O dono daquilo tudo


Madeira Rodrigues apresentou-se enquanto candidato à Presidência do Sporting Clube de Portugal como um homem que marcaria a diferença em relação a Bruno de Carvalho, no que diz respeito à urbanidade, empunhando a bandeira da superioridade em termos de nível e de educação, que de certa forma diferencia orgulhosamente os sportinguistas dos seus rivais.

Talvez por isso não desgostei das suas primeiras intervenções, mesmo que revelasse uma natural falta de preparação para a luta desigual em que se estava a meter.

No fundo o que inicialmente Madeira Rodrigues trouxe de novo, era essencialmente uma questão de de estilo, sendo que nesta matéria eu nunca fui propriamente um entusiasta de Bruno de Carvalho, embora compreenda que num mundo sujo como o do Futebol, não vamos lá com palavrinhas mansas, até porque do outro lado está gente com hábitos e métodos de verdadeiros gangsters.

Mesmo assim penso que o actual Presidente do Sporting às vezes excede-se, mas isso é apenas uma questão de estilo com a qual eu já aprendi a conviver, respeitando a natureza de Bruno de Carvalho, cujo o trabalho feito ao longo destes últimos 4 anos é mais do que suficiente para que eu deposite nele a confiança para outro mandato.

No entanto ao longo da campanha, Madeira Rodrigues foi adoptando uma postura cada vez mais agressiva, o que até se pode compreender quando se está a falar de uma candidatura de alternativa ao poder, mas esta história do Ricciardi ultrapassou os limites, pois não pode valer tudo e muito menos se pode aproveitar uma coisa destas para tentar adulterar a realidade.

Toda a gente sabe que depois da saída de Dias da Cunha do Sporting, José Maria Ricciardi passou a ter uma palavra decisiva na escolha das Direcções do Clube e, é também do conhecimento público que em 2013 o banqueiro apoiou a candidatura de José Couceiro, que como se sabe admitia que o Sporting perdesse a maioria na SAD. Foi contra isso que Bruno de Carvalho concorreu e ganhou e foi graças a ele que o prazo de conversão das vmocs foi dilatado, salvo erro por 10 anos, no âmbito do processo de reestruturação financeira que foi conduzido com inegável sucesso pelo actual Conselho Directivo.

É pois inadmissível pegar numa conversa de José Maria Ricciardi em 2013 para colá-la Bruno de Carvalho, graças a quem as ideias expostas nessa conversa não vingaram, de tal forma que o próprio autor das mesmas hoje reconhece que não tinha razão e que era possível outro caminho.

Para além de tudo isto, o sportinguismo de José Maria Ricciardi é indesmentível. Foi ele que na sua posição de banqueiro viabilizou a sustentabilidade financeira do Grupo Sporting, durante o chamado Projecto Roquete, cujos resultados não vale a pena estar a discutir agora aqui. Provavelmente será verdade que depois se armou em dono daquilo tudo, mas tenho de lhe tirar o chapéu por não só ter reconhecido os méritos do trabalho de quem se tinha oposto às suas directrizes, com também por se ter disposto a dar o seu apoio às novas soluções apresentadas por Bruno de Carvalho, mostrando que para ele o que interessa aqui é o Sporting Clube de Portugal.

Depois do enorme tiro no pé que foi a reacção de Madeira Rodrigues no caso de Jorge Jesus, o candidato com esta sua postura deitou pela borda fora o pouco que lhe restava da sua aura de diferente para melhor em termos de urbanidade.

No meio desta confusão toda resta-lhe um trunfo, que é a questão do investidor fantasma. Nessa matéria parece-me óbvio que Bruno de Carvalho não tinha investidor nenhum em 2013, e que de lá para cá tem andado à procura dele. Agora consta que para isso terá pedido ajuda a Ricciardi, mas continuo convicto de que ainda não há investidor nenhum, pelo que todo este processo foi muito mal conduzido e não abona em nada a favor do Presidente leonino, que vai ter alguma dificuldade em descalçar esta bota apertada em que se meteu depois de garantir que os tais 18 milhões já tinham entrado na SAD. Será que entraram mesmo?

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