E o burro sou eu.


É politicamente correto dizer-se que a Selecção Nacional é a equipa de todos nós, pelo que nestas alturas dos grandes torneios internacionais devemos despir as camisolas dos nossos clubes para apoiar Portugal.

No entanto por mais voltas que se dê não é isso que acontece e não há ninguém que na hora das escolhas não prefira ver os jogadores do seu clube, na Selecção Nacional, pelo que estas discussões tem sempre um teor marcadamente clubístico.

Assim, eu compreendo que os benfiquistas depois de vários anos sem um representante emblemático do seu clube, na Selecção, tenham defendido com unhas e dentes a convocação de Renato Sanches, um jovem jogador que parecia não ter lugar nos 23, mas que beneficiando das lesões de Danny e de Bernardo Silva, acabou por ser chamado e agora já é apontado como candidato à titularidade, com toda a força que a máquina de propaganda benfiquista exerce.

É claro que do outro lado estão os sportinguistas, entre os quais eu orgulhosamente me incluo, fartos de verem os jogadores do seu clube preteridos nas escolhas dos selecionadores.

Quando foi anunciado o onze para o jogo com a Islândia, o meu olhar pintado a tons de verde e branco não pôde deixar de ser critico em relação às opções por jogadores como Vieirinha e Danilo, em detrimento de Cédric Soares e William Carvalho, mas na minha opinião o maior pecado era a ausência de Adrien Silva, um jogador que foi determinante na grande campanha que o Sporting fez na temporada que agora termina, de tal forma que para mim a Selecção tem de ser ele e mais 10.

Reconheço que há muito equilíbrio neste lote de jogadores, pelo que tirando Cristiano Ronaldo, Pepe e Rui Patrício, não podemos falar de titulares indiscutíveis, mas na minha opinião Cédric Soares é um lateral que oferece mais garantias defensivas do que Vieirinha. Já entre William Carvalho e Danilo não vejo diferença nenhuma, são claramente jogadores do mesmo nível. Quanto a Adrien Silva, trata-se de um jogador que acrescenta uma intensidade e capacidade de pressão que André Gomes nunca terá, o mesmo se podendo dizer em relação a um João Moutinho claramente fora de forma.

Sendo assim parece-me mais do que óbvio que seria inteligente da parte de Fernando Santos, aproveitar as rotinas do trio do meio campo do Sporting, para dar consistência à equipa, que depois tanto poderia jogar com um 4º médio, ou com Nani a fazer de Bryan Ruiz, aproveitando o bom momento de Quaresma para formar uma tripla de avançados muito móvel e criativa.

No Europeu de 2004, Scolari que era teimoso e às vezes mesmo casmurro, teve de perder o jogo inaugural com a Grécia para sentar algumas vacas sagradas e apostar no meio campo do FC Porto de Mourinho e ainda foi a tempo de chegar à Final de Lisboa, mas temo que Fernando Santos não esteja nada virado para aí e vá insistir nos meninos de Jorge Mendes, ou mesmo fazer a vontade à máquina de propaganda benfiquista, pelo que não auguro grandes resultados, mesmo que a eliminação nesta fase seja impensável.

Mas a verdade é que também ninguém acreditava neste empate com os armários islandeses, num jogo onde curiosamente Vieirinha foi o pior em campo, tendo claras responsabilidades no golo sofrido, enquanto no meio campo foi visível a falta de intensidade perante um futebol muito físico que exigia aquilo que André Gomes e Moutinho não tiveram para dar, sendo que no fim foi Danilo quem pagou as favas, perdendo invariavelmente os duelos físicos com os nórdicos. Ou seja foi uma exibição pobre que veio dar razão às minha opiniões.

Na conferência de imprensa de ontem, Fernando Santos já anunciou algumas alterações, mas fez questão de afirmar que serão resultantes da necessidade de gerir o esforço do grupo e não das exibições menos conseguidas deste ou daquele jogador. Espero que esta tenha sido apenas uma declaração politicamente correta, pois não é necessário estar a crucificar ninguém publicamente, mas é fundamental que o selecionador saiba ler os sinais que os jogadores e a equipa lhe deram, sendo que a troca de lateral direito é imperativa e o meio campo também terá de ser mexido.

Oxalá não seja necessário ficar com  a corda ao pescoço para que Fernando Santos acorde, ou eu não tenha de dizer como o outro "e o burro sou eu".



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