Jorge Jesus e a formação


Não sei se será um mito, mas tornou-se voz corrente dizer-se que Jorge Jesus é um treinador que não aposta na formação, principalmente a partir do momento em que o Benfica decidiu não lhe renovar o contrato, passando a mensagem de que a aposta em jogadores formados no Seixal seria o novo paradigma do futebol benfiquista, pelo que para isso era necessário um treinador com outro perfil, recaindo a escolha sobre Rui Vitória, um homem que até já tinha passado pelo futebol da formação do Benfica.

Dizem os benfiquistas que em 6 anos na Luz Jorge Jesus nunca olhou para a formação, preferindo sempre apostar em jogadores estrangeiros, mas esquecem-se que o que lhe pediram foi a conquista de títulos e foi isso que ele lhes deu, algo que seguramente não teria conseguido com uma equipa de miúdos.

Depois há também que dizer, que para apostar na formação é preciso que haja jovens com qualidade para lançar, e aqui a pergunta é: quantos jogadores da formação do Benfica foram desprezados por Jorge Jesus e depois mostraram ter essa qualidade?

Depois de uma pesquisa rápida cheguei à conclusão de que Jorge Jesus lançou 11 jovens oriundos do Seixal, sendo que apenas André Gomes foi uma aposta regular com 41 jogos disputados em 2 temporadas. Dos outros há a referir que Gonçalo Guedes fez 9 jogos quando ainda era júnior na última temporada do treinador no Benfica. Depois temos Nelson Oliveira, Luís Martins, David Simão, Roderick Miranda, Ivan Cavaleiro, Hélder Costa e João Teixeira, tudo craques adiados, restando então Bernardo Silva e João Cancelo que foram timidamente lançados na sua primeira época de seniores.

É verdade que estes últimos dois já mostraram que são bons jogadores, mas a realidade é que foram vendidos logo a seguir ao seu lançamento e isso já não foi da responsabilidade de Jorge Jesus. Há também que referir que poucos são os jovens que conseguem entrar logo nas equipas principais no ano em que sobem à primeira categoria. Gelson Martins por exemplo só no seu segundo ano de sénior é que começou a jogar regularmente na equipa principal, enquanto há outros como João Mário, que primeiro são emprestados e só depois regressam a casa melhor preparados.

Voltando aos tais dois jogadores aos quais Jorge Jesus cometeu o crime de só dar alguns minutos, quando eles ainda gatinhavam e que Vieira e Mendes se apressaram a despachar por 15 milhões cada um, há que referir que Cancelo estava tapado por Maxi Pereira, pelo que quanto muito se poderá dizer que o treinador desperdiçou um grande talento como era Bernardo Silva, que realmente poderia ter jogado mais, mas depois dele se ter envolvido naquela história do nascer 10 vezes, não lhe restava muito espaço no Benfica.

Ou seja, realmente Jorge Jesus não apostou na formação do Benfica. Mas qual formação? Digam-me onde estão os jogadores que ele deveria ter aproveitado e que desperdiçou. E o que é que mudou com Rui Vitória? Pois é, não estão em lado nenhum e o novo treinador do Benfica apenas deu continuidade à aposta em Gonçalo Guedes e lançou o júnior Renato Sanches. De resto, fez o mesmo que Jorge Jesus, deu uns minutinhos a Nuno Silva e a João Teixeira e esta época teve recorrer a José Gomes por causa das muitas lesões que afectaram o plantel, mas aonde é que andam agora esses craques?

Jorge Jesus chegou ao Sporting com o estigma de não apostar na formação e logo no seu primeiro ano deu a titularidade a Rúben Semedo e a Gelson Martins e foi dando alguns minutos a Matheus Pereira. Nesta época depois do falhanço nas aquisições, o treinador leonino chamou João Palhinha que tem jogado regularmente e recebeu de braços abertos um prometedor Daniel Podence, embora pareça não estar muito convencido com Francisco Geraldes, que logo passou a ser o alvo de todas atenções da comunicação social, que o elevou à condição do Bernardo Silva do Sporting.

Conclusão: quando há qualidade Jorge Jesus aproveita, mas como todos os treinadores não acerta sempre. No entanto está mais do que visto que essa história dele não gostar dos miúdos da formação não é bem assim. No Benfica ele tinha mais craques e menos qualidade na formação, pelo que as suas apostas foram tímidas. No Sporting a linha de produção de talentos feitos em Alcochete é melhor e mais abundante e há menos dinheiro para ir buscar ao estrangeiro, por isso os miúdos jogam mais, mas naturalmente que assim é mais difícil chegar aos tão desejados títulos. O resto é a propaganda do estado lampiónico.

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