O Sporting e a Selecção Nacional

O primeiro jogo da Selecção Nacional de Futebol disputado no dia 18 de Dezembro de 1921, foi o concretizar de um sonho de um grupo de entusiastas de uma modalidade que na altura já era a mais popular no nosso País, mas logo ali o evento ficou marcado pela polémica em torno dos futebolistas escolhidos para irem a Madrid representar Portugal, o que até levou a um boicote da parte de alguns jogadores e técnicos do Porto, por considerarem que que havia gente a mais de Lisboa naquela Selecção. Daí para a frente as escolhas nunca foram consensuais, o que não deixa de ser compreensível dada a variedade das opções disponíveis, mas essa discussão regra geral sempre teve motivações clubísticas, resultando daí um notório cuidado em dividir o bem pelas aldeias.

O Sporting esteve quase sempre bem representado nas Selecções Nacionais, logo a começar por Jorge Vieira, que foi o emblemático capitão da equipa das quinas nestes primeiros tempos, mas mesmo no período em que o Clube dominou o futebol português de forma hegemónica, o máximo que conseguiu foi ter 6 jogadores no onze nacional, (7 se considerarmos os suplentes utilizados), pois parecia haver uma espécie de acordo tácito que impedia que fossem mais de 5 os jogadores do mesmo clube na Selecção, uma situação que só teve duas excepções em 1941.

Recordemos que nessa altura o Sporting dispôs de dois quintetos de avançados que ficaram na história pela sua enorme qualidade, para além de jogadores como Azevedo, indiscutivelmente o melhor guarda redes desse tempo, Álvaro Cardoso um defesa que também tinha lugar cativo na Selecção e Canário, claramente o melhor médio direito português da altura, isto entre outros bons jogadores que foram pontualmente chamados à nossa Selecção, de tal forma que o Sporting chegou a ter 11 internacionais no seu plantel.

Curiosamente os famosos Cinco Violinos, só jogaram juntos duas vezes na Selecção Nacional e nessa altura o avançado portista Araújo, chegou a acusar os seus companheiros do Sporting de não lhe passarem a bola para o queimarem, porque preferiam que fosse Vasques a ocupar a posição de interior direito no onze de Portugal.

Na década de 60 a situação inverteu-se, com o Benfica a assumir a posição dominante no futebol português e nessa altura passou a ser normal juntarem-se 7 ou 8 jogadores daquele clube na nossa Selecção. Fernando Mendes e Hilário eram dos poucos que conseguiam entrar nessas equipas, embora no Mundial de 1966 o Sporting tenha sido o Clube com mais jogadores convocados. No entanto o onze base era formado por 5 titulares indiscutíveis do Benfica mais 3 ou 4 do Sporting. Dizia-se que o ataque era vermelho e a defesa verde.

Nos anos 70 a situação agravou-se e, com José Augusto como seleccionador chegámos a ter 11 jogadores do Benfica num jogo da Selecção e 10 a jogar ao mesmo tempo. Foi nessa altura que comecei a acompanhar o futebol pelos relatos e nos jornais, pelo que me deparei com um dilema, pois por um lado eu sentia-me na obrigação de apoiar Portugal, ainda por cima num período onde as noções de pátria eram muito exaltadas, mas por outro, aquilo não era uma Selecção Nacional, era o Benfica reforçado com o Peres e o Dinis e às vezes o Vítor Damas, que por incrível que pareça não jogava sempre.

De resto nessa fase muitos foram os jogadores do Sporting injustiçados nas convocatórias, enquanto qualquer sapateiro que chegasse ao Benfica tinha logo as portas da Selecção Nacional abertas. Era também o tempo em que Portugal nunca se qualificava para as fases finais dos grandes torneios internacionais, pelo que no fim tínhamos de escolher entre o Brasil e a Argentina, ou a Alemanha, a Itália e a Holanda.

Com a chegada de Pedroto ao FC Porto e também à Selecção, as coisas começaram a mudar, embora no apuramento para o Europeu de 1984, Otto Glória tenha jogado com 7 e 8 futebolistas do Benfica, mas depois levámos 5-0 em Moscovo e a Federação teve a ideia peregrina de criar uma comissão técnica, onde tinham lugar os treinadores adjuntos do FC Porto e do Benfica, daí que a escolha das equipas tenha passado a ser um processo negocial complicado. Mesmo assim António Morais lá conseguiu azular o onze nacional e os resultados nem foram maus, numa competição onde Jordão era o representante do Sporting, enquanto Manuel Fernandes foi mais uma vez injustamente excluído.

Depois veio Saltillo e logo a seguir Carlos Queirós revolucionou o futebol português que se emancipou na era da "geração de ouro", marcada por vários jogadores formados no Sporting, com um tal de Figo à cabeça, ao mesmo tempo que as fronteiras se foram abrindo, com os melhores jogadores portugueses a partirem para o estrangeiro, enquanto os nossos clubes eram invadidos por futebolistas de todas as nacionalidades.

O Benfica que fora o último a aceitar jogadores estrangeiros, transformou-se numa verdadeira sociedade das nações, mas então instituí-se uma nova regra na Selecção Nacional, que parecia obrigar à presença de pelo menos um jogador daquele clube em todas as convocatórias.

Foi assim que depois da transferência de João Pinto para o Sporting, entrámos numa fase em que os seleccionadores nacionais tiveram de fazer verdadeiros exercícios de ginástica criativa, para encontrarem um jogador português no Benfica, com condições para pelo menos ser convocado. Caneira, Nelson Oliveira, Rúben Amorim, André Almeida e mais recentemente Eliseu, são alguns exemplos de internacionais feitos à pressa, ou à força, em fases que nada justificava as suas chamadas, a não ser o facto de representarem o Benfica.

Pelo oposição, os êxitos das nossas Selecções nos últimos anos, tem tido invariavelmente a chancela de qualidade da Academia Sporting, não só na equipa principal, geralmente com uma presença de jogadores feitos em Alcochete à volta dos 50%, como também nas equipas mais jovens. Cristiano Ronaldo tornou-se então na grande figura do futebol português e num dos melhores futebolistas mundiais de sempre, no entanto o facto de ser um jogador formado no Sporting e assumidamente sportinguista, reduziu significativamente o eco dos seus feitos em Portugal e até lhe valeu alguns assobios e criticas ressabiadas.

Mesmo assim jogar no Sporting e chegar a internacional A, continua a não ser fácil. Adrien Silva que o diga, ou mesmo Cédric Soares, que precisou de ir para Inglaterra para se tornar titular da nossa Selecção, enquanto do outro lado bastaram meia dúzia de jogos para que Nelson Semedo se tornasse internacional. De resto o mesmo se pode dizer em relação a Gonçalo Guedes, que chegou à Selecção com muito menos serviço mostrado do que um Carlos Mané, ou mesmo do que um Gelson Martins, o que também não quer dizer que estes já tenham justificado a chamada.

A última novidade foi a descoberta do novo mais que tudo do futebol português, um tal de Renato Sanches, que eu ainda só vi jogar duas vezes, fora os resumos onde realmente mostrou qualidades para chegar lá, mas daí a fazerem dele o Ronaldo do Seixal foi só um pequeno passo. Agora só falta convocar um Nuno Santos qualquer, mas não deve demorar muito, afinal ele já jogou 18 minutos pelo Benfica na Liga Portuguesa.



  

Comentários

  1. A academia do Sporting é uma das melhores do mundo, por isso não admira que também tenha uma importância elevada no que diz respeito à formação de jogadores que representem Portugal ao mais alto nível.

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