Ninguém o cala

Depois de uma semana marcada pelos boicotes do Benfica à FPF, justificados como uma forma de protesto pela alegada dualidade de critérios nos prazos de aplicação dos castigos aos seus dirigentes e aos do Sporting, Bruno de Carvalho regressou da Costa Rica no sábado e logo no aeroporto foi atacado pelos jornalistas, que o convidaram a comentar esses episódios.

O Presidente leonino afirmou então que concordava que de facto havia essa dualidade de critérios, só que na opinião dele o prejudicado era o Sporting e em comparação com Luís Filipe Vieira disse:

Eu tenho a consciência tranquila, esse senhor nem na vida pessoal pode ter a cabeça tranquila, quanto mais no futebol
Na 3ª feira um amigo perguntou-me se eu tinha visto o Pé em Riste da CMTV, onde na noite anterior o mais polémico de todos os comentadores do estado lampiónico, tinha ameaçado despudoradamente o Presidente do Sporting. Aquilo que esse meu amigo me contou foi o suficiente para que eu fosse ver o referido programa e para não pecar por excesso, passo a transcrever minuciosamente o que o tal Ventura disse em relação ao facto de Bruno de Carvalho se ter referido à vida pessoal do presidente do Benfica.

Eu vou só dizer isto uma vez que é para o Bruno de Carvalho perceber bem. Que é, quando eu aqui falei, quer da companheira de Bruno de Carvalho, quer das penhoras de Bruno de Carvalho, quer de tudo o que envolve Bruno de Carvalho, eu disse que sobre a vida pessoal, eu de facto acho que nós não devemos entrar, ou devemos entrar o minimamente possível. Bruno de Carvalho insiste nisto, insiste em falar de dívidas de Luís Filipe Vieira, insiste em falar do cadastro de Luís Filipe Vieira,  insiste em falar da vida passada de Luís Filipe Vieira. Se Bruno de Carvalho quer entrar nesse debate, então nós entramos, mas entramos a sério, entramos a sério, entramos na vida pessoal, entramos na vida pessoal a sério, entramos nas penhoras do fisco, entramos nas questões pessoais, e aí vamos ver quem é, e aí vamos ver quem é que resolve melhor a situação. Agora acho muito grave que Bruno de Carvalho à chegada do aeroporto dizer que Luís Filipe Vieira nem na vida pessoal deveria ter descanso. É muito grave. Depois não me liguem para aqui para o estúdio, pró estúdio, a dizer que querem entrar nos programas, a dizer assim, você não fale da vida pessoal, como é que é possível, vocês hum...depois não liguem, porque quem abre a caixa de pandora depois tem de viver com ela.
Depois destas ameaças descaradas e perante alguns reparos do comentador afecto ao FC Porto, o impagável Ventura lá foi dizendo que não queria entrar em ataques pessoais, não queria mesmo, mas depressa voltou à carga:


Eu só estou a avisar, se querem ir por aí, é um mau caminho porque vão ir, mas é mau para todos, mas é mau para todos, é mau para todos, é mau para todos,... é mau para todos, mas ó Nuno, mas ó Nuno poderia dizer,  mas ó Nuno poderia dizer... mas ó Nuno poderia dizer, poderia dizer...  poderia dizer...  mas eu também poderia dizer, eu também poderia dizer, que Bruno de Carvalho se calhar não pode ter descanso em muitos aspectos da sua vida pessoal, em muitos aspectos da sua vida pessoal. E acho que é muito desagradável este tipo de discurso, acho que é muito desagradável. E depois ficou todo ofendido quando o Correio da Manhã e outros jornais denunciaram que havia penhoras em curso sobre Bruno de Carvalho. Ficou todo ofendido.
Ou seja lá foi aproveitando para dizer o que queria, ao mesmo tempo que ia ameaçando dizer mais, de tal forma que eu pensei que a imprensa não deixaria de questionar o Presidente do Sporting sobre estas ameaças declaradas.

Entretanto, ainda na 3ª feira tomei conhecimento dos 113 dias de castigo aplicados a Bruno de Carvalho, ao mesmo tempo que a TVI anunciava uma entrevista ao Presidente do Sporting marcada para o dia seguinte. Não foi difícil adivinhar que vinha aí mais um temporal. 

Apesar do canal 4 ter tentado replicar o tributo feito a Luís Filipe Vieira há algum tempo atrás, a verdade é que Bruno de Carvalho ainda é um novato no mundo do futebol, o que o impede de se armar em senador da bola, mas em contrapartida oferece conteúdos muito mais ricos, enquanto entrevistado.

Dá para perceber que José Alberto Carvalho não é propriamente um especialista nas barafundas do mundo da bola, e talvez por isso não tenha trazido à baila o assunto das ameaças do outro, mas mesmo assim Bruno de Carvalho não deixou deixar um recado quando contou: 

Já me disseram ‘você é um tipo perigoso porque não alinha naquilo que é normal’. Como quis perceber um bocadinho melhor daquela conversa, perguntei ‘o que quer isso dizer’? Toda a gente no futebol sabe algo da outra pessoa. Como não aceito convites para ir para lado nenhum, para a noite, em negociatas, dizem que sou um perigo porque sou um loose-cannon (um canhão perdido). Como não tenho telhados de vidro, posso dizer o que quero. No futebol diz-se o que está predefinido. Existem quase acordos tácitos. Por isso é que há guerras em que me farto de rir, porque se formos a ver bem aquilo é uma dança, só que um pouco mais violenta, mas não deixa de ser uma dança a dois. Sou visto como um elemento perturbador e provocador quando continuo a dizer a verdade.
Quanto ao resto da entrevista,  ficaram algumas ideias fortes, como a defesa de que a arbitragem e a disciplina devem ser independentes da Federação e da Liga, o reforço da promessa de ganhar doia campeonatos durante o próximo mandato, sob pena de concluir que ele próprio afinal não tem queda para aquilo a que se propôs, porque o resto acabou por ser à volta do estapafúrdio castigo aplicado a pedido do Benfica, que na verdade o que queria era a interdição do Estádio José Alvalade, porque já cheira a "derby" e o medo é indisfarçável, mas Bruno de Carvalho não teve dúvidas em manter a sua linha e falou de censura e até de um lápis vermelho.

Esperemos pelos próximos episódios, mas para já ninguém o cala.
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