O mercado de inverno

Talvez eu tenha sido um dos primeiros a acreditar que Bruno de Carvalho poderia vir a ser um bom Presidente para o Sporting Clube de Portugal, mas isso não faz de mim um apoiante incondicional do líder leonino, no entanto não estou minimamente arrependido de ter votado nele e na maior parte dos casos devo dizer que se fui surpreendido, foi pela positiva.

Em 2013 coloquei duas reservas ao programa proposto por Bruno de Carvalho. A primeira tinha a ver com o que me parecia ser uma evidente falta de suporte financeiro, que de resto se confirmou por inteiro, o que só por si torna ainda mais notável o trabalho que esta Direcção conseguiu fazer nessa área, onde perante dificuldades gigantescas obteve resultados até agora excelentes.

A segunda apontava para algumas debilidades nas ideias para a gestão do futebol e principalmente na falta de conhecimentos e experiência da estrutura dirigente escolhida para gerir esse importante sector, que era suposto ser liderado por Bruno de Carvalho, com o apoio de um trio composto Inácio, Virgílio e mais um, que nunca chegou a aparecer.

Mais uma vez aqui confirmaram-se os meus receios e de lá para cá já caíram vários pressupostos que não eram realistas, mas Bruno de Carvalho teve o grande mérito de perceber a importância do cargo de treinador e acertou em cheio nas três escolhas que fez até agora.

Para o ano zero onde eram necessárias algumas cautelas, nada melhor do que um treinador já com alguma bagagem e de certa forma conservador, como era o caso de Leonardo Jardim, que conseguiu resultados que foram bastante satisfatórios, de tal forma que foi com tristeza que comecei a perceber que ele não queria ficar.

No entanto quando conheci o nome do seu substituto, não pude deixar de ficar outra vez muito satisfeito, pois tinha uma grande "fezada" em Marco Silva. Infelizmente o relacionamento entre o novo treinador e o Presidente não foi o melhor, e aqui não quero ressuscitar velhas discussões, pelo que apenas me vou centrar na questão da construção do plantel, que me parece ter estado no centro do problema.

A estrutura do futebol do Sporting assumiu por inteiro a pasta das contratações e no inicio da temporada de 2014/15, não contando com o emprestado Nani, chegaram a Alcochete 10 novos jogadores, dos quais apenas Paulo Oliveira conseguiu um lugar no onze principal, sendo que vários destes supostos reforços, foram parar à equipa B.

Chegada a reabertura do mercado, Marco Silva foi claro quando afirmou que o Presidente sabia o que é que ele queria no que dizia respeito ao reajuste do plantel, mas em resposta Bruno de Carvalho apresentou aquilo que era suporto ser uma lista de reforços, mas que não era mais do que o rol dos jogadores contratados no inicio da época, misturados com outros jovens da equipa B.

No entanto já na altura era mais do que visível que a equipa precisava de um verdadeiro patrão para a defesa e de uma alternativa para Islam Slimani, que ia estar ausente no CAN, mas a verdade é que apenas chegou Ewerton, um central limitado fisicamente, que só começou a jogar em Março, pelo que no fim a festa da Taça de Portugal foi aquilo que se pôde arranjar, o que atendendo às circunstancias já não foi nada mau.

Entretanto o clima tornara-se irrespirável e no final da época o divorcio foi inevitável. Mais uma vez foi com muita pena que vi partir um bom treinador, mas Bruno de Carvalho voltou a resolver o problema da melhor maneira possível, aproveitando a oferta do Benfica para contratar Jorge Jesus.

O Sporting voltava a trocar um bom treinador por outro ainda melhor e, Jorge Jesus pôs rapidamente a equipa a jogar para ganhar, mas confirmou por inteiro o que Marco Silva tinha feito em relação ao entulho contratado no ano anterior, varrendo tudo para o monte dos dispensáveis, ou quanto muito para a equipa B.

De resto Jesus tomou conta do dossier das contratações e apostou essencialmente em jogadores experientes e, se acertou em alguns, noutros nem por isso, mas acima de tudo continuaram a faltar os tais dois elementos chave, pelo que um ano depois os alvos no mercado de inverno voltam a ser os mesmos, só que desta vez quem manda quem sabe e o resto é conversa.

Se as contas não me falham esta gerência já contratou 8 centrais, sem conseguir encontrar o tal patrão que tanta falta tem feito àquela defesa, mas agora chegou um tal de Sebastián Coates e ou muito me engano, ou finalmente acertaram em cheio. É caro mas é bom, vamos a ver se foi desta.

Quanto ao avançado, confesso que nunca tinha ouvido falar deste Hernán Barcos, mas o seu percurso e a sua história não são desprezíveis, pelo que me parece que poderá ser um jogador útil. A ver vamos.

Pelo menos o perfil destes dois jogadores parece-me ir de encontro às necessidades da equipa, o que já é bem melhor do que aquilo que vimos no ano passado recente.

No que diz respeito à venda de Fredy Montero, também não me escandaliza. Foi um jogador útil e não há duvida que era tecnicamente muito bom, mas faltava-lhe espírito de sacrifício, porque isto não pode ser jogar só com a bola nos pés, é preciso correr.

Quanto aos que vieram mais cedo, Bruno César já mostrou ser uma boa contratação, enquanto os dois laterais ainda vão ter de trabalhar muito para ganharem um lugar na equipa, tal com o regressado Rúben Semedo, que vem compensar a lesão de Tobias Figueiredo. No entanto nestes casos tratam-se apenas de pequenos reajustes que nem são fundamentais, pese embora a indesmentível utilidade do brasileiro.

O pior para mim foi a continuidade de Teo Gutierrez, um jogador que não está de corpo inteiro no Sporting e que já mostrou ser um mau profissional, pelo que ou muito me engano, ou só vai trazer mais problemas. De resto nada a dizer sobre maregas e companhia, que na minha opinião pouco acrescentariam à equipa, principalmente se fosse para dispensar o Carlos Mané.

Agora é seguir em frente e esperar que desta vez tal como em 2000, o mercado de inverno tenha sido benéfico para o Sporting.

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