O fado leonino em Madrid

Estava eu a assistir ao sorteio da Liga dos Campeões, quando ao reparar no acasalamento entre o Real Madrid e o Dortmund, não pude deixar de pensar que aquele seria o grupo onde o Sporting iria cair, pois já é mais do que habitual a falta de sorte que temos nestes verdadeiros "azareios" e a única coisa que me espantou foi que do pote 4 não nos calhou o Mónaco. 

É o nosso fado, tal como é fatal como o destino perdermos jogos de forma inglória em situações que parece que só acontecem ao Sporting.

Logo a abrir a prova o Sporting deslocou-se a Madrid para defrontar os todos poderosos Campeões Europeus, mas mesmo assim Jorge Jesus não hesitou em prometer uma equipa sem medo e fiel aos seus princípios de jogo.

E se o treinador leonino prometeu, melhor cumpriu, pois na realidade o Sporting entrou no Bernabéu de uma forma desinibida e foi a melhor equipa em campo durante toda a 1ª parte, conseguindo não só controlar completamente o jogo do Real Madrid, que apenas criou algum perigo num remate de Ronaldo a 30 metros da baliza, como esteve muito perto de marcar, pelo menos por três vezes.

O remate perigosíssimo de Bruno César logo a abrir foi o mote que a equipa precisava para entrar bem no jogo, com Gelson Martins a mostrar todo o seu talento, coisa em que só o engenhocas Santos é que parece ainda não ter reparado.

As escolhas de Jorge Jesus para este jogo foram as óbvias, apostando nos jogadores da época passada, com a excepção de Bas Dost, porque não sobrou nenhum dos avançados de 2015/16, mas num jogo destes o lugar de ponta de lança até pode ser o mais fácil de enquadrar, no entanto mesmo assim notou-se a falta de entrosamento do holandês com a equipa, principalmente nas três vezes que Gelson Martins partiu aquilo tudo, e em que depois faltou quem empurrasse a bola para a baliza. 

De resto Jorge Jesus optou pelos laterais que lhe dão mais garantias em termos defensivos e colocou Bruno César no meio, o que no jogo com o FC Porto já tinha resultado muito bem e que agora voltou a funcionar em pleno, com o "chuta-chuta" a beneficiar de mais espaço para rematar, o que lhe valeu um belo golo. 

Ia o jogo com 40 minutos e eu pensava cá com os meus botões que em primeiro lugar seria importante chegar ao intervalo sem sofrer golos e depois seria fundamental não tremer na reentrada para 2ª parte, onde seria previsível que o Real Madrid aumentasse o ritmo de jogo, saindo do tradicional deixa andar com que estas grandes equipas encaram os confrontos com adversários que à partida lhes são inferiores.

E de facto o Sporting ultrapassou esses dois momentos do jogo da melhor forma possível, pois logo a abrir a 2ª parte apanhou-se a ganhar um resultado que até se aceitava como justo e nem aí a equipa caiu na tentação de recuar muito na defesa da vantagem adquirida, mantendo-se muito bem plantada no terreno, numa organização perfeita que é a imagem de marca das equipas de Jorge Jesus

Percebeu-se então que dali para a frente só as substituições poderiam mexer com o jogo e de facto assim foi. Zidane lançou Lucas Vasquéz e Morata e o Real Madrid finalmente acordou para o jogo, aumentando a velocidade pelo que o perigo começou a rondar a baliza de Rui Patrício, que até aí tinha tido uma noite tranquila.

Tinha a palavra  Jorge Jesus que teve de recorrer a jogadores com 15 dias no clube e não foi feliz nas escolhas que fez em relação aos elementos que saíram. Começou por tirar Gelson Martins que até aí tinha sido a grande figura do jogo e aqui eu até compreendo que o miúdo já estivesse desgastado e que Lazar Markovic pudesse ser uma boa opção dada a sua velocidade e os espaços que se poderiam abrir, mas o sérvio está claramente fora de forma e nada trouxe à equipa que perdeu o jogador que estava a pôr em sentido a defesa contrária.

Depois saiu Adrien Silva quando me parecia a altura de tirar Bryan Ruiz ou Bruno César, até porque comigo o Capitão joga sempre. A verdade é que a equipa perdeu o seu comandante e Elias acabou por fazer aquela falta fatal já perto do fim do jogo. Sei que agora é fácil criticar, mas mesmo assim custa-me entender essa substituição, embora eu perceba que o arbitro estava a inclinar o jogo, pelo que Jorge Jesus provavelmente se quis prevenir contra um segundo amarelo.

De resto o treinador do Sporting já nem estava no banco donde foi expulso por protestar um inacreditável cartão amarelo mostrado a William Carvalho, o que segundo o próprio Jorge Jesus prejudicou e muito a equipa, porque com ele no seu posto o Sporting não teria perdido. Não sei se seria assim, ou não, mas um homem experiente como o técnico leonino não se pode pôr a jeito daquela forma e depois queixar-se. 

Eu e todos os que viram o jogo, percebemos a dualidade de critérios do árbitro e daqui do meu sofá disse-lhe das boas, o que também me valeu um merecido cartão amarelo da minha Maria, pois o homem realmente fez o que pôde para nos tirar do sério, mas quem está lá dentro tem de manter a cabeça fria.

Com o jogo empatado e 4 minutos para se jogar, talvez tenham faltado as vozes de comando do treinador e do capitão da equipa e o que é certo é que o João Pereira não poderia ter perdido aquela bola a 30 segundos do fim e perdendo-o alguém teria de fazer uma falta logo ali, mas não, deixaram a bola seguir para o James, a última cartada de Zidane, que acertou em cheio nas substituições e ganhou o jogo com alguma sorte, pois nos dois golos Rui Patrício até quase fez o impossível, mas o poste quis empurrar a bola para dentro, embora diga-se a verdade que antes tinha negado um golo feito ao Ronaldo, num período em que o Real esteve duas ou três vezes perto do empate, que seria um resultado mais justo. Mas isso de justiça nos resultados dos jogos de futebol já se sabe como é e se a vitórias morais de pouco servem, os empates ainda menos devem servir.

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