Lisboa cresceu, principalmente quando o Sporting contratou Jorge Jesus, uma situação que apanhou completamente de surpresa o Benfica que nunca a digeriu, tomando-a como uma afronta.

Surgiu então a cartilha com dois alvos bem definidos: Bruno de Carvalho e Jorge Jesus. Passou a valer tudo e mais alguma coisa para abater estes dois pilares do novo Sporting que não podia ser campeão de maneira nenhuma, com os cartilheiros a marrarem constantemente nos mesmos, destilando ódio por todos os poros com a conivência de uma comunicação social subserviente e partidária.

É verdade que o Presidente do Sporting Clube de Portugal pela sua forma de ser muito própria de alguém que ferve em pouca água, às vezes ultrapassa as marcas do que é razoável, mas também seria preciso ter muita paciência para aturar tudo o que despejaram em cima dele, no entanto paciência é coisa que não sobra a Bruno de Carvalho.

Assim, era mais ou menos inevitável que tudo isto acabasse mal, mas desta vez chegámos a um ponto extremo, é que não foi uma morte mais ou menos acidental, foi um assassinato. Como não podia deixar de ser agora todos lamentam muito o que aconteceu e quase todos sacodem a água do capote, com algumas excepções como foi caso do presidente do Benfica, que candidamente perguntou o que estavam fazer aqueles adeptos do Sporting ao pé do Estádio da Luz às tantas da manhã, só faltou dizer "atravessem na passadeira".

Quanto aos cartilheiros, lá se foram desculpando da melhor maneira que puderam, mas o impagável Ventura conseguiu descobrir que o italiano até estava referenciado no seu país como um adepto violento, portanto está justificado o atropelamento. Enfim, deste não se esperava mais do que isto.

Pelo seu lado, Bruno de Carvalho disse que não eram os piropos trocados entre presidentes que incendiavam os ânimos. Segundo o Presidente do Sporting a culpa é das tarjas e do outro que é conivente com elas, enquanto ele até tem feito muito trabalho nos bastidores com as claques. Até pode ter feito, mas foi pouco, mesmo reconhecendo as dificuldades desse trabalho que é hercúleo.

Por outro lado a generalidade dos comentadores até fez um mea culpa. Agora só falta esse cidadão exemplar que é tido como o vendedor da cartilha, verter uma lágrima e debitar o seu moralismo esfarrapado de comentador independente lá na cmtv, mas isso fica para mais logo à noite.

Por agora resta-nos esperar que punam o assassino e os seus cúmplices, sem esquecer aqueles que vendo um companheiro seu abatido, fugiram a sete pés deixando-o no chão sem lhe prestar assistência, mas já passaram 5 dias e por enquanto a única coisa que prenderam foi um carro.

Será que é assim tão difícil prender os criminosos, impedir os arruaceiros de entrarem nos estádios e punir fortemente os clubes que não forem capazes de manter os seus adeptos na ordem. Sabendo-se que não se pode contar com a colaboração daqueles que estão reféns das claques, estas medidas terão que vir, e até de ser impostas, de fora do mundo do futebol. Resta saber se há vontade e coragem para tanto, ou se a morte de Marco Ficini ainda não foi o suficiente e se estão à espera de mais mortes.

Comentários