Vem aí o VAR

Decorreu na semana passada no Estoril o Football Talks, onde um dos principais assuntos em discussão foi o VAR (Video Assistant Refeee). Estranhamente, ou talvez não, este interessante evento não mereceu grande destaque da parte da comunicação social portuguesa que andou muito entretida com as birras do Benfica.

Durante os trabalhos o Presidente da FIFA Gianni Infantino referindo-se às experiências mais recentes com o VAR, afirmou:

A resposta foi muito positiva. Mas ainda estamos em fase de testes e ainda falta muito para que seja amplamente utilizada. No Mundial'2018? Espero que sim e vamos trabalhar nesse sentido, é preciso ajudar os árbitros a não cometer erros importantes.

O diretor do Comité de Arbitragem da FIFA, Pierluigi Collina, também defendeu que o futebol tem de adotar meios tecnológicos para melhorar o desempenho dos árbitros, dizendo:

É possível trabalhar na preparação dos árbitros e melhorar a sua preparação. Mas, mesmo assim, é impossível competir com a tecnologia. Vivemos num mundo em que estamos rodeados dela. O futebol não pode evitar a tecnologia

Por sua vez o antigo árbitro internacional inglês e atual diretor técnico do International Board, David Elleray, deu uma entrevista ao jornal Record onde disse entre outras coisas:

Claro, gostava muito de ter tido (o VAR). Muitos árbitros vão dar as boas-vindas ao VAR porque todos os árbitros, ao longo das suas carreiras, cometem erros em situações difíceis. Muitos dos erros que eu cometi poderiam ter sido corrigidos pelo VAR. Ter essa possibilidade é bom para os árbitros, mas acima de tudo para o futebol em termos globais.

Na mesma edição desse jornal o diretor adjunto do mesmo, que é conhecido por fazer parte da máquina de propaganda do estado lampiónico, escreveu sobre a dita entrevista: 

A conversa resultou numa esclarecedora lição para os que ainda não perceberam o essencial: que, em futebol, o erro do árbitro nunca irá desaparecer, ao contrário de algumas modalidades em que é possível reduzir as más decisões praticamente a zero. Em futebol nunca será. Uma das questões mais debatidas com a entrada do vídeo-árbitro prende-se com o risco que existe de perda de fluidez do jogo e uma alteração daquilo que é o seu ritmo natural. Sobre isto, Elleray diz o seguinte: "Não vamos poder parar para analisar todas as jogadas, todas as dúvidas, pois a fluidez do jogo deve manter-se." Um bom início de conversa, mas é possível que a ideia encontre muito resistência em campeonatos, como o nosso, onde se chegam a reclamar três e quatro penáltis em cada 90 minutos.

Noutra coluna do mesmo jornal, Rui Santos um conhecido defensor do vídeo árbitro, replicou:

Aqui, há cada vez mais ‘agentes’ rendidos à evidência, mas ainda se perde muito tempo com questões do tipo "os erros dos árbitros não vão acabar". Claro que não vão acabar. Vão ser em número menor e os erros grosseiros tenderão a desaparecer. Haverá mais escrutínio e os próprios árbitros sentir-se-ão muito mais protegidos.

Rui Santos tem alguma razão, mas apesar de tudo continuam a haver muitas resistências, mesmo que a argumentação dos farinhas seja cada vez mais pobre, como é o caso da história da fluidez do jogo, como se alguém estivesse a pedir que todos os lances sejam analisados e basta lembrar-nos da festa que fizeram quando a coisa não correu bem no Mundial de Clubes.  

Ainda há um longo caminho a percorrer mas avizinha-se uma nova era no futebol, que é irreversível, por muito que isso custe aos que estão habituados a beneficiar dos favores dos apitos e das bandeirinhas e que tudo farão manterem esses privilégios e retardar a entrada em vigor do VAR.

A única coisa que eu continuo a estranhar é que se persista em afirmar que o fora de jogo não pode ser incluído nos lances sujeitos a análise pelo VAR. A mim parece-me que estes são os lances mais fáceis de avaliar com a ajuda desta tecnologia, muito mais fáceis do que por exemplo os penaltis, que muitas vezes são extremamente discutíveis, ao contrário do que acontece com os foras de jogo que resultam de uma regra perfeitamente clara e objetiva. Basta que o fora de jogo passe a ser assinalado apenas pelo VAR, havendo até a possibilidade de se dar a lei da vantagem, para que o jogo apenas seja interrompido quando efectivamente houver um jogador a beneficiar de uma posição irregular.

Mas tudo o que vier é bem-vindo e já estamos muito mais próximos do que estávamos quando há 4 anos atrás os farinhas desta vida tentaram ridicularizar Bruno de Carvalho, por este ter defendido a rápida introdução do vídeo árbitro no futebol. Diziam na altura que isso era impossível pois o International Board, a FIFA e a UEFA nunca aceitariam tal coisa, mas hoje já arrumaram essa música na gaveta, embora continuem a resistir, mas cada vez mais lhes começam a faltar argumentos.

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